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sexta-feira, 9 de agosto de 2013

"É possível contar um monte de mentiras dizendo só a verdade"

Bom. Ouvi as notícias hoje de manhã na Antena 1, e entre outras coisas dizia-se que as queixas relativas ao sector privado de saúde superavam o número de queixas do sector público, em número elevado. Ok, registado.
Estou a passar os olhos pelo Público e deparo-me com isto:
Saúde: queixas diminuem no sector privado e aumentam no público
Hã? Então há um órgão de informação que me diz uma coisa e outro órgão de informação que me diz exactamente o contrário? O que se passa com os jornalistas dos órgãos de informação deste meu país estranho, que não sabem pintar e/ou fazer o seu trabalho? Fiquei agastada, e isto enquanto tomava o meu Milo quentinho. Estragar o Milo a uma pessoa não é correcto, especialmente considerando que nos tempos mais próximos não o vou poder beber, já que uma lata de 400g custa €4.99 e, sinceramente, também fico bem servida com o Nesquick ou Suchard. Não são bem a mesma coisa, mas pronto.

Continuando.Lembrei-me de continuar a ler a notícia. Achei boa ideia, pelo sim pelo não. E dizia-se, logo no lead, que Relatórios da Entidade Reguladora da Saúde mostram tendência de aumento das queixas no sector público, desde 2008. Mas ainda é no privado que mais se reclama.

Ah! Assim, sim. Assim, a gente já percebe. Tudo uma questão de perspectiva, não é? A perspectiva é a base. É a basezinha. Daí eu ter-me lembrado deste grande anúncio, que deixo abaixo.
Obrigada pela atenção. Fim.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

A qualidade que resiste ainda e sempre ao invasor

Há um certo argumento quantitativo que me irrita bastante, mormente porque discordo absolutamente dele mas não tenho inteiramente a certeza de estar errado. Isto é muito desconcertante.
Por exemplo, quando passava aquela série, Friends, costumava dizer-se que "40 million viewers can't be wrong"; havia quem criticasse a série (eu, por acaso, achava bem gira), e que uns quantos pobretanas não podem viver em Nova Iorque com um estilo de vida tão bom, e que não era realista, e que além disso era tudo filmado em Los Angels, e etc. e tal, e respondia-se a isto com o tal argumento da quantidade - se há tanta gente que vê o programa, seguramente que haverá algo de qualidade no mesmo. Como se a quantidade acarretasse, por si só, a qualidade.
Recentemente, ouvi argumento semelhante relativo ao livro 50 Shades of Grey. Estava a falar disto com alguém, entretida nas diatribes do costume, "bem, eu nunca hei-de ler o livro, já se sabe que é uma grande merda, e a mulherzinha que o escreveu é uma bimba que nem ler sabe e etc. e tal", e respondem-me, "dizes isso, mas há milhares de pessoas que leram o livro e que gostaram. Essa bimba deve estar a fazer qualquer coisa bem".
Fiquei desconcertada com isto. É que fiquei mesmo. Por um lado, diz-me o coração que este argumento está profundamente errado - o Van Gogh, por exemplo, nunca vendeu nenhum quadro na vida, não apelava às massas, e se este tipo de lógica da quantidade lhe tivesse ocorrido, com certeza que em vez de uma orelha cortava logo as duas, mas era. Por outro lado, o mesmo Van Gogh, hoje em dia, goza da sua merecida glória, tornou-se um artista reconhecido pelas massas, e o mesmo se pode dizer de outros artistas soberbamente bons a quem o tempo, acompanhado pela quantidade, isto é, pelo número de pessoas que os reconhecem, fez justiça. E será verdade que, fosse o 50 Shades assim tão mau, haveria tal número de pessoas a lê-lo e a apreciá-lo?
Haveria, sim, Haveria porque aquilo a que a contemporaneidade presta atenção é, muitas vezes, lixo do qual ninguém se lembra daqui a dez ou vinte anos. O facto de toda a gente ler o livro da tal bimba não quer dizer nada (se percorrermos a lista de best-sellers e, até, de poetas laureados em Inglaterra ao longo do século XIX, por exemplo, verificaremos que hoje em dia ninguém se dá ao trabalho de ler metade). Se, porém, ainda houver muita gente a ler o livro daqui a cem anos, talvez isso signifique alguma coisa "no que concerne" à qualidade do mesmo livro. 
De modo que a conclusão que eu retiro de tudo isto é que esta história da petição absurda contra o abate do cão que matou um bebé não quer, felizmente, dizer grande coisa. Há idiotas em todo o lado que, como diz o Ricardo Araújo Pereira, gozam de liberdade de expressão para a gente os poder identificar e ficar a saber que são idiotas. A quantidade de gente que assina a petição não muda as leis gerais e abstractas que nos regem, nem muda o valor absoluto da vida humana. A qualidade resiste à quantidade. Por enquanto. 

