quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Guns of Brixton (o título não tem nada a ver com o post, mas sinceramente este é o melhor título de canção de sempre)

"A good many times I have been present at gatherings of people who, by the standards of the traditional culture, are thought highly educated and who have with considerable gusto been expressing their incredulity at the illiteracy of scientists. Once or twice I have been provoked and have asked the company how many of them could describe the Second Law of Thermodynamics. The response was cold: it was also negative. Yet I was asking something which is the scientific equivalent of: Have you read a work of Shakespeare's?"
C. P. Snow, "The Two Cultures" (citação retirada da Wikipedia, mas a mim parece-me fiável, por acaso)

Eu acho que as pessoas, às vezes, não gostam mesmo nada de mim.
Disse, há horas atrás, a uma amiga minha que em geral não costumo apreciar grandemente filmes sobre histórias de amor (excepção feita a Woody Allen). Ficou a olhar para mim, horrorizada. Também fica a olhar para mim com expressões de repulsa quando eu lhe repito que gosto muito do Exorcista. Uma vez disse a outra amiga que não tinha gostado nada d'As Horas, nem do filme, e muito menos do livro, e também lhe meti nojo. E outra vez também disse a uns amigos que não ia nada, mas é que mesmo nada, à bola com Sigur Rós e aí, bem, caiu literalmente o Carmo e a Trindade, e deixaram de me falar e ostracizaram-me e "baterem-me" (quer dizer, isto sou eu a exagerar, mas ficaram a olhar para mim como se eu fosse uma má pessoa).

A verdade é que as pessoas, todos nós, e eu também, temos ideias pré-concebidas e muito formatadas daquilo que se deve gostar e do que não se deve gostar. É algo semelhante às "duas culturas" que C.P. Snow distinguia - a científica e a humanista, sendo que os que pertencem a uma nada sabem da outra, e depois é um problema e uma vergonha. A nossa vida social também se divide em duas, ou talvez mais, culturas, a cultura caviar das coisas de que se deve gostar, e a cultura parola daquilo de que não se deve gostar (ou então, de que só se deve gostar de forma muito secreta, porque senão é uma vergonha. Os chamados "guilty pleasures"- o inglês dá tanto jeito, não consigo evitar) - como todos sabemos, esta cultura parola rege-se por estereótipos como ir a centros comerciais ao fim de semana, música pimba, Paulo Coelho, ao passo que os esterótipos que me ocorrem para a cultura caviar é dizer que se vai ao King três vezes por semana, ou, de forma mais extrema, descrever o "Branca de Neve" de João César Monteiro como um filme belíssimo (aqui, não posso mesmo concordar. Gosto de muitos filmes de João César Monteiro, mas ouvir as pessoas a dizer, ao sair de "Branca de Neve", que o filme era "extraordinário"... bem). Episodicamente, há elementos que passam de uma cultura para a outra, e, por exemplo, quando o filme português "Aquele querido mês de Agosto" saiu, de forma óbvia apelando à cultura caviar, havia muita gente da mesma cultura a dizer, condescendentemente, que achavam muita gracinha à música pimba.

Há coisas genuinamente más, lixo absoluto e fétido de que é impossível gostar, e não é paternalismo nenhum dizer que não se gosta de lixo (televisivo, literário, musical, etc.). Há coisas que, pelo contrário, são magnificentes e de que toda a gente gosta. Se há alguém que não goste, é porque ainda não perdeu tempo suficiente a apreciar. E depois há as coisas que estão no meio, entre o fétido e o magnificente. Normalmente, é sobre as coisas que estão no meio que as opiniões se dividem, dando origem ao grupo das pessoas cool e ao grupo das pessoas menos cool. A gente pensa que isto dos grupos acaba quando se ultrapassa a adolescência, mas infelizmente não, fica para sempre. As pessoas são assim.
Irrita-me um bocadinho. Infelizmente, não tenho uma conclusão mais inteligente do que esta a retirar desta história toda.

4 comentários:

S.M. disse...

Ok, conseguiste fazer-me sentir horrível! Eu, que me gabo de não "ir em ondas", de ter opinião própria e coisas que tais, decobri que sou uma vendida. Gostei imenso de "As Horas" (livro e filme),se as histórias de amor forem mesmo de Amor e não de futilidades cor-de-rosa, adoro. E pronto, cruxifica-me: gosto dos Sigur Rós. Sendo assim, sinto-me uncool. Será grave???

Rita F. disse...

S.M,não é nada grave nem uncool, quem tem um caso grave a resolver e é uncool sou eu, que me ponho a escrever sobre estas coisas. Nem sequer acho Sigur Rós mau, só acho é que o hype todo não se justifica, é só isso. Mas o que eu acho também é irrelevante, não escrevi o texto para ninguém se sentir mal! :)

S.M. disse...

b concordo que n se justifica o histerismo por causa de uma banda lá das terras frias. Mas acho-lhes piada.
E quanto ao que tu escreves, além de escreveres bem, o teu blogue é a tua casa: levas para lá quem e o que tu quiseres e ninguem tem nada a ver com isso.LOL
Beijinho

Lua disse...

É que não podia concordar mais, já pensei muito acerca disso, e acho que tens toda a razão!
Um pouco ridículo, não?!