Se me perguntarem se sou contra ou a favor do amor, eu digo que sou contra. Basta um relance à bela da fotografia aqui ao lado e penso que se percebe logo porque é que qualquer pessoa, em seu perfeito juízo, concordará comigo.
Em primeiro lugar, o amor torna as pessoas pirosas. Sorridentes e coradinhas, parecem que vêm da Aldeia da Roupa Branca. Ficam afogueadas, não podemos falar com elas, estoiram de felicidade. Não são produtivas. É mau para a sociedade.
Em segundo lugar, o amor deixa a pessoa muito mal disposta, aquelas dores de estômago que os ingleses descrevem como "borboletas", aqueles nervosos miudinhos, tudo muito esquisito, faz mal à saúde.
Em terceiro lugar, o amor dá azo às mais horríveis e insuportáveis canções pop, excepto todas as canções que os Beatles escreveram sobre amor.
Em quarto lugar, o amor dá azo às mais horríveis e insuportáveis comédias românticas com a Meg Ryan, exceptuando When Harry Met Sally.
Em quinto lugar, o amor dá azo aos mais horríveis e insuportáveis livros escritos por Nicholas Sparks, cujo nome, apenas, chega para a pessoa ficar mal disposta (nem precisa de amor).
Em sexto lugar, o amor dá lugar aos objectos mais inestéticos de sempre. De tão inestéticos, chegam a ser insultuosos - os ursinhos carinhosos, os coraçõezinhos vermelhos por todo o lado, postalinhos muito farfalhudos, de letra rocambolesca, tudo muito "-inho" e feio. Quem é que se lembrou disto?!
Em sétimo lugar, e como dizia Fernando Pessoa, o amor tem a grande capacidade de fazer as pessoas escrever coisas ridículas.
Em oitavo lugar, o amor tem igualmente a grande capacidade de fazer as pessoas dizer coisas ridículas.
Em nono lugar, o amor é piroso. Convém sempre reiterar.
Em décimo lugar, e concomitantemente, o amor é enganoso e matreiro, porque faz as pessoas muito felizes, convencendo-as de que o que estão a sentir é uma coisa boa. A melhor do universo, mesmo.
É triste que uma coisa tão nefasta como o amor tenha a capacidade de fazer tantas pessoas felizes. É uma tristeza, é.
7 comentários:
Onze: o amor é fodido.
O que eu me ri a ler isto. eh eh
a propósito da imagem, do texto e do amor: na minha cidadezinha existe um rio. nesse rio existe um cisne, onde já foram 2. a fêmea morreu e agora só resta o macho, solitário, triste e altivo. parte-me o coração vê-lo sozinho. e parte-me o coração ver, dia após dia, uma pata a perseguir o cisne para onde quer que ele vá. ele à frente, ela atrás, entre o resignada e o obstinada. há lá melhor imagem para traduzir o amor do que aquela? para mim não.
Diz a sabedoria da minha avó de 82 anos: o amor é o cagarra...
Um mal necessário ;))))
Bjs
Lúcio, concordo.
Querida Lia, :* :) (estou a ficar perita nestes símbolos adolescentes, já viste?)
Ana Sofia, a história da pata e do cisne é tão bonita... e triste, também, acho eu, mas, fundamentalmente, bonita.
S.M., concordo, também.
O nefasto e o piroso dos coraçoezinhos vermelhosn não entram no meu amor. O "meu"é um estado mais vasto de encontro. Pode ser no amante, no amigo, no projecto, na coisa que fôr-esse amor nunca me aborrece. O resto são paixõezecas para justificar moralmente os outros desejos
:D ao que percebo, o amor dos outros é que é piroso.
(havia um cisne no Buçaco na mesma situação. Que bicho trágico.)
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