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

O Narciso era um bocado parvo

A BBC News tem um artiguinho interessante acerca do crescente narcisismo da juventude, e de como uma auto-estima exagerada não conduz necessariamente ao sucesso, acabando até por ser contra-producente. Faz-se um estudo interessante sobre pronomes pessoais, dizendo-se que se tem revelado uma tendência para os usar cada vez mais em número singular (eu e respectivas declinações), e cada vez menos em número plural (nós e respectivas declinações). Também se diz, a certa altura:


Num país em que se fala tanto dos portugueses que gostam de viver acima das suas possibilidades, teremos de confessar que a afirmação acima é um tanto ou quanto verdade. Não que eu defenda esta tese parva de que todos os portugueses, tradicionalmente pobres e com vidas difíceis, tenham vivido anos que nem burgueses rotundos, mas parece-me porém verdadeiro que temos uma certa tendência para o espalhafato e para gastar dinheiro em carros e telemóveis que não podemos pagar. E isto constata-se igualmente na minha geração, que deveria ser mais esperta do que a anterior, mas não é. Creio que as pessoas da minha idade, como já li algures, foram as primeiras depois do 25 de Abril a usufruir de um verdadeiro conforto material, aproximado da classe média americana - frigoríficos a abarrotar de Coca-Cola, despensa com bens inúteis e de terceira ou quarta necessidade tipo bolachas recheadas ou batatas fritas sabor a presunto, pares de sapatos que se compram não porque os pés precisam de ser aquecidos, mas porque precisamos de usar "coisas bonitas", férias lá fora, televisão com séries a mostrar o mundo novo dos adolescentes anglo-saxónicos, com dinheiro no bolso para compras de impulso, universidade para as massas, e etc (atenção: estou a falar em geral). E talvez isto tenha contribuido para uma determinada pré-disposição face ao mundo, uma certa ideia de que é preciso trabalhar, sim, mas apenas q.b., porque nascemos com direito natural a determinado conforto, mercê da nossa espectacularidade inata.
Institivamente, porém, sabemos que as coisas não funcionam assim e que o mundo se está absolutamente a marimbar se nós cá estamos ou não. A geração que sucedeu a minha parece-me ainda pior nesta coisa do narcisismo (discurso à Velho do Restelo, eu sei), e isto porque estão ainda mais habituados a dinheiro, a conforto, a famílias mais pequenas em que eles são o centro, e qualquer tipo de esforço que se exija deles é uma espécie de ofensa à sua inexpugnável inteligência. Tão inexpugnável, na verdade, que às vezes a gente nem nota que ela lá está, mas isso é outra conversa. 
Lembro-me de ter assistido a uma comunicação numa conferência em que uma académica chinesa estuvdava, precisamente, as diferenças de uso nos pronomes pessoais e de elogios antes e depois da política do filho único na China. A diferença era absolutamente impressionante - a geração pré-filho único tendia ao "nós" e agradecia elogios, ao passo que a geração pós-filho único tendia ao "eu" e recebia elogios como se estes fossem verdades insofismáveis - em vez do "obrigado", diziam "eu sei" em resposta, por exemplo, a um comentário como "essas calças ficam-te bem". 
E não posso deixar de pensar que o artigo da BBC também poderia descrever, com alguma precisão, a proliferação de blogues, nomeadamente blogues das chamadas "fashionistas", que pululam em Portugal. Não me excluo disto, também tenho um blogue, e talvez haja de facto um certo narcisismo inerente a quem se dispõe a vir para a internet amandar bocas (expressão que eu adoro) ou falar da vidinha. Eu faço ambas as coisas, e portanto mea culpa, mas mesmo assim há casos piores do que o meu, em que a vida é toda ali escarrapachada, acompanhada por sapatos e malas e roupas, e toda a gente vive bem com isso, com esse excesso de auto-estima, esse exagero de exposição. E com o mal dos outros posso eu bem, como se diz na nossa querida língua portuguesa.
São vidas, pronto. A ler o artiguinho da BBC, porque esta coisa do narcisismo, parece-me a mim, há-de ter consequências bem nefastas, como teve, aliás, para o Narciso. Os Gregos é que sabiam, pá.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Coisa que não percebo inteiramente: autocolantes nos carros a anunciar que se transporta um bebé

