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sexta-feira, 23 de março de 2012

Cheira bem, cheira a Lisboa

Esta notícia é de uma idiotice tal que não resisti a vir aqui ao blogue anunciar a referida idiotice. Por onde começar? Desde o pai que, aparentemente, não tem nada de melhor para fazer, nem assuntos relativos à educação do filho mais prementes em que pensar, do que uma canção que este aprendeu na escola de apoio ao Benfica; até à indignação ridícula do FCP. E digo ridícula porque as expressões que os representantes do clube utilizaram ("professora ayatollah", "fascistas do gosto", "proselitismo") obrigam-me a chegar a uma conclusão digamos que bifurcada: ou estes senhores do FCP têm um profundo e indesculpável desrespeito por situações de efectivo proselitismo e fascismo, o que é provável, ou pura e simplesmente precisam de consultar mais vezes (uma só vez já chegava) um dicionariozito da língua portuguesa, para aprenderem o que as palavras que utilizaram querem de facto dizer. Também se pode dar o caso, e é esta uma hipótese que me ocorreu agora mas que é tão plausível que nem sei por que não me lembrei dela antes, de serem tão irredutivelmente obtusos que nem um dicionário os salve. 
Há uns largos anos, a Madona quis que o Papa lhe baptizasse a filha. Nuym rasgo de lucidez e sensatez, qual Cristiano Ronaldo ("pens'queeee revelei lucidez, sensatez"), a Santa Sé respondeu, e bem, que Sua Santidade estava ocupada com assuntos bem mais importantes. Espero que a resposta do Ministério de Educação a este caso seja mais ou menos a mesma.
Quando eu era pequena, também se cantava, em todas as visitas de estudo organizadas pela escola, " cheira bem, cheira a Lisboa, cheira mal, a Portugal". Isto parece-me bem mais grave e sério do que cantar "viva o Benfica". E porém, passaram-se mais de vinte anos e nem eu nem ninguém da minha geração se tornou terrorista, pelo contrário, trabalham e pagam impostos, que é mais do que se pode dizer da geração anterior (de alguns). 
É verdade que a minha posição é fácil de atacar, já que nunca escondi que sou do Benfica. Mas, sinceramente, pens'queee sou de grande imparcialidade "no que concerne" a este assunto do atirei-o-pau-ao-gato-viva-o-benfica, e isto porque tento imaginar o que faria se um filho meu entrasse em casa a gritar "viva o fê cê pê". Queixava-me ao Ministério da Educação? Não me parece. Diria apenas à criança, "deixa lá, filho, que isso passa". 

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

A gente sabe que o dia vai correr bem...

... quando a primeira sms de parabéns, no dia do nosso aniversário, é do Benfica, a desejar-me um dia cheio de "mística". Ah, ah, ah!
Já me queixei de ter pouca mística, mas nesse dia acho que tive, graças ao Benficazito. Se eu soubesse, já me tinha tornado sócia há muito, muito mais tempo.
A propósito - ainda não recebi nenhum bilhete de graça para os jogos. Tenho direito, ou não tenho? É que, já que estou cheia de mística, já agora gostava de ir ao estádio partilhá-la com outras pessoas de mística. A minha vida é assim.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Das místicas e da falta delas

O filósofo J.L. Austin apontou uma situação muito pertinente (isto quanto a mim) no seu How To Do Things With Words: muitas vezes, mudamos a nossa vida com a linguagem, porque agir com a língua que se fala é tão ou mais importante do que agir fisicamente. 
Isto para dizer que hoje abri a caixa do correio e estava lá uma revista chamada "Mística". Achei estranhíssimo, e que no mínimo o pessoal ensandecido do New Age me andava a perseguir, sabe-se lá porquê. Mas como é que esta gente descobriu a minha morada?!, pensei eu.
Acontece que descobri, após um olhar mais minucioso à revista, que se tratava da Mística, sim, mas do Benfica. Era a revista do Benfica, não o pessoal ensandecido do New Age, crianças índigo e hortelã pimenta e isso. 
Havia ali qualquer coisa naquela situação que pedia mudança, transformação. Senti que, seguindo o pensamento de Austin, eu deveria ter tido qualquer reacção verbal que instituisse um novo estado de coisas - ah, que o meu dia melhorou tanto, ah que vou ler a revista de uma ponta à outra, ah, que a mística da revista vai transferir-se para a minha pessoa, que tão precisada dela (da mística, leia-se) está. 
Mas não. Eu não disse nada porque a minha vida continuou igual. A revista permanceu na caixa do correio, já que eu estava muito carregada e não me apeteceu ter de arranjar um dedinho onde ela se pudesse encaixar.
Os benfiquistas acham que o Benfica muda a vida deles, só por cantarem o hino. Eu não. Talvez não seja benfiquista pura. 
Reservo o poder da linguagem assim para outras situações. É que é muito difícil deixar a mística entrar na nossa vida. 
Mas força, Benfica. 

