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segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Telefonas ao papá e ele orienta-te

A Lena Dunham, ao que parece, é o sucesso do momento e tem uma série chamada Girls, já de grande popularidade; antes da mesma série escreveu e realizou um filme indie denominado Tiny Furniture. Vi o filme e um episódio da série e não tenho muita coisa a dizer que não argumentos que outros já escreveram - não fiquei convencida porque tanto em filme como em televisão tudo aquilo me parece um relato pouco interessante de miúdos sem grande coisa a dizer. 
Fala-se da Lena Dunham, que tem uma beleza tão pouco convencional e mesmo assim faz imensas cenas de sexo, e de como os encontros sexuais são esquisitos, frios, sem aquela magia do cinema a que estamos habituados, e de como o não encontrar emprego e depender dos pais e tentar encontrar um caminho na vida são temas tão realistas e tão bem desenvolvidos, talvez porque aquilo que escreve tenha um veio muito autobiográfico.
Eu achei que não, que não eram temas bem desenvolvidos. Esta Lena não tem culpa de ter nascido num meio cosmopolita privilegiado, com dinheiro, com amigos artísticos e tal. Não só não tem culpa, como é de louvar que uma pessoa com, aparentamente, tão poucas preocupações tenha tido o empreendedorismo e o talento de transformar a sua vidinha em produtos mediáticos que agora lhe dão dinheiro (imagino que já não viva com os pais). Mas a verdade é que não consegue dizer grande coisa que se aproveite, nem ela nem as personagens que ela inventa, ou em quem se baseia. 
Não digo que a única ficção sólida e digna de elogio seja o "kitchen sink drama" à Ken Loach ou neo-realismo italiano ou coisa que o valha. Apareceu por aí um filmito há uns tempos, "Fish Tank", sobre a adolescente alienada e pobrezinha dos bairros sociais ingleses, que parecia muito decente mas que também não era nada de especial. 
Aquilo a que quero chegar, penso, é que um filme, ou uma série, ou um livro que valha o nosso esforço e atenção tem de ter alguma honestidade que compense a sua eventual superficialidade ou vacuidade. E os Pulp cantam uma coisa muito importante e que explica isto - "you'll never live like common people, because when you're in bed at night, watching roaches climb the wall, if you call your dad, he can stop it all". E aquilo que os Pulp dizem é absolutamente verdadeiro e eloquente, quanto a mim. 

PS - o poster é um ataque fácil, eu sei, mas achei tanta piada que tive de postar aqui. E também deixo a cançãozinha dos Pulp porque gosto tanto dela que não resisto. Bem haja.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Ou tudo, ou nada.

Gosto bastante deste blog, e apesar de nunca ter visto o filme de onde os fotogramas são retirados, imagino que o diálogo que se apresenta (uma mulher que diz a um homem qualquer coisa como "achas que depois da noite passada ainda podemos ser amigos? You underestimate me - não consigo traduzir isto muito bem). Bom.
Isto fez-me pensar (porque imagino que a cena se refira a uma mulher que se tenha divertido com um homem que agora a tenta descartar, embora possa estar completamente errada. Mas vamos assumir que não estou).
Vi uma vez, há imenso tempo, uma peça de teatro cujo nome não me lembro, mas sei que era coisa séria e de adulto, porque tinha nudez explícita e era interdito a crianças. Nessa peça, o actor principal fazia de "drag queen" (não era bem, mas não encontro um termo melhor), tem um namorado encantador, que às tantas se revela como muito pouco encantador porque quer acabar com ele, o drag queen, e tenta amenizar a coisa com "ah, mas queria muito ser teu amigo e tal". Responde-lhe o drag queen que nem pensar, que a amizade depois do amor não é amizade, é uma pobre consolação quando já não resta mais nada.
Bolas, eu não tenho a certeza de muita coisa, mas tenho a certeza disto ("a nível pessoal", como se costuma dizer, isto é, tenho a certeza de que funciona assim para mim). Lembro-me de estar a ver a peça e a pensar que o drag queen tinha toda a razão do mundo e que fez muito bem em dizer ao namorado que ou é tudo, ou não é nada. Amizade depois do amor? Ou, expliquemo-nos melhor: amizade quando um já não sente amor e o outro ainda sente? Não há aqui amizade possível. A amizade não pode vir das rupturas. Se assim for, é apenas uma caridade, uma pobre consolação.
A frase de Sade de que gosto tanto, de que a caridadezinha não passa de orgulho, e quem a pratica fá-lo apenas para se sentir boa pessoa, e portanto por motivos egoístas, aplica-se aqui também (a beneficência é mais um vício do orgulho do que uma verdadeira ostentação da alma; é por ostentação que se dão alívio aos semelhantes, nunca é com a pura intenção de praticar um acto bom). Já não te quero como namorado/a, mas vou fazer o favor de ser teu amigo/a, porque não suporto sentir-me má pessoa e causar-te esta dor. Eu, a isto, respondo que não, que nem pensar. Não quero ser amiga de um Corto Maltese qualquer que queira acabar comigo, muito pelo contrário, quero distância, silêncio completo, ruptura total, não pensar nele, não o ver, não saber se está feliz ou infeliz, casado ou solteiro, com filhos ou sem filhos, para eu poder andar para a frente com uma ajudinha dos meus (verdadeiros) amigos, como cantavam os sábios Beatles.
Ao menos, o Serge Gainsbourg, secundado depois por Jarvis Cocker, cantava sobre isto de forma muito honesta. Eh pá, já não dá. Vou-me embora. Dantes gostava de ti - but, hey, como canta o Jarvis sem mais explicações. Sobre isto também já escrevi, e enfim.
Nada mais tenho a dizer, excepto que, evidentemente, isto é uma posição pessoal, tenho imensa admiração por quem consegue extrair amizade das cinzas, tipo fénix milagrosa, apenas digo que para mim não dá, que tenho pouco jeito para milagres.