Não percebo muito bem a utilidade disto, porque aquele condutor que é irresponsável e descerebrado pensa sempre que pode andar à velocidade que quiser que nunca provocará um acidente, de modo que não deve querer saber se há ou não bebés nas outras "viaturas", como diria a GNR. E enfim, se se está no pára-arranca no trânsito e se vê o carro à nossa frente com o autocolante "bebé a bordo" fica-se mais ou menos na mesma - não é do meu interesse ir contra o outro carro, porque ainda por cima se chocar por trás a culpa é automaticamente minha, com ou sem criancinha. E não dá jeito andar a pagar mais seguro. 
No entanto, embora as minhas faculdades mentais não compreendam totalmente a utilidade destes autocolantes, consigo compreender que os pais mais preocupados o escarrapachem nos vidros traseiros das suas "viaturas". O que as minhas faculdades mentais e estéticas condenam, sem que eu consiga controlar, são as variações dos autocolantes "bebé a bordo" - "princesa a bordo"; "pestinha a bordo"; "Tiago a bordo" (o pessoal acha graça anunciar o nome dos filhos ao mundo - porquê?) e quejandos. É quase tão mau como aquele autocolante da menina de chapéu e cabelo comprido que dantes se via muito. Por acaso o autocolante  da menina é de facto péssimo, ao passo que os autocolantes respeitantes a bebés, em boa verdade, até se suportam, mas pronto. 
Conclusão - isto da UGT e CGTP não se entenderem no sentido de uma greve geral num momento destes é assim, tipo... nojentinho. 

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Fala com o povo

Eu adoro as pessoas que estão convencidas de que o "povo" não são elas, é uma espécie de massa quase anónima que partilha entre si os mesmos gostos, pensamentos, ideias, e talvez até roupa e casa. Assim uma espécie de pessoas que passam dificuldades, ganham pouquíssimo ("lá por ele só ganhar 1000 euros não quer dizer que não possa ficar com a custódia da filha, não acha?" Acho, claro que acho), e são quase espécimes de jardim zoológico. Ainda noutro dia tive de ir à casa de banho lá do trabalho e ouvi uma senhora, possivelmente colega, embora eu não a conhecesse, no compartimento ao lado, a dizer que o carro avariou e teve de se deslocar de autocarro, "vi imenso povo, adorei o povo!", e ria sinceramente com a amiga ao telefone. Não estava a contar nenhuma anedota, estava mesmo a falar a sério. Eu também adoro estes espécimes que adoram o povo, eles próprios dotados de grande interesse zoológico e etnográfico, até. 
E uma vez estava a almoçar, em contexto profissional, e a superiora hierárquica decide entabular conversa com as senhoras que serviam as refeições, porque de vez em quando é giro, e por acaso o almoço até era peixe, que normalmente é um factor que os portugueses têm em comum (o gosto por peixe), de modo que falar de peixe é falar do tempo, serve toda e qualquer situação; e assim se começou uma conversa sobre peixe, ai eu gosto deste peixe, não gosta também?, e sabe, uma vez comi não sei onde, com o meu marido, um peixe fresquíssimo, fresquíssimo, que me soube lindamente, porque eu estava cheia de fome, e soube-me tão bem que decidi perguntar ao senhor do restaurante que peixe era aquele, e sabe que peixe era?, sabe que peixe era? - as senhoras do almoço olham a superiora hierárquica esforçando curiosidade - imaginem, era charro! Era charro. Como é que é possível, não é, de facto, quando se está com fome...
Tive tanta vergonha. 

segunda-feira, 2 de julho de 2012

4 euros à hora

Bom. Eu ia escrever um post sobre um determinado assunto, mas li agora uma notícia no Público que anuncia que os enfermeiros deste país estão a ser contratados por 4 euros à hora.
4 euros à hora.
4 euros à hora. 
4 euros à hora.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Javardo

