Eu acho que as pessoas, às vezes, não gostam mesmo nada de mim.
Disse, há horas atrás, a uma amiga minha que em geral não costumo apreciar grandemente filmes sobre histórias de amor (excepção feita a Woody Allen). Ficou a olhar para mim, horrorizada. Também fica a olhar para mim com expressões de repulsa quando eu lhe repito que gosto muito do Exorcista. Uma vez disse a outra amiga que não tinha gostado nada d'As Horas, nem do filme, e muito menos do livro, e também lhe meti nojo. E outra vez também disse a uns amigos que não ia nada, mas é que mesmo nada, à bola com Sigur Rós e aí, bem, caiu literalmente o Carmo e a Trindade, e deixaram de me falar e ostracizaram-me e "baterem-me" (quer dizer, isto sou eu a exagerar, mas ficaram a olhar para mim como se eu fosse uma má pessoa).
A verdade é que as pessoas, todos nós, e eu também, temos ideias pré-concebidas e muito formatadas daquilo que se deve gostar e do que não se deve gostar. É algo semelhante às "duas culturas" que C.P. Snow distinguia - a científica e a humanista, sendo que os que pertencem a uma nada sabem da outra, e depois é um problema e uma vergonha. A nossa vida social também se divide em duas, ou talvez mais, culturas, a cultura caviar das coisas de que se deve gostar, e a cultura parola daquilo de que não se deve gostar (ou então, de que só se deve gostar de forma muito secreta, porque senão é uma vergonha. Os chamados "guilty pleasures"- o inglês dá tanto jeito, não consigo evitar) - como todos sabemos, esta cultura parola rege-se por estereótipos como ir a centros comerciais ao fim de semana, música pimba, Paulo Coelho, ao passo que os esterótipos que me ocorrem para a cultura caviar é dizer que se vai ao King três vezes por semana, ou, de forma mais extrema, descrever o "Branca de Neve" de João César Monteiro como um filme belíssimo (aqui, não posso mesmo concordar. Gosto de muitos filmes de João César Monteiro, mas ouvir as pessoas a dizer, ao sair de "Branca de Neve", que o filme era "extraordinário"... bem). Episodicamente, há elementos que passam de uma cultura para a outra, e, por exemplo, quando o filme português "Aquele querido mês de Agosto" saiu, de forma óbvia apelando à cultura caviar, havia muita gente da mesma cultura a dizer, condescendentemente, que achavam muita gracinha à música pimba.
4 comentários:
Ok, conseguiste fazer-me sentir horrível! Eu, que me gabo de não "ir em ondas", de ter opinião própria e coisas que tais, decobri que sou uma vendida. Gostei imenso de "As Horas" (livro e filme),se as histórias de amor forem mesmo de Amor e não de futilidades cor-de-rosa, adoro. E pronto, cruxifica-me: gosto dos Sigur Rós. Sendo assim, sinto-me uncool. Será grave???
S.M,não é nada grave nem uncool, quem tem um caso grave a resolver e é uncool sou eu, que me ponho a escrever sobre estas coisas. Nem sequer acho Sigur Rós mau, só acho é que o hype todo não se justifica, é só isso. Mas o que eu acho também é irrelevante, não escrevi o texto para ninguém se sentir mal! :)
b concordo que n se justifica o histerismo por causa de uma banda lá das terras frias. Mas acho-lhes piada.
E quanto ao que tu escreves, além de escreveres bem, o teu blogue é a tua casa: levas para lá quem e o que tu quiseres e ninguem tem nada a ver com isso.LOL
Beijinho
É que não podia concordar mais, já pensei muito acerca disso, e acho que tens toda a razão!
Um pouco ridículo, não?!
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