 Pergunta: como é que se põe apenas o leitor de música, sem mostrar o vídeo? O vídeo não tem interesse e não faço questão nenhuma de o ter aqui, mas só sei fazer assim.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Estes tipos, pá. Aborrece-me um tanto ou quanto que sejam só aparência e estilo, à adolescente, mas depois gosto das canções deles, não consigo evitar. Há bandas assim, 60% é estética visual, 40% é música que até se ouve, ou, frequentemente, não se ouve de todo. Normalmente, desprezo estas bandas, porque gosto de coisas mais espontâneas, mais à trovador. Mas estes Kills estragam-me os planos. Não gosto nada deles.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Animação cultural

Este blog precisa de uma animação, para animar. 
A animação que proponho é: qual a canção mais pirosa que conhecemos e sem a qual não podemos passar? Aquela canção que nos faz passar uma grande vergonha se dissermos aos outros que gostamos dela? 
A cultura pop tem tanta pérola falsa à espera de ser repescada que chafurdar um bocadinho na lama musical só nos poderá trazer grande divertimento. Pelo menos, a mim, traz.
Como no mundo virtual ninguém se conhece, podemos falar disto à vontade sem grande opróbrio. Eu começaria, por exemplo, pela seguinte lista, ainda sem ordem de preferência, mas que revela já grande potencialidade ao nível do bom gosto musical e estético, e da falta dele:

Baby One More Time, Britney Spears

Every TimeYou Go Away, Paul Young



Como agora estou com uma certa pressa, não posso completar a lista nem dissertar sobre a mesma. Mas fá-lo-ei em tempo útil, se a tanto me ajudar o engenho e a arte. Mais o engenho do que a arte. 

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Mas se eles queriam todos ser o Kurt Cobain

