terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Songs for Drella



Estou hoje a escrever não para me pronunciar sobre Obama e respectiva tomada de posse, mas antes para me pronunciar sobre este Songs for Drella, um dos meus álbums preferidos. Interessei-me por ele numa altura em que gostava mesmo muito de Andy Warhol, e sendo Songs for Drella (mistura de Dracula e Cinderella, alcunha de Warhol) uma "ficção" musicada sobre a vida do senhor pelos grandes Velvet Lou Reed e John Cale, ouvi-o do princípio ao fim. Agora, que o meu interesse por Warhol é já mais limitado, gosto deste álbum apenas e só pela música que, diga-se de passagem, não é exactamente uma "ficção" - desde o nome dos gatos de Warhol, até ter levado com um tiro da Valerie Solanis, passando pelas maleitas de que era acometido e onde vivia em Nova Iorque, está aqui tudo.

Há verdadeiras pérolas, neste álbum. A mais preciosa é, para mim, Open House, uma canção linda sobre a solidão (um privilégio e um tormento, ao mesmo tempo). Está disponível no Youtube, quem não conhecer e quiser conhecer pode ir procurar.


A segunda é este Small Town, vídeo infra, que narra a infância mediana do pequeno Warhol em Pittsburgh. Tem um verso de que sempre gostei - "When you're growing up in a small town, you say no one famous ever came from here. There's no Michelangelo living in Pittsburgh". Isto era, mais ou menos, o que eu pensava acerca de Portugal quando era pequena - "porque é que todas as pessoas conhecidas nunca são portuguesas?". Se calhar foi isso, inclusivamente, que me traumatizou, ser de um país relativamente ao qual o resto do mundo parecia ser indiferente. E ainda é, pelos vistos, com grande pena minha.

A canção é muito engraçada, tem também referências a Truman Capote (outro que veio da parvónia e se tornou "famoso", e que Warhol admirava), e algumas observações sensatas, como por exemplo "if they stare, let them stare at New York City", coisa com a qual eu concordo. No fundo, Small Town é uma reflexão sobre a fama, sobre querer que o mundo repare na nossa genialidade (o que, aliás, Obama deve perceber bem, para puxar um bocadinho o assunto do dia - a grande operação de marketing que montou e que o aproximou de uma rock star, com aquele Yes We Can, musicado por uma data de celebridades, não será inocente). O John Lennon disse, numa entrevista, ter sentido algo semelhante quando era pequeno. Ele sabia que era um génio enquanto criança; porque que é mais ninguém reparava? Felizmente, e no caso de John Lennon, as pessoas perceberam a tempo.
Há outras canções muito boas (gosto muito do Style It Takes, por exemplo), verdadeiras reflexões sobre a mistura entra a vida e a arte , mas estas duas são preciosas.

E é isto, hoje não tenho grande coisa a dizer, nem a escrever e nem a pensar. As terças-feiras matam-me.



2 comentários:

Unknown disse...

Enorme disco!

Anónimo disse...

sou apaixonado por esse disco. Sou professor de inglês aqui no Brasil e uso esse CD em minhas aulas. É a melhor música com a melhor letra