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quinta-feira, 29 de março de 2012

É que não há hipótese

No outro dia, estava a dar o Reality Bites na televisão, e lá fiquei eu especada a ver. Este homem, para mim, é um íman. Pronto, entre mim e ele há uma grande barreira que é um écrã de televisão ou cinema, mas fora isso, é um íman. Ainda por cima, no Reality Bites ele faz de cínico adorável e filosófo, tão pretensioso, e eu em vez de me irritar continuo a adorar como no primeiro dia, principalmente quando ele olha directamente para a câmara e diz "nobody can eat fifty eggs". Tão pretensiosozinho, tão fofinho. Ai, ai.



segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A pessoa sabe que está velha quando:

...a nossa pequenina afilhada de 7 anos diz que sabe muito bem quem é o Rui Reininho - é "o velhote da Voz de Portugal".
Rui Reininho, o meu homem, não só "velhote" como também "da Voz de Portugal".
Custou ouvir.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Gajo que faz mesmo o meu estilo: Anthony Bourdain

Comecei a ver o programa deste senhor, "No Reservations," na SicRadical, e a princípio achava aquilo um bocado parvo, porque este Tony tem a mania de que é um rebelde mal comportado, drogas e tal, ex-portador de brinco na orelha e cigarro ao canto da boca, e tudo se conjugava para que eu o considerasse um bocado falso, ou com a adolescência mal ultrapassada. Depois percebi que ele é mesmo assim - é o chamado "cool". E , ainda que de facto insista demasiadamente na sua veia de rebelde com pouca causa, este homem é mesmo um fixe. Viaja e come com um prazer que me parece sincero, e interessa-se genuinamente pelos sítios que visita, pela comida que prova. Aprecia tudo, mesmo comida rápida, desde que seja boa. Uma vez, vi-o a provar uma sanduíche gigante, com meio quilo de bife, queijo derretido, salsichas, ketchup, salada, tudo lá para dentro, e, enquanto a degustava, dizia: "Este é o antídoto para a Alice Waters". Lindo.
Portanto, tudo o que seja delicodoce, levezinho, e chato como tudo, o Tony não gosta. A comida é para a gente gostar. Sempre que me vêm falar de comida assim e assado, ah, porque é mais saudável assim, ah, porque é mais "bio", ah, porque tem muito sal, eu respeito, sim; respeito, e levo a sério, porque, por exemplo, há determinados assuntos, como o tratamento que se dá aos animais que depois consumimos, que devem ser também levados a sério. No entanto, a onda da comida asséptica e queridinha tipo Jamie Oliver (e eu gosto do Jamie Oliver, a sério que gosto) irrita-me. Acho que só pensa em comida como se fosse uma mercadoria qualquer da moda quem nunca comeu verdadeiramente bem - e isto facilmente explica a proliferação de programas culinários fofinhos na televisão inglesa (atenção ao adjectivo gentílico), ele é Jamies, ele é Nigellas, ele é Gordon Ramsays, uns que cozinham na natureza com produtos biológiocos, outros que vão à caça, outros que fazem desafios culinários a ver quem cozinha mais depressa e melhor, tudo como se a comida, ou o acto de comer, fosse uma espécie de cristais Swarovski, não propriamente diamantes, mas algo que convém usar, ou ter em acessórios ou "bibelot" porque dá aquele toque de classe, um certo je ne sais quoi - em vez de vinagre Cristal, um balsâmico; em vez de mozarella, que também já cansa, um queijinho burrata, nome deslumbrante; em vez da tasca da esquina com bebida+prato+café a cinco euritos, porque não um gourmet low cost, onde se come alheira à mesma, mas assim como assim é mais caro, ainda que low cost - é a beleza da coisa. E é bom, em podendo, uma pessoa marcar bem o seu lugar na sociedade - a comida serve também para isso, e por mim está tudo bem, afinal, se passámos por uma ditadura, depois por uma revolução, e por tantas amarguras, já ganhámos o direito a ser finalmente burgueses, toca a aproveitar.
No entanto, tenho para mim que quem gosta de comer bem  identifica-se com certeza com o Tony, que gosta de qualquer prato desde que seja bom. Se é ou não vegetariano, se é ou não saudável, ou gourmet, disso ele já não quer saber, e pelos vistos tem-se dado bem, porque basta olhar para ele e ver que é um indivíduo todo jeitoso. Além disso, o Tony vai aos sítios, a países diferentes, e tem um olhar bem mais interessante, e bem mais profundo, do que o dito Jamie Oliver, que de vez em quando também viaja e acaba sempre por cozinhar a mesma coisa, sem grande esperteza para aprofundar costumes ou peculiaridades da região. Por exemplo, uma vez foi à Grécia e cozinhou bife de atum (!) na praia. É que me deu logo vontade de ir ali à Madeira, por exemplo, onde têm uma coisa mais ou menos parecida (só mais ou menos) e parecendo que não, sempre sai mais em conta do que ir agora apanhar avião para ir experimentar essa iguaria rara e super-grega, aliás, tipicamente grega, que é o bife de atum.
Mas não vou bater mais no ceguinho, ou como quem diz, no sopinha-de-massa, que o Jamie Oliver tem muito mérito, não é pretensioso e preocupa-se com aquilo que os miúdos comem nas cantinhas e tal. No fundo, o meu propósito era apenas e só dizer isto: gosto muito do Tony Bourdain porque, tendo sido chef profissional, tem autoridade na matéria e gosta de qualquer comida pelo prazer que a comida dá (além disso, escreve bem; estou agora a ler um dos seus livros, Kitchen Confidential, e estou a gostar bastante). 
Não me parece que a comida deva ser mais ou menos do que isto - um prazer da vida. 