Estou com muita, muita vontade de escrever, embora não tenha muito para relatar.
Acho que o que me faz escrever aqui e agora é, talvez, alguma necessidade de desabafo. Acabo de ler um texto num qualquer blog que me fez imensa impressão, porque o considerei cruel, arrogante, insensível. Resvalando para o brejeiro, a palavra que me ocorre é mesmo "javardo". Era um texto javardo, que se achava dono da verdade. E foi isso que me fez mais impressão, julgo. Esta ânsia de anunciar ao mundo que o que ali se escrevia era, assertivamente, peremptoriamente, a verdade.
Os blogs que mais detesto, e que leio por motivos de sado-masoquismo que a minha alma tipicamente portuguesa não consegue controlar, são sempre assim, escritos por pessoas que se acham donas da verdade. E sim, um blogue serve para isso, para o seu autor dizer a sua verdade, mas, bolas, há maneiras de dizer as coisas. Seguramente que nem os outros são tão estúpidos nem nós somos tão inteligentes. 
Talvez por isso um dos meus blogs preferidos seja o do Tolan, que diz sempre tudo o que acha de uma forma tão graciosamente engraçada. E sensível, ele consegue ser sensível, o que também quer dizer que não escreve de uma forma agressivamente egocêntrica. Mas eu gosto do Tolan como pessoa, e isso também ajuda.
Um blogue é apenas um blogue e não vale grande coisa. Não há razão para me irritar ou para entristecer com qualquer um deles. Mas entristece-me, porque acho que isto também se passa na vida real. As pessoas acham mesmo que estão sempre certas, e vivem para se ouvirem a si próprias. É raríssimo encontrarmos alguém que genuinamente compreende que há outros à sua volta. Eu própria não devo compreender bem.
E agora tenho de parar porque, diabos me levem, às vezes escrevo cada coisa que parece uma coluna de auto-ajuda da revista Maria ou pior. E isto também me entristece. 
Suspiro. Uma boa noite, é o que desejo e, desta vez, genuinamente. 

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Eu vi um bocadinho dos Globos de Ouro, aqueles da SIC. Estava à espera que começasse a Modern Family. E no excerto que vi, assisti a um amargurado Luís Miguel Cintra anunciar que a Varanda seria o último espectáculo da Cornucópia que, por falta de verbas, corre o risco de se tornar teatro amador.
Fiquei consternada com isto. Pensei que se discutiria esta notícia, que se falaria do trabalho importante da Cornucópia e de Luís Miguel Cintra no teatro português e coisas que tais. Se tal aconteceu, deve ter sido apenas um sussurro, e não a barulheira que seria merecida.
O Público, de facto, falou nos Globos de Ouro - o melhor da passadeira vermelha. 
É o que dá viver num país pobre. Quanto mais pobre é, mais manias à Hollywood quer ter, para disfarçar a vergonha. 

quarta-feira, 2 de maio de 2012

O Tony em Lisboa

No sentido de escrever um post um bocadinho mais alegre, vinha por este meio dizer que o programa do Tony Bourdain sobre Lisboa já se encontra disponível por essa internet fora. Eu vi ontem, e é evidente que gostei considerando que o tema era Lisboa. Acho sempre que o Tony acaba por arranjar coisas interessantes para dizer nos programas dele, e em Lisboa não foi excepção, principalmente quando foi a uma casa de fados passar tempo à conversa com Lobo Antunes. Só por isso, valeu tudo o que ele deixou de fora.
Tentem encontrar, que o programa está giro. Quem não gostar do Tony, eh pá, paciência. Como se diz na nossa magnífica língua, deviam de gostar.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Esta é a ditosa pátria, minha amada

Vivo perto de um Continente e de um Pingo Doce.
Os parques de estacionamento de ambos estão a abarrotar desde as nove da manhã.