A BBC passou, na semana passada, uma série de programas sobre o grunge e os Nirvana. Por coincidência, foi a mesma semana em que vi o excelente documentário de Cameron Crowe sobre os Pearl Jam, 20. 
A primeira vez que ouvi Nirvana foi com o omnipresente Smells Like Teen Spirit, e fiquei abismada com aquilo. Por um lado, achei horrendo e o Kurt Cobain o homem mais feio que já alguma vez vira. Qual era a ideia de não pentear o cabelo, ainda por cima quando se era louro? Não percebi. Por outro lado, acho que tudo aquilo me fascinou.Nunca tinha ouvido nada assim. Ainda hoje gosto de ouvir Nirvana (embora sem pretensões de ser uma grande fã, porque nunca fui), portanto acho efectivamente que a distorção das guitarras e a voz roufenha do Kurt me fascinaram mesmo - e aquele suspiro quando canta Where Did You Sleep Last Night (aqui, minuto 3:58) ainda hoje me mata. Acho que este homem era um grande intérprete, de facto. 
O documentário que vi relatava as últimas 48 horas de Kurt Cobain (há em DVD, capinha aqui ao lado) e discutia aquilo que, segundo sei, já muito se discutiu anteriormente sobre Cobain - que era atormentado pela fama; que, se por um lado queria fazer dinheiro, por outro vivia esmagado sob o peso da fortuna e da opulência com que subitamente fora bafejado; que lidava malíssimo com o facto de se ter tornado uma figura de culto e de ter gente que o adulava, que o "seguia"; que de alguma forma sentia que a fama e o sucesso não eram merecidos (e mostra-se imediatamente uma entrevista em que Cobain diz que havia, na altura, dezenas de bandas muito melhores do que os Nirvana que mereciam ter alcançado o sucesso destes últimos; há igualmente depoimentos de uma série de pessoas da cena musical de Seattle, antes desta se ter tornado mundialmente popular e toda fixe, a dizer que, enquanto os Mother Love Bone, antecessores dos Pearl Jam, haviam sempre gozado de grande popularidade, os Nirvana eram os parentes pobres da altura, perdedores em todos os aspectos; até há alguém que diz algo como "até para Seattle eles eram uns falhados"). 
E porém. A história que se segue é bem conhecida - sucesso e vendas retumbantes, suicídio e miríades de explicações que se seguiram depois da morte de Kurt Cobain, da paranóia (foi assassínio, mas é!), à solidária (coitado, tinha problemas de estômago e era um grande viciado), passando pela idólatra (ah, que sensível, que profeta atormentado, a fama foi demais para ele, as grandes almas são assim, não são para este mundo).
E porém. Kurt Cobain conseguiu fama e dinheiro. Sucesso propriamente dito, talvez não. E conseguiu fama e dinheiro porque merecia, ou porque teve sorte, porque a MTV decidiu passar o Smells Like Teen Spirit vezes sem conta? Uma colega minha da faculdade, daquelas parvas irredutíveis, dizia que não percebia o apelo dos Nirvana, já que o Cobain cantava mal e era muito "imperfeito" a tocar guitarra. Para mim, a falta de técnica de alguém não significa que não tenha talento (a Celine Dion é muito perfeita a cantar e não tem pinga de talento, por exemplo). Eu, por acaso, acho que Kurt Cobain era talentoso. Outros dizem que não, que teve apenas sorte e que, para voltar a Smells Like Teen Spirit, esta canção não passa de um riff do More Than a Feeling dos Boston, apenas mais acelerado e com mais distorção. 
Aquilo que eu queria verdadeiramente dizer, e que por alguma razão anda aqui aos solavancos, é que Kurt Cobain é apenas um exemplo de uma questão maior, mais "abrangente" (que palavra cómica, eh eh)  - o que é, verdadeiramente, o talento? Truman Capote, como sempre soberbamente consciente de que esta qualidade era algo que ele tinha em abundância, descreve o talento como um chicote que fustiga as pessoas talentosas permanentemente, sempre à procura de mais e melhor. Foi este chicote que levou Cobain ao suicídio? É que acredito que, efectivamente, o talento e as suas consequências possam ser tão avassaladoras que acabem por redundar em destruição (e a História mostra-nos uma data de exemplos disto). Por outro lado, é também certo que o "talento" é difícil de identificar, e muitas vezes confundido com campanhas publicitárias audaciosas, marketing manipulador, fogo de vista, espectáculos para encher o olho, atitudes, roupas, cabelos, entrevistas cuidadosamente estudadas e planeadas, etc. - e a atitude blasé, de recusa de qualquer coisa, dos Nirvana e do grunge em geral, que me atraía na altura e continua a atrair, pode talvez não passar disso. Eu sempre vi ali qualquer coisa de genuíno, tal como hordas de outras pessoas, mas talvez tudo isto de que falo seja tão genuíno como a Jennifer Lopez (que, coitada, já avisou as pessoas de que é apenas a Jenny from the block, genuinazinha de morrer). 
Mas enfim, não tenho resposta nem mais nada a dizer, a não ser que, ontem tal como hoje, se eles queriam todos ser o Kurt Cobain, juntar-me ao grunge era a mais lógica solução (frase sábia, esta, que devia vir entre aspas, pois obviamente não é minha. Mas aspas são feias e já usei muitas neste texto). E nunca me arrependi.