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Livros que engatam

Este artigo da Slate é engraçado - o autor interroga-se de como serão as suas futuras possibilidades do chamado engate quando toda a gente se converter aos livros electrónicos, em grande detrimento do livro em papel; como se diz no título do artigo, deixamos de poder julgar as pessoas pela capa, o que causa problemas consideráveis quando estamos naqueles momentos de indecisão, "avanço ou não avanço", "digo ou não digo", e etc. Momentos, aliás, que já na sua essência se revestem de stress insuportável, stress esse que um bom livro, como tema de conversa, ajudaria a dissipar. Se nem sequer isso existe, o engate está condenado.
Devo dizer que me entristece. Entristece-me porque o meu sonho foi sempre ser alvo de uma interpelação daquelas super-intelectuais e com imenso nível no autocarro ou no metro. Acho que há uma certa magia em entrar na carruagem, sentarmo-nos no banco, e haver ali um tipo que, só por acaso, pode parecer-se com este outro indivíduo:

e, dizia, esse tal indíviduo dar-se ao trabalho de reparar no que estamos a ler, só depois olhar para o resto, e pensar, "bem, que criatura magnificente, a única no mundo que lê aquele livro, o livro que eu sempre quis ler e nunca consegui mas que agora vou com certeza acabar, que ser glorioso é este que adoça os meus olhos e que nunca mais vou esquecer, vou já entabular conversa e falar de coisas terrivelmente interessantes, exposições, arte, música, poesia".
E depois o indivíduo, que se parecer com este também está optimamente:
e, continuando, o indíviduo que a gente conhece no metro é culto, culto, giro, giro, já leu tudo o que havia para ler excepto, é claro, o livro que nós próprias estamos a ler, conhece os restaurantes todos, cozinha muito bem e não se importa nada de ser ele a cozinhar todos os dias sem excepção e lavar ele a louça. E que pena, pensamos nós, dada a sorte inacreditável de termos conhecido um elemento do sexo masculino deste calibre, já termos encontrado o nosso "tal", mas pronto, a vida é assim e há que fazer escolhas. Sorte macaca, se ao menos tivéssemos começado a ler o livro uns anitos mais cedo, mas pronto, vivendo e aprendendo.
E assim se vê como um livro pode perfeitamente transformar a nossa vida, radicalmente.
Vem este encadeado de parvoíces acompanhado de uma pergunta que levanto à minha própria consideração, e que é: quais são, então, os melhores livros para causar "a" impressão? Por exemplo, tenho para mim que o Guerra e Paz não é um desses livros. Não é, há que ter paciência. Se eu visse este indivíduo:


a ler o Guerra e Paz, talvez eventualmente desferisse uns olhares de soslaio, mas sinceramente, rapidamente me desinterassaria, porque ler o Guerra e Paz publicamente dá a ideia que, ou a pessoa o lê por obrigação para um qualquer curso, ou se está a esforçar demasiado. Preconceito? Será, mas a vida é assim, uma cruz muito grande a carregar. Já o Crime e Castigo - excelente opção. Livro fundamental, repleto de temas de conversa, personagem principal impressiva, nervosa, com um grande nome (Raskolnikov é de facto inesquecível), de modo que sim senhora. Crime e Castigo no metro está muito bem. No caso das raparigas, estou igualmente convencida que Sylvia Plath é sempre uma escolha muito segura e com margem de erro mínima ao nível de impressionar o outro. Melhor ainda - deixar o Ariel "esquecido" na mesinha de café, quando alguém lá vai a casa. Não me estou a lembrar de um efeito melhor do que este, embora alguns, de carácter mais implicante, possam considerar que não passa de um cliché. Eu acho que está óptimo, talvez apenas ultrapassado pelas Birthday Letters do Ted Hughes, que eu acho que é um livro com muita classe, acho, pronto. Metro, mesa de café, autocarro, vai bem em todo o lado e adapta-se a qualquer tipo de situação, devido à sua temática agridoce.

Para os rapazes, tenho mais dificuldade em falar em geral, porque apenas posso dizer o que me impressiona a mim. Normalmente, um Lorcazinho cai sempre bem, seja poesia, seja peça, seja ensaios sobre. Tudo o que meta Lorca, no caso dos homens, é usar e abusar, que é coisa de estilo, de leitor exigente. Ultimamente, a tendência concentra-se em Jorge de Sena, portanto não deve haver aqui medo de usar profusamente, e autores portugueses vão sempre bem. O Bukowski, o Kerouac, o Hunter S. Thompson, o ubíquo Philip Roth, para rapaz, sinceramente, é como o rissol e o croquete, começa a estar um bocadinho estafado, começa a cansar um bocadinho. Coisas novas, coisas frescas, é o que se quer - uma Carson McCullers; uma irmã Bronte (escolher uma de três); uma Daphne du Maurier; um Great Gatsby; um Trumanzinho Capote; eis aqui algumas tendências, que de velhas se fazem novas, que eu acho que os rapazes, para impressionar as indígenas, poderiam começar a prestar atenção.
Isto sou só eu a pensar. Quem tiver opções de bons livros para engate, é favor dizer, que esta temática apraz-me. Sem outro assunto, despeço-me atentamente.

segunda-feira, 22 de março de 2010

terça-feira, 9 de março de 2010

Pinta


Da mesma forma que há coisas intrinsecamente más, também as há intrinsecamente boas. Como por exemplo, Marlon Brando, mais concretamente na cena da varanda no Eléctrico Chamado Desejo (doravante "Streetcar", que é como eu gosto de me referir a este filme, que sou pessoa de tu-cá-tu-lá).
Não me parece que alguém possa ficar indiferente a Brando (em novo), nem mesmo homens, embora compreenda que alguns sintam a necessidade de não o admitir. Nada tem a ver com preferências íntimas ou falta delas - tem a ver com o facto de algumas pessoas, homens ou mulheres, terem um magnetismo indelével, inegável, inultrapassável. Aquele tipo de pessoas à volta das quais os outros giram como pequenos satélites deslumbrados. Muitas vezes, estas pessoas nem sequer são muito bonitas, de feições perfeitas e imaculadas. Às vezes, até são feias. Mas, como diria o Nelo, personagem do grande Herman, acerca de si próprio, "têm muito poder".
E são estes, até, os casos mais interessantes e profundos de atracção - os feios com pinta.
Não era o caso de Brando, porém. Era deslumbrante com pinta. Teve sorte, nada a fazer.



terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Um-do-li-tá...