Feliz 1º de Maio.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

25 de Abril

Que nunca nos tirem este feriado. Se nos quiserem tirar, que consigamos ir para a rua, como a poesia.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Coisa que (não) compreendo: as várias designações para café nas pastelarias portuguesas, mormente "abatanado"

É uma coisa que não compreendo, mas que gostava de compreender. Não compreendo devido à minha ignorância. Há tanta forma de pedir e servir café neste país que não evito uma imensa fascinação por esse mundo ignoto, pelo menos para mim. 
Abatanado. Já me explicaram o que é, mas eu esqueço-me sempre. A minha mente rejeita este conceito, não sei porquê. Acho que nunca hei-de saber o que isto é, o que lamentavelmente também significa que nunca vou poder pedir o tal "abatanado" num café. Também há o problema de a palavra "abatanado" me fazer rir. Parece que estou a contar uma anedota ao senhor do café em vez de lhe estar a pedir qualquer coisa. Enfim, continuando. 
Meia de leite e suas variedades.
Meia de leite directa. 
Meia de leite de máquina. 
Meia de leite clara. 
Meia de leite escura.
Carioca. 
Bica.
O singelo "café". 
Café curto.
Italiana (acho que é o mesmo que café curto).
Café pingado.
Galão. 
Galão escuro.
O meu preferido, e este desconheço de todo o que seja, é o café "sem princípio". Desconheço, mas parece-me uma possibilidade maravilhosa e sofisticadíssima poder ir a um cafézinho (estabelecimento, entenda-se) e pedir um café "sem princípio".
É por isso, pela possibilidade misteriosa de o abatanado e do café sem princípio, que eu ainda gosto de viver parcialmente em Portugal, apesar de tudo o resto. 
Um país abatanado é um país com futuro.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Cheira bem, cheira a Lisboa

Esta notícia é de uma idiotice tal que não resisti a vir aqui ao blogue anunciar a referida idiotice. Por onde começar? Desde o pai que, aparentemente, não tem nada de melhor para fazer, nem assuntos relativos à educação do filho mais prementes em que pensar, do que uma canção que este aprendeu na escola de apoio ao Benfica; até à indignação ridícula do FCP. E digo ridícula porque as expressões que os representantes do clube utilizaram ("professora ayatollah", "fascistas do gosto", "proselitismo") obrigam-me a chegar a uma conclusão digamos que bifurcada: ou estes senhores do FCP têm um profundo e indesculpável desrespeito por situações de efectivo proselitismo e fascismo, o que é provável, ou pura e simplesmente precisam de consultar mais vezes (uma só vez já chegava) um dicionariozito da língua portuguesa, para aprenderem o que as palavras que utilizaram querem de facto dizer. Também se pode dar o caso, e é esta uma hipótese que me ocorreu agora mas que é tão plausível que nem sei por que não me lembrei dela antes, de serem tão irredutivelmente obtusos que nem um dicionário os salve. 
Há uns largos anos, a Madona quis que o Papa lhe baptizasse a filha. Nuym rasgo de lucidez e sensatez, qual Cristiano Ronaldo ("pens'queeee revelei lucidez, sensatez"), a Santa Sé respondeu, e bem, que Sua Santidade estava ocupada com assuntos bem mais importantes. Espero que a resposta do Ministério de Educação a este caso seja mais ou menos a mesma.
Quando eu era pequena, também se cantava, em todas as visitas de estudo organizadas pela escola, " cheira bem, cheira a Lisboa, cheira mal, a Portugal". Isto parece-me bem mais grave e sério do que cantar "viva o Benfica". E porém, passaram-se mais de vinte anos e nem eu nem ninguém da minha geração se tornou terrorista, pelo contrário, trabalham e pagam impostos, que é mais do que se pode dizer da geração anterior (de alguns). 
É verdade que a minha posição é fácil de atacar, já que nunca escondi que sou do Benfica. Mas, sinceramente, pens'queee sou de grande imparcialidade "no que concerne" a este assunto do atirei-o-pau-ao-gato-viva-o-benfica, e isto porque tento imaginar o que faria se um filho meu entrasse em casa a gritar "viva o fê cê pê". Queixava-me ao Ministério da Educação? Não me parece. Diria apenas à criança, "deixa lá, filho, que isso passa". 