domingo, 9 de maio de 2010

Bola


Gosto de futebol por causa da festa. Não percebo a fundo todas as regras do jogo, e nem sequer conheço todo o plantel do Benfica. Mas gosto de futebol e sou do Benfica.
Acima de tudo, gosto de bola, que pode ser uma rodilha de trapos ou uma esfera mais pesada e profissional, e que permite que os miúdos joguem na rua e que os adultos disputem campeonatos. A bola dá oportunidade tanto ao pobre como ao aristocrata - há inúmeros casos de jogadores que vieram do nada, de vidas pobres ou quase miseráveis, mas que chutavam a bola desde pequenos e que assim descobriram um talento imenso (o que não desculpa de forma nenhuma a pobreza, mas mostra como o futebol chega a tantas vidas diferentes). A bola fascina crianças, que de repente se esquecem da sofisticação dos brinquedos com pós modernos para exercitar o pé em chutos animados, e no entanto é uma coisa tão simples, que não custa nada. Uma bola.
E, por isso, ver o Benfica campeão é, como dizem os benfiquistas mais empedernidos, "uma alegria muito grande" e "uma coisa muito bonita". Primeiro, porque, por herança familiar, que mais tarde se tornou do coração também, sou do Benfica. Segundo, porque é inesquecível ir à Luz e ver tantas pessoas felizes. Respira-se felicidade, que transborda de tanta gente tão diferente, velhos, novos, famílias inteiras, adolescentes, mulheres, homens.
Aceito quem não gosta de futebol, quem não tem paciência, quem é indiferente a derrotas e vitórias (nem sequer é uma questão de aceitar; não tenho nada a ver com isso). Aceito, porém, com muita dificuldade que me digam que ter um clube do coração "é uma estupidez", como às vezes ouço, e que o futebol só serve para negócios escuros por causa de uma data de homens a correr atrás da bola. Os negócios escuros do futebol só entristecem quem verdadeiramente gosta de um clube, assim como o mau perder e as cenas de batatada que às vezes acontecem também mancham, vergonhosamente, aquilo que devia ser uma festa alegre. E porém, estes episódios tristes não afectam a felicidade de uma vitória, ou a plenitude de cantar a plenos pulmões na Luz (onde não consegui estar hoje, com uma pena imensa), de cachecol ao pescoço.
É uma coisa muito bonita. Uma alegria muito grande. E gosto que as pessoas partilhem isto por causa de uma simples bola. Não me parece menor, não me parece pouco inteligente. Parece-me bem, e isto independentemente de sermos do Benfica, do Sporting, do Porto.
Viva a bola e, hoje, com toda a força, viva o Benfica.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Post clubístico


Sempre achei que Soren Kierkegaard era um homem com muitas coisas interessantes e acertadas sobre a vida, nomeadamente no que respeita à multidão e às massas. Segundo Kierkegaard, a verdade não está na multidão, mas sim no indivíduo - a multidão mente.
Humildemente, concordo com Kierkegaard. Concordo, mas com limites. Há alturas em que a multidão não mente, e tenho um exemplo muito claro - o jogo de ontem, Benfica vs Porto, no Estádio da Luz. Foi todo um ritual que muito aprecio - cachecol vermelho ao pescoço, estádio, "SLB, SLB, SLB" em uníssono, golo aos vinte e tal minutos, euforia, bife à Portugália no fim.
Quando estas actividades ritualísticas e em massa terminaram, e quando finalmente me vi livre da multidão, senti-me muito bem e muito reconfortada. Embora seja sempre fundamental regressar ao colo da nossa solidão, há momentos em que a multidão não mente. De vez em quando, lembra-se de dizer a verdade.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Bola


Sendo uma pessoa que não gosta de futebol nem percebe claramente as regras do jogo, gosto de falar de futebol, e mais, gosto de ir ao estádio (que, para mim, é a Luz, isto é, a Catedral). É uma idiossincrasia contraditória que eu tenho, mas o ser humano é mesmo assim, tem de viver com as suas contradições.
Ora, se há coisa que eu gosto na Luz (sou do Benfica, convém que fique claro desde já), é, em primeiro lugar, da cor. Gosto de vermelho, é uma cor quente; o verde é mais frio. Também gosto de verde, atenção, mas gosto mais de vermelho. Depois, gosto da alegria das pessoas. As pessoas estão sempre tão impossivelmente alegres na Luz que é uma alegria. Em seguida, gosto de cantar aqueles hinos todos, porque é o que de mais próximo eu encontrei de viver algo parecido com aquela série antiga, a Fama, em que as pessoas iam todas para a rua dançar e cantar, com a coreografia certinha e tudo. No estádio também é assim, as pessoas cantam, fazem a onda (sentam-se e levantam-se) a um ritmo impecável e quase musical, e aquilo é uma lindeza. Sai sempre bem sem ninguém ter ensaiado antes, o que só prova que o ser humano, de facto, é intrinsecamente um artista.
Finalmente, aquilo que arrasa quando se vai à Luz é o começo épico do jogo. Eu sinto que, na minha vida, tenho poucos momentos épicos. Aliás, a razão de ter um ipod prende-se com isso, porque se vou entretida a ouvir música, posso sempre imaginar que estou a viver um momento importantíssimo; tudo à minha volta se torna cinematográfico, e a cada passo que dou penso sempre que sou como a Norma Desmond do Sunset Boulevard e que me aproximo, cada vez mais, da câmara de Cecil B. de Mille. Mas, na vida real, não há, verdadeiramente, nenhum close-up nem momentos épicos nenhuns; no entanto, ver a águia (disseram-me uma vez que era um milhafre, e também se for não vejo problema nenhum; os milhafres também têm a sua nobreza), dizia, ver a águia Vitória a sobrevoar o estádio ao som da música, com as fitinhas vermelhas e brancas a esvoaçar, tem a sua grandeza. É bonito de se ver, entusiasma.
De modo que, mesmo que o Benfica perca (o que nunca aconteceu das vezes que fui à Luz; sou uma pessoa que dá sorte ao seu clube), eu fico sempre contente, ou por outra, presumo que fique contente, porque, como disse, sempre que fui à Catedral, o Benfica ganhou; não sei o que é ir à Luz e ver a equipa a perder.
Se eu pudesse andar sempre com colunas de som atrás e ir mudando a música em função dos diferentes momentos da vida, talvez não precisasse de ir ao estádio. Mas, como isso não acontece, vou, de vez em quando, de alegre cachecol, o único atavio a que me permito, fazer a onda, cantar, alegrar-me um bocadinho.
É para isso que o futebol serve, quanto a mim.