Que escolha difícil, difícil, difícil...que desgraça, se todas as decisões na vida fossem assim.
Belíssima série, este True Blood.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Coisas que acontecem às boas meninas que, em vez que irem para o céu, vão viver com o Tom Waits (à partida, uma boa ideia)



- Passa-me um cigarro.
- Não, que são 8 da manhã.
- Passa-me a merda do cigarro, deves achar que és minha mãe. Aproveita e tira um para ti também.
- Ah, está bem. Realmente, não há lei nenhuma a dizer que não se pode fumar às 8 da manhã, pois não?
- (riso sarcástico) E se houvesse, qual era o problema?
- (sorriso envergonhado) Nenhum...
- Ai, tu vives tanto de regras... ora agora passa-me aí o whisky.
- Não, que ontem bebeste uma garrafa inteira.
- Não fui eu, foi o piano.
- Não, foste tu, e precisas de sair e de cortar esse cabelo.
- O piano é que precisa. Para que é que queres que eu corte o cabelo? Não fico mais bonito, deixa estar. Passa o whisky. Aproveita e bebe um copo, também.
- Está bem. Realmente, não há lei nenhuma a dizer que não se pode beber whisky às 8 da manhã, pois não?
- Mesmo que houvesse, qual era o problema?
- Nenhum...
- Já bebeste bem?
- Sim. Agora vou contar-te todos os meus segredos.
- Mas vais mentir-me sobre o teu passado.
- Sim. E mandar-te para a cama para sempre, que já são 8 da manhã e são mais que horas de dormires qualquer coisa.
- Primeiro dançamos um tango até doer.
- Está bem. realmente não há lei nenhuma que diga que não se pode dançar o tango às 8 da manhã, etc.
- E mesmo que houvesse, qual era o problema?
- Nenhum...
Etc.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Problemas de adjectivação


A cena mais cool do cinema talvez seja esta, de North by Northwest, do grande Hitchcock. É um grande filme, e a cena do avião é extraordinária. No entanto, e sendo grande admiradora de Cary Grant a fugir do avião sanguinário, o que queria verdadeiramente confessar é este imenso lugar-comum de considerar Cary Grant um doce, um gentleman, tão elegante, tão chique, como diria Dâmaso Salcede. É mesmo o homem ideal para a pessoa ir ao restaurante, um homem tão distinto, tão fino. Tornei-me fã depois de ter visto Notorious, também de Hitchock, em que o Cary entra pela casa do mau adentro e resgata a sua Ingrid Bergman, que lá estava aprisionada. Ela está doente, ou meio drogada, e não se consegue mexer, e portanto Cary pega-lhe ao colo, ignora as ameaças do mau, e salva-a. É a Cinderela dos tempos modernos, uma coisa linda.

Ainda por cima, e ao que tudo indica, Cary Grant era um bom homem; eu sou aquele tipo de pessoa que se vai informar, e as informações que me constam é que o Cary casou com a Barbara Hutton, uma milionária abandonada e infeliz, que teve uma série de maridos, entre os quais Cary Grant, e que este foi o único que se preocupou com ela e a tratou bem(isto são, obviamente, informações muito fidedignas e que nada têm a ver com coscuvilhice). Pois é.


Ai, ai... suspiro. Após escrever este post, com respectivas fotografias, a questão que agora me ocupa a mente é: era Cary Grant um bom homem, ou um homem bom?

terça-feira, 16 de junho de 2009

Este post é para "gajas"

Estou ocupadíssima, com imensas questões a resolver. A mais importante de todas elas, assunto capital de grande filosofia, e que ocupará o meu serão, é a de saber se escolho o primeiro ou o segundo:




Todas as terças-feiras, por volta das 10 da noite, esta questão paira na minha mente, e nunca a consigo resolver.
O primeiro deve saber arranjar muitas coisas em casa, mas, por outro lado, é um assassino profissional.
O segundo é médico.
E configura-se assim um caso clássico de se saber racionalmente que a escolha mais acertada é o segundo, e não se fica nada mal servida, mas de o coração pender para o que está por cima. Mente vs coração.
Este Saiyd, pá.
Quando esta série acabar, não sei o que faço à minha vida.