segunda-feira, 19 de março de 2012

Muita civilização

Pois é, venho por este meio dizer que fico muito contente por saber que nem tudo está podre no reino da Dinamarca, aka Portugal, e que há coisas que se passam cá que são de uma civilização tal que não podemos deixar de nos comprazer com isso.
E refiro-me concretamente a uma instituiçãozinha da máxima importância: Lusocord. O banco público de sangue de cordão umbilical, preparado para fazer a recolha em todos os hospitais do país, gratuitamente, e que desenvolve investigação em células estaminais para, esperançosamente, salvar vidas. Comparemos esta elegante situação com a pobrezinha Inglaterra, que tem umas recolhazitas que não se alargam, nem de perto nem de longe, a todos os hospitais do país. Se nós conseguimos, não se percebe como é que eles não conseguem. Mas enfim, isso são assuntos lá deles, "para inglês ver", como muito bem se aplica aqui. Ah, ah. Não resisti à piadola.
A única coisa que me custa nisto tudo é ver, em hospitais e centros de saúde públicos, publicidade a empresas de recolha privadas, que pedem milhares de euros por uma "seguro de vida" que tem 0,03% de probabibilidades de sucesso (não sei se os números são estes, sei que são efectivamente muito baixos), enquanto que o trabalho do digníssimo Lusocord passa quase alegremente (tristemente) despercebido. É claro que toda a gente diz "ah, mas qualquer probabilidade é uma possibilidade!", e tal e tal, e com certeza   que sim, mas a verdade é que vejo nestas empresas mais ganância e vontade de fazer dinheiro do que vontade de salvar vidas. O Lusocord tem as células à disposição de quem delas precisa e consequentemente, quanto a mim, a doação ao Lusocord é a opção que faz sentido. Mas enfim, cada um é como cada qual e não se pode brincar nem minimizar as vulnerabilidades, receios e sensibilidades de cada mãe e pai. Que façam aquilo que a consciência dita.
A minha dita o Lusocord.
Era só isto.

quinta-feira, 15 de março de 2012

O dedo

O meu dia começou bem, com um apontamento de humor. Fui ao supermercado e deparei-me com esta esplêndida capa:



A questão que gostaria de levantar é: quem é que teve a ideia de uma coisa assim, o olhar sensível, o meio sorriso e o dedinho meio pensativo, meio indagador? O pormenor do dedo é coisa de classe. Pergunto-me se terá sido o António José Seguro a lembrar-se desta pose, ou se terá sido aconselhado a isso. Qualquer das respostas é igualmente assustadora, julgo.
Com uma foto desta qualidade, a leitura do livro é perfeitamente dispensável. O dedinho já diz tudo.
Ai, ai. Suspiro. 
Mas quem é que teve a ideia de uma capa destas? Estão mesmo à espera que se leve o dedinho a sério? Estas questões vão atormentar-me (e provavelmente fazer-me rir) para o resto do dia.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Esta é a ditosa Grécia, minha amada

Pode não ser ditosa, mas ainda é a Grécia.
E pode parecer um exagero, mas para mim não é - a Grécia foi sempre o meu país de contos de fadas, era um país que eu pensava que era inventado, uma fantasia, e depois descobri que era verdadeiro, que existia mesmo um Olimpo, um Delfos, um Corinto, uma Trácida, uma Creta, e pareceu-me bom demais para ser verdade, e sempre que tive a sorte de visitar a Grécia e via aquele sol, as montanhas, o mar, os ciprestes  tudo me parecia bom demais e bonito demais para ser verdade, até Atenas eu adoro, e as pessoas estão sempre a dizer que Atenas é feia.
A Grécia é o meu país de fadas.
E por isso, e pode parecer um exagero, mas para mim não é, quando penso na Grécia para não pensar em Portugal, enredo-me num incompreensível masoquismo em que não evito a tristeza e apetece-me chorar e penso nisto:


¡Que no quiero verla!
Dile a la luna que venga,
que no quiero ver la sangre
de Ignacio sobre la arena.
¡Que no quiero verla!
La luna de par en par,
caballo de nubes quietas,
y la plaza gris del sueño
con sauces en las barreras
¡Que no quiero verla¡
Que mi recuerdo se quema.
¡Avisad a los jazmines
con su blancura pequeña!
¡Que no quiero verla!
La vaca del viejo mundo
pasaba su triste lengua
sobre un hocico de sangres
derramadas en la arena,
y los toros de Guisando,
casi muerte y casi piedra,
mugieron como dos siglos
hartos de pisar la tierra.
No.
¡Que no quiero verla!
Por las gradas sube Ignacio
con toda su muerte a cuestas.
Buscaba el amanecer,
y el amanecer no era.
Busca su perfil seguro,
y el sueño lo desorienta.
Buscaba su hermoso cuerpo
y encontró su sangre abierta.
¡No me digáis que la vea!
No quiero sentir el chorro
cada vez con menos fuerza;
ese chorro que ilumina
los tendidos y se vuelca
sobre la pana y el cuero
de muchedumbre sedienta.
¡Quién me grita que me asome!
¡No me digáis que la vea!
No se cerraron sus ojos
cuando vio los cuernos cerca,
pero las madres terribles
levantaron la cabeza.
Y a través de las ganaderías,
hubo un aire de voces secretas
que gritaban a toros celestes,
mayorales de pálida niebla.
No hubo príncipe en Sevilla
que comparársele pueda,
ni espada como su espada,
ni corazón tan de veras.
Como un rio de leones
su maravillosa fuerza,
y como un torso de mármol
su dibujada prudencia.
Aire de Roma andaluza
le doraba la cabeza
donde su risa era un nardo
de sal y de inteligencia.
¡Qué gran torero en la plaza!
¡Qué gran serrano en la sierra!
¡Qué blando con las espigas!
¡Qué duro con las espuelas!
¡Qué tierno con el rocío!
¡Qué deslumbrante en la feria!
¡Qué tremendo con las últimas
banderillas de tiniebla!
Pero ya duerme sin fin.
Ya los musgos y la hierba
abren con dedos seguros
la flor de su calavera.
Y su sangre ya viene cantando:
cantando por marismas y praderas,
resbalando por cuernos ateridos
vacilando sin alma por la niebla,
tropezando con miles de pezuñas
como una larga, oscura, triste lengua,
para formar un charco de agonía
junto al Guadalquivir de las estrellas.
¡Oh blanco muro de España!
¡Oh negro toro de pena!
¡Oh sangre dura de Ignacio!
¡Oh ruiseñor de sus venas!
No.
¡Que no quiero verla!
Que no hay cáliz que la contenga,
que no hay golondrinas que se la beban,
no hay escarcha de luz que la enfríe,
no hay canto ni diluvio de azucenas,
no hay cristal que la cubra de plata.
No.
¡¡Yo no quiero verla!!

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Respirar fundo, acalmar, respirar fundo, acalmar.

Nota rápida para dizer que já não suporto, mas é que já não suporto, ouvir portugueses a dizer que os outros portugueses andaram anos a viver como lordes, acima das suas possibilidades, e agora que paguem as favas. É que não suporto. Ainda hoje, quando fui ao cabeleireiro cortar o cabelo à Jean Seberg, e me entretinha com uma revista, levei com a Margarida Rebelo Pinto lá escarrapachada, empinada em saltos altos muito bem compostos, a dizer que já vendeu mais do que um milhão de livros e que o Natal lhe correu muito bem em vendas, deixando como "nota final" a justa, justíssima observação de que ah e tal, o português tem de deixar de viver como um lorde.
Eh pá. Eu não vou escrever muito porque fico de tal modo alterada que perco o parco poder de argumentação que tenho, mas gostava exactamente de saber de quem é que se está a falar quando se faz referência a este português que andou a viver que nem lorde. É ao português desempregado? É ao português que tem de pagar todos os anos os livros da escola dos filhos e só arranja dinheiro para isso se pedir ao banco? É ao português que ganha o salário mínimo? É ao português iletrado? É ao português que tem de escolher se compra comida ou medicamentos? É ao português que perdeu o emprego, é casado com outro português que também perdeu o emprego, e que agora não sabe como é que vai sustentar os filhos? É ao português que não consegue pagar renda? São estes portugueses todos, que são a maior parte dos portugueses, que andaram estes anos, obviamente, a viver de barriga cheia, a rir descaradamente da miséria dos outros enquanto se empanturravam, dizia, são estes portugueses que provocaram a crise e que têm agora de amargar? Pois, devem ser.
Mas quem sou eu para falar, se eu até vou ao cabeleireiro. Ando a viver que nem uma lady, rotunda, bojuda, de pança burguesa, a rir-me da miséria do país.
Respirar fundo... respirar fundo, que não me posso enervar. Amanhã é dia de trabalho. Sim, vou trabalhar porque não posso ficar em casa que nem uma lady, como fazia dantes. Dantes, quando eu era uma lady.
Respirar fundo. Respirar fundo. Acalmar. 
Sabe que mais, Srª D. Margarida Rebelo Pinto? Deixe a senhora de viver como um lorde. E aproveite e cale-se, mas é.
Boa noitinha.

