domingo, 11 de janeiro de 2009

Este post é um lugar comum (centros comerciais, consumismos e quejandos)

No espaço de poucos dias, tive a oportunidade de observar não uma, mas duas, criancinhas, que se queixavam aos respectivos pais de que estes nunca lhe compravam nada. Uma chorava, gritando, na caixa de supermercado, "mas tu há uma semana que não me compras nada!", ao que a mãe, empedernida, respondia "pois, temos pena". O outro, ligeiramente mais velho, e desta vez nas escadas rolantes de um centro comercial (foi onde me cruzei com ele), pedinchava "mas compra lá! porque é que não me compras, são só 25 euros. Ó mãe, são só 25 euros!".
Numa tentativa vã de evitar discursos conservadores e perfeitamente estéreis como "quando eu era pequena, ninguém ia tão longe quando pedinchava aos pais, embora pedinchássemos", às vezes imagino as décadas futuras como dominadas por hordas de pequenos monstrinhos desempregados, a clamar, qual Oliver Twist (mas com mais determinação e petulância, coisa que o pobre Oliverzinho não se podia dar ao luxo de ter), please, sir, can I have some more, sir, now sir!, em inglês e tudo, não porque tenham lido o Oliver Twist, mas antes porque agora toda a gente fala inglês logo na primária, portanto o que será daqui a 10 ou 20 anos. Mas isto são apenas fragmentos da minha imaginação, nada que, espero eu, seja minimamente realista.
Quando a peça Shopping and Fucking, de Mark Ravenhill, estreou no CCB, há uns quantos anos, o encenador português que a levou à cena dizia que Portugal, no início do século XXI, atravessava aquilo que o Reino Unido atravessara no fim dos anos 80 e também na década de 90, consumismo desenfreado consequência do liberalismo desenfreado thatcheriano, além de frágeis relações humanas, amoralidade, etc. Talvez sim, talvez não. Gostando muito de Sara Kane, essa sim, que escreve peças tão cruas que custam a ler, e que faz parte da mesma escola de Ravenhill, , o in yer face theatre, devo dizer que não gosto particularmente deste Shopping and Fucking. Já se sabe que as relações humanas são muito vazias e tal, não é de agora. Olha o Hamlet, que teve de aprender isso duramente, e que viveu há que séculos atrás. O Hamlet não teria um centro comercial para destilar frustrações, mas tinha uma caveira e tinha a Ofélia, vai dar quase ao mesmo, porque desde que se destilem frustrações para algum lado, é o que importa.
Bem. Já me esqueci do que queria dizer. Acho que era só mesmo mencionar que, apesar da minha queda para as compras, que a tenho e bem, agora com os saldos então (eu própria sou produto do thatcherismo, liberalismo, capitalismo, etc., tudo muito desenfreado) aquelas criancinhas, já tão cientes de que 25 euros, pelos visto, não é assim tanto, me fizeram um bocadinho de impressão.

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