sexta-feira, 12 de junho de 2009

Janeca Limão


Este homem é quase um Chaplin. Vi-o em O Apartamento, com Shirley McLaine, e adorei-o. Jack Lemmon é agridoce na perfeição; consegue o equilíbrio perfeito. Tem uma expressividade que me parece rara - todos os seus movimentos acompanham o sorriso, ou a tristeza. Faz-me mesmo lembrar o Chaplin. Muito, muito bom. Quase tão bom como o seu diálogo final, em Quanto mais quente melhor, em que Jack Lemmon diz ao seu incauto pretendente, Osgood, I'm a man!, apenas para receber como resposta well, nobody's perfect.
Um doce, este homem.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Já tenho muitos anos, que os fiz por Janeiro, madrinha casai-me com Leonard Gaiteiro


Penso, às vezes, numa coisa muitíssimo importante e realista que é: se tivesse de escolher entre Corto Maltese e Leonard Cohen, quem escolheria?

O meu homem de sonho é Corto Maltese, mas, por razões óbvias, não é o meu namorado de sonho.

O meu namorado de sonho é Leonard Cohen (e também homem de sonho a seguir ao Corto, mas, uma vez que o L. Cohen envelhece e o Corto não, enfim, o Corto aqui tem vantagem, não é, não posso fazer nada). Este homem é o meu namorado de sonho. Bonito (que dizer, não é propriamente bonito, o Leonard; é melhor ainda, diria eu, é o chamado "interessante"), inteligente, voz calma e profunda, canta bem, sensível, poeta, politicamente empenhado, do lado certo da história, bonito, de certeza que é bem-educado, bonito, já disse bonito, não já?

Tenho uma visão frequente, que é eu estar sentada no sofá e o L. Cohen à guitarra a compor canções para mim, a dizer que eu lhe dou chá e laranjas da China, a dizer que eu sou o Steve McQueen e ele é o Rin-Tin-Tin, porque rima e é engraçado, a perguntar-me "do you need to hold a leash to be a lady?", e eu a responder, "não!", a dar-me uma linda gabardina azul para eu vestir todos os dias em que chova. Que famosa gabardina (ou gabardine?) azul que o Leonard me daria.

O Leonard é um trovador. Nunca me vou recompor de ter perdido o seu concerto em Lisboa, nunca, nunca, nunca. Ainda nem o conheci, e já tenho o coração partido. Se calhar, não é bom sinal.










Hey, Thats No Way to Say Goodbye - Leonard Cohen

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Gajo com pintarola: Jarvis Cocker

Quando estou com uma leve neura, e reconhecendo que nada há a fazer senão lidar com esta maleita, gosto de ouvir Pulp e, em particular, o subtilmente cáustico, pouco composto Jarvis Cocker. Gosto do seu ar enfezado, magro, de dandy descomposto que não quer saber, embora queira, e por isso simpatizo com ele. Gosto das letras dos Pulp, umas narrativas working class do norte de Inglaterra, aquele castanho opressivo de Sheffield, as personagens sempre perdedoras logo à partida, a vida leva a melhor e nós não, restam-nos apenas as canções para conseguirmos alguma alegria. Lembro-me, por exemplo, de um pormenor de "Disco 2000", canção do primeiro álbum dos Pulp, muito convenientemente chamado Different Class, em que se fala de uma rapariga apropriadamente chamada Deborah, que vivia numa casa muito pobre, "with wood chip on the wall". Chega para percebermos com exactidão quem é esta Deborah e que tipo de vida tem ela. É isto de que também gosto nos Pulp, a carga narrativa das canções. Muitas delas contam uma história do princípio ao fim, metem personagens que agem de certa maneira e a gente consegue perceber aquilo tudo. Eu gosto disso, das canções que cantam e contam uma história, como tantas do Leonard Cohen ou do Bob Dylan, por exemplo.

Acho que o Jarvis Cocker cultiva, ou cultivava, pelo menos, a imagem pop desleixada, do perdedor encantador que aprendeu a aceitar a supremacia do mundo sobre a sua pobre, irredutível desilusão. Há algum romantismo naquilo que ele canta, mas um romantismo muito pouco sonhador, muito duro. Ele sabe que a vida é assim.
Por isso, Jarvis faz bem à neura.