Adenda: demorou algum tempo mas já percebi, ela estava a falar do Cavaco, coitado. Desculpe lá, sôdona Margarida. 

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Expressão que não compreendo: "o português"

Acho sempre muita graça quando as pessoas se referem a esse animal esquivo e exótico que é "o português", como se fosse uma entidade que lhes é absolutamente estranha, com a qual não têm nada a ver e que normalmente acumula todos os defeitos que elas próprias pensam que só os outros, e não elas, é que detêm.
"O português deixa tudo para a última da hora, e depois é isto".
"Já se sabe que com o português não há hipótese - é sempre tudo ao molho e fé em Deus"
"A gente ainda tenta ter algum cuidado, mas o português não está habituado a coisas boas e vai e estraga tudo"
"O português é sempre assim, andou anos a gastar dinheiro em telemóveis e carros e depois queixa-se que anda em crise"
"Anda toda a gente revoltada com os cortes e com a crise, mas o português parece que não percebe que não há dinheiro!"
O caso torna-se ainda mais engraçado quando "o português é substituído pela catita entidade designada por "tuga" - o tuga é assim, sempre a estragar tudo. Quer dizer, nenhum de nós, portugueses, se reconhece neste misterioso "português" - este "português" é uma entidade à parte, é tudo o que está mal no país, mas não é nenhum de nós. É outro qualquer. Não consigo decifrar este interessante mistério, a sério que não consigo.
E tem igualmente graça, quanto a mim, saber que o problema reside precisamente no facto de "o português" não se queixar o suficiente, de "o português" aceitar demasiadamente bem esta conversa de que não há dinheiro, de "o português" não se revoltar ainda mais indignadamente contra o afundar da sua identidade, enfim, no facto de "o tuga" engolir este discurso da crise, aplaudir o FMI e ainda chorar por mais. Tudo bem que nos ensinam a dar a outra face, mas bolas, há limites para tudo.
"O português" fez uma greve geral no dia 24 de Novembro, mas o que observo é que "o português" está, em geral, muito resignado ao discurso miserabilista que nos faz saltar para o abismo. As pessoas parece que aceitam tudo. Porquê? Porque é que não vamos para a rua partir tudo como os Gregos, mandar o governo todo para o c******* como eles merecem, se assim como assim, para os c***** das agências de rating somos lixo e ao lixo voltaremos? É quase como o eterno retorno do Nietzsche, e se é eterno, e se é retorno, ao menos que façamos espalhafato, que o mandemos à merda, que lhe cuspamos na cara, que nos aliviemos. Era só isso que eu queria - um pouquinho de alívio. 
Ah, mas a Grécia é que é bom?, querias estar como os Gregos, tudo sem ordem, tudo no caos? Sim, queria, pois queria, e qual é o mal?, queria ver uma reacção qualquer, queria uma emoção, como o Rasputine diz ao Corto Maltese, queria pessoas verdadeiramente indignadas, porque é a única reacção possível ao que se está a passar. E não, não sou funcionária pública, portanto este post não deriva do corte dos subsídios de Natal e férias.
Pronto. Esvaziei-me de alguma fel, mas não de toda a fel. Como boa portuguesa que sou, arranjo sempre qualquer coisinha para me queixar. O português, pá, realmente, nunca está satisfeito.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Maravilhoso mundo da abundância

Hoje fui ao Continente e estava lá uma alface à venda que era apropriadamente designada por "alface multifolhas". Aaaah... pensei melhor e deixei-a lá ficar. Alface multifolhas. Eu não gosto de alfaces multifolhas, não são bem alfaces, pois não?, tal como não gosto de tomates encarnados, cenouras cor de laranja (é estranho, cenouras que têm a mesma cor de frutos) e batatas para cozer. Só gosto das batatas que são para assar, e mesmo assim.
E depois deambulei pelo corredor dos iogurtes, já que sou fã de iogurtes, e maravilhei-me com os novos Danone sabor a pipoca (perdão - a "popcorn"), sabor Capuccino e cheesecake. Isto sim, isto já eu considero fundamental.
Não reparei a quanto estava o IVA dos iogurtes, mas acho bem que o Danone Capuccino esteja para aí a 2%. Acho um escândalo se não estiver.
Estes tempos de crise irritam-me tanto.