António Variações cantava, numa música que marcou e continua a marcar a minha vida, por ser tão verdadeira, "sempre esta sensação de que estou a perder". É isto que eu sinto sempre que um novo "gadget" (que porcaria de palavra) ou inovação técnica desponta no horizonte, para mais tarde chegar até bem perto de nós. Não estou a falar de descobertas ou avanços científicos, estou apenas a falar de tecnologia.
Angustia-me, é só isso. Sinto uma imensa simpatia por Jacinto de A Cidade e as Serras, e dou por mim a sonhar com a opção que ele tomou, deixar o palacete cheio de modernices e ir viver para o campo. Só que o campo, a aldeia, aquele lugarejo ideal onde todos se conhecem e são de uma bondade extrema, não existe. No campo, as pessoas também têm internet e medem a sua competência como seres humanos pelo número de amigos que têm no hi5 ou facebook, como em qualquer outro lado.
Eu, como não tenho amigos no Facebook, porque não tenho uma conta no Facebook (embora, se por acaso tivesse uma conta no Facebook, teria com certeza imensos amigos, teria o Facebook inteiro a querer ser meu amigo, como me parece muito óbvio), sinto-me sempre um bocado reacionária e antiquada quando as pessoas me falam destas inovações, da mesma forma que me senti absolutamente isolada do mundo quando comecei a ler e a ouvir a expressão "ipod" por todo o lado sem ter a mínima ideia do que era. Traumatizou-me, isto do ipod.
Apenas para dizer que as novas tecnologias me fazem lembrar "sempre esta sensação de que estou a perder". E agora sinto-me com se tivesse 60 anos.
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