Nota final para efectuar um pedido. A canção que o Jarvis canta neste vídeo (que eu por acaso acho muitíssimo giro, tenho tendência para gostar muito, muito do East End londrino e o vídeo está cheio de referências a isso), dizia, a canção Don't Let Him Waste Your Time também é cantada pela Nancy Sinatra. Ouvi a versão da Nancy uma vez e nunca mais a consegui apanhar, nunca a vi em lado nenhum, volatilizou-se da minha vida. Se alguém por acaso souber como a encontrar (já tentei fazer download perfeitamente legal, mas a Mula também não tinha nada), e se me quiser informar, deixo desde já aqui, e mais uma vez, um grande bem-haja do coração.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Gajo com pintarola: Johnny Cash

Vou deixar o vídeo falar por si. Este concerto em Saint Quentin é o máximo! Merece ponto de exclamação e tudo.





Também deixo aqui uma das minhas absolutas favoritas de Johnny; não deixo o vídeo porque é imensamente foleiro, cheio de celebridadezinhas a quererem ser "fixes" e a fingir que cantam a música, para ver o seu nome associado postumamente a Johnny Cash. Deixo só a lindíssima, épica canção que reza "tell them that God's gonna cut them down" (a letra é de uma sonoridade, de uma imagética espantosa, acho eu - I've been down on bended knee, talking to the man from Galilee, he called my name and my heart stood still, for he said, John, go do my will).









Gods Gonna Cut You Down - Johnny Cash

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Tu quoque, Nicola


Tenho uma desilusão profunda, ou pelo menos considerável, que se chama Nicholas Cage. Normalmente, nunca me lembro desta desilusão, mas há dias como o de ontem, em que estava a dar a "Cidade dos Anjos" no Hollywood, em que a minha amargura provocada pelo Nicholas se adensa. Vê-lo a representar num filme que merecia ganhar o prémio pela pior e mais horrível e pirosa adaptação de sempre de um grande filme já é doloroso; vê-lo a sorrir com ar de parvo absoluto, a fazer de anjo, é insuportável.

De modo que a minha pergunta é: porquê? Também tu, Nicholas, também tu te vendeste. Eu, que te adorei a fazer de Sailor nesse filme assombroso que é Wild At Heart, quase que me apaixonei por ti, eu que adorei o teu discurso quando ganhaste o Óscar (qualquer coisa como "sei que não está na moda dizê-lo, mas espero que se continue a apoiar o cinema independente"), tu que tinhas (e tens) essa maneira lenta de falar, vagarosa, esse olhar meio tolo e inocente, essa rosto feioso de bom rebelde, aquele casaco de pele de cobra quando levavas a Laura Dern a dançar, esses maneirismos à Elvis tão engraçados, para onde é que isso foi tudo?! Que tenhas feito o Face Off, digo-te já que não só percebo, mas até concordo. Se bem que achei mal teres deixado que o John Travolta tenha representado bem melhor do que tu, mas pronto, o filme vê-se bem, é giro, estavas a experimentar coisas novas. O Con Air já custou mais a aceitar, mas pronto, afinal também estavam lá bons actors, o Malkovich, o Cusack (sweeeeeet), o Buscemi, e o filme é um filme de acção que também se vê bem. Agora - a Cidade dos Anjos?! Aquela porcaria do Tesouro?! Mas o que é que te deu? E depois tentas compensar com coisas mais ou menos independentes mas que também não são boas, que confundem ser seca com "ser indie", tipo Weather Man. Embora admita que, naquele filme em que vendes armas, não me lembro agora o nome, estavas bem. Mas começa a ser excepção.

Se tu soubesses as saudades, as saudades que eu tenho de ti como Sailor, as saudades de te ver a fumar, a acender o cigarro (o Wild at Heart fez-me desesperadamente querer fumar para ter um ar todo cool, mas não fumo e não tenho um ar cool porque sou doentinha, sou tísica, e os cigarros
dão com certeza cabo de mim), as saudades desse ar de quem se está a marimbar mas tem bom coração, as saudades de te ver como nesta fotografia, olha para ti na fotografia, estás o máximo, mas agora já não és o máximo, agora és parvo como os outros.
Nunca devias ter saído do Wild at Heart. Devias lá ter ficado para sempre. Já que não posso dizer "Sailor and Rita forever", que seja "Sailor and Lula forever". Ouviste?

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sábado, 13 de dezembro de 2008

...embora bonitos também tenham o seu encanto







.... também não são de se deitar fora, não senhor.

Os homens não se querem bonitos.

Para mim, é olhar para estes espécimes aqui ao lado para confirmar plenamente que homens feios com pinta batem, de longe, qualquer Brad Pitt. Não que eu tenha alguma coisa contra o Brad Pitt, mas é muito mais interessante a beleza que se revela, em pleno, sob uma apenas aparente fealdade.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Nota mental 2: com o Corto Maltese não resulta, mas e com Marlon Brando...?

- Olha, Marlon, tu só queres andar aí no engate e nos copos, não é? Então põe-te daqui para fora e é já.
- Olha... essa é boa. Eu não vou a lado nenhum.
- Ai isso é que vais, pegas nas tuas coisinhas e rua.
- Então vou, tudo bem. Deves achar que eu quero saber. Pensas que vou ter saudades tuas, não é?
- Pois penso.
- Isso querias tu. Tenho os meus amigos, não preciso de ti para nada.
- Então ainda bem para ti. Andor.
E vai-se embora. Passadas algumas horas (não meses, não anos: horas), estou confortavelmente em casa a descansar quando ouço uma voz lá em baixo na rua, aos gritos. Vou à varanda. É o Marlon que voltou, de ar perdido, lacrimejante, que me grita à varanda, a acordar a vizinhança:
-Ritaaaaaaaaaaaaaaaaaa! Ritaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!
Olho para ele. Chora. Soluça. Está desesperado sem mim. Tem a T-shirt rasgada, revelando o peito bronzeado, de contornos bem definidos. Reconheço que é razoavelmente inteligente e de atributos físicos toleráveis, mas quer dizer, nada de especial, nada que não se veja todos os dias por aí, ou por outra: arranja-se melhor.
- Olha, querida, quando me conhecestes, tu pensastes que eu era um bocado para o ordinário, não pensastes? Pois, e tinhas razão. Eu era mesmo meio coiso. Tu mostrastes-me uma fotografia toda bem composta, tu lá em cima das colunas, mas eu fui e tirei-te do pedestral, não tirei? Tirei-te do pedestral e tu adorastes, não foi? E fomos felizes ou não, querida? Fomos ou não fomos?
- Credo, Marlon, essa gramática, ai essa gramática ... mas pronto, já que insistes...

A razão para esta conversa toda é que o Marlon é um tipo que faz muito o meu estilo, mas apenas porque, em inglês, ele dá menos erros de gramática. Aquela T-shirt justinha, rasgada... nem sequer vem ao caso.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Nota mental: não apaixonar por Corto Maltese


- Olha, Corto, eu agora tenho de ir para a faculdade, mas depois quando voltar podíamos ir jantar fora.

- ...

- Não queres?

- ...

- Então? Estás mal disposto? Queres ficar em casa?

- É que...

- Diz.

- É que... o mar...

- O que é que tem o mar? Queres ir ali a Santa Cruz, é isso?

- Não, é que... olha, não és tu, sou eu.

- (Pronto. Bonito)

- O mar... eu... tu quando me conheceste já sabias. Eu sou marinheiro. Eu vivo a viajar, a perder países. Uma aventura em cada porto. Não vai dar. Tenho de ir.

- Então ... e .... e o resto... e tudo...

- Então mas e tudo o quê? Também, isto só dura há um mês. Olha que um mês já é muito para mim, tu sabias perfeitamente quando me conheceste.

- Ó pá, para lá com isso, "sabias perfeitamente, sabias perfeitamente", que estupidez!

- Tu é que és estúpida.

- Não, tu é que és, aliás, sabes o que é que tu és? És mas é um grande estúpido.

-Não, tu é que és.

- Não, tu é que és.

- Não, tu é que és.

- Não, tu é que és.


Já nem sei quem é que está a falar (devo ser eu, convém que a última palavra seja minha). Adoro Corto Maltese. É aventureiro, inteligente, bonito, está sempre do lado certo da História, toma o partido dos indefesos e dos rebeldes. Adoro o traço firme, carregado, cinematográfico de Hugo Pratt.

Mas ainda bem que nunca me apaixonei por Corto Maltese.