domingo, 24 de abril de 2011

Dylan gone electric

Uma vez, Bob Dylan decidiu esquecer as suas raízes folk, à Woody Guthrie, a máquina que mata fascistas e tal, e decidiu enveredar por um caminho mais "eléctrico", mais pesadote, eventualmente menos poético. Nos primeiros tempos, foi um desassossego. O pobre Dylan entrava em palco e era imediatamente vaiado e apelidado de Judas, naquela que ficou muito compreensivelmente conhecida pela Judas tour. Não que Dylan se importasse muito. Continuava a levantar ondas, como se costuma dizer. E continuava poeta.
Em inglês, há aquele ditado que diz "beauty is in the eye of the beholder". É interessante como isto se aplica, assustadoramente, à chamada integridade. Então Dylan deixou de ser íntegro porque passou ao eléctrico? Para quem foi aos seus concertos insultá-lo, com certeza que sim. Mas o Bob Dylan em si, ele propriamente dito (bela expressão), continuou o mesmo. 
De modo que, por exemplo, quando nos desapontamos muito com os políticos e com o país e com o FMI, não há grandes explicações a dar. Os políticos e o país e o FMI não mudaram, foram sempre manchados pela falta de integridade. São os nossos olhos que mudam e que vêem o que dantes não viam, ou vice-versa - escolhem não ver o que dantes viam. 
Voltando ao Bob Dylan, este último foi sempre eléctrico. Quem pensava que não era é que se enganou e depois teve de encontrar meios para se esvaziar de toda a fel. Mas a culpa não era do Dylan. 
Eu gosto do Bob Dylan, atenção.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Banda da semana que não compreendo: os Coldplay

Devo desde já fazer uma declaração de interesse e dizer que: ponto um, gostei da primeira música que ouvi de Coldplay, Yellow, que pertencia ao primeiro álbum, e gostei até bastante; ponto dois, gostei de uma música que ouvi do segundo álbum, que era o In My Place, e com óbvia falta de discernimento, comprei o segundo CD desta banda. Em absoluta verdade, e chegamos ao ponto três, ouvi este CD duas vezes na vida, o que confirma a minha obtusidade.
A partir daqui, confessados que estão os embaraçosos pecadilhos, estou absolutamente à vontade para tecer e elaborar todas as críticas que eu quiser a esta banda, e são muitas; são muitas porque os Coldplay são a coisa mais entediante que eu alguma vez ouvi. É que são seca, seca, seca, seca, ainda por cima má seca - e o que é que me leva a não compreender esta banda? Não é o facto de serem uma seca, é o facto de conseguirem vender tanto. É que eu esperava que as pessoas tivessem um limite para o tédio que conseguem suportar, mas pelos vistos não, não têm limite nenhum.
Há bandas que se podem designar por "seca". Bandas que aborrecem, dão vontade de bocejar e  amolecer que nem lesma indolente. Eu não quero saber - digo já que, para mim, Dire Straits é essa banda. É que não consigo ouvir um acorde que seja que fico logo prontinha para  adormecer, e não me venham com o Brothers in Arms, ai que linda canção que é!, e o Romeo and Juliet, ai que bonito!, e o I want my MTV ou sei lá, não achas a canção engraçada?, e o Mark Knopfler na guitarra (bem, este homem a solo, então, meu Deus, sem comentários). Esta banda e estas canções são velhas, bem sei, portanto se calhar não contam. Mas vamos a mais exemplos - Norah Jones, outro tédio. Clássicos da guitarra, tipo Joe Satriani ou assim, outra seca. E, evidentemente, há outros exemplos que alguém mais douto do que eu conseguiria enumerar e bandas muito mais recentes e com muito hype à volta que também são um grande tédio, mas são bandas mais ou menos insignificantes. 
Porém, estes exemplos que eu acabei de enumerar têm uma diferença relativamente aos Coldplay, e essa diferença é qualitativa. É que, dentro da categoria de bandas-seca, há a má seca e a boa seca. Eu acho que a Norah Jones é seca, mas consigo compreender perfeitamente que a Norah Jones é melhor do que os Coldplay. É que estes últimos não têm nada que os salve, nada, nada - são feiosos (pelo menos, têm mau gosto para se vestir); não têm talento como músicos; têm a mania que são bonzinhos e queridinhos, o que, não diria "enfurece", mas irrita um bocadinho; não escrevem letras de jeito ("for some reason I can't explain/I know Saint Peter won't call my name" -  ? Tanto mais que alguém que sabe  de antemão que o S. Pedro não o vai chamar, terá com certeza uma ligeira ideiazinha do porquê, mas enfim, isto já é filosofia a mais; em termos de letras, a minha preferida é para aí o "lights will guide you home and ignite your bones". Pausa para rir. Não vale a pena ir mais longe, é só fazer uma busca no google de letras dos Coldplay e, basicamente, preparar uns minutinhos para aquele misto de riso e desprezo que só o que é verdadeiramente medíocre consegue provocar).  Tudo nos Coldplay serve um propósito, que é: irritar numa primeira fase, e entediar numa segunda fase. Prefiro uma banda que me irrite, apenas, porque ao menos distraio-me. 
De modo que, com tanta banda sem talento que há por aí, mas um bocadinho mais animada, não percebo bem porque é que as pessoas escolhem ouvir Coldplay e muito menos pagar bilhete para os ver ao vivo. Às vezes, há bandas que são muito medianazitas em estúdio, mas que depois ao vivo são um estrondo. Duvido que seja o caso de Coldplay, e não faço tenções de ir confirmar com os meus próprios olhos - mais facilmente ia ver isto:

O Yanni na Acrópole deve ter sido, no seu tempo, um espectáculo ao vivo muito composto, e sempre é na Acrópole, além de que, como facilmente se pode constatar, tem um veio trágico-cómico bem aceso, que é coisa que os Coldplay, no seu esforço (louvável, porque não) do politicamente correcto, não apresentam. Quer dizer, um veio trágico até apresentam, por acaso.
Enfim, são uma seca. Mas serviram para eu me entreter a escrever isto, portanto presumo que lhes deva dirigir o meu bem-haja. No entanto, agora não me está a apetecer, fica para a próxima.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Dançar até ao fim do amor

Leonard Cohen tem uma canção cujo título me parece particularmente incisivo - Dance Me To The End of Love. E porquê incisivo? Inicisivo porque verdadeiro. Sim, porque é verdadeiro que movimentos mais desastrados ou desajeitados na pista de dança podem conduzir não apenas à vergonha alheia, mas igualmente ao fim do amor. Como gostar de alguém que é tão terrível ao nível da coordenação corporal que nos obriga a afastar o olhar, encarnadiços de vergonha, e esperar ardentemente que ninguém repare na má figura, sendo certo que está toda a gente a apontar o dedo e a rir? Parece-me provação a mais, mesmo para o amor mais enlevado.
Infelizmente, não sou daquelas pessoas que arrasa na pista de dança. Um dos meus sonhos não cumpridos e sem qualquer hipótese de concretização é ir para uma discoteca e as pessoas fazerem um círculo à minha volta, a aplaudir. Isto nunca me vai acontecer. Aliás, o meu mecanismo de legítima defesa também não o permite, porque, e isto é uma dica que poderá ser útil no futuro, quem sabe, quem tiver ideias de me torturar é obrigar-me a ser daquelas pessoas que vão para uma pista de dança dolorosamente vazia e começam para lá a mexer-se por todo o lado, sem se importar de não estar mais ninguém a dançar e perfeitamente à vontade até virem os outros todos em hordas começar também a dançar. Isto tudo para dizer que não sou nenhum John Travolta feminino, mas, acho eu, penso eu, quero acreditar, também não envergonho ninguém. Reitero - acho eu. Ainda ninguém se queixou.
Uma das coisas que me parece mais dificultosa quando nos relacionamos com os outros é, prineiro, ter de os ver na praia, em que estão tão vulneráveis que faz impressão, e depois aquela roupa de praia esquisita que não favorece quase ninguém é também penosa; segundo, ter de os ver a dançar quando dançam efectivamente mal. Não estou a falar daquelas pessoas que dançam de uma forma discreta, apagadinha, sem incomodar ninguém. Gosto destas pessoas, parece-me comportamento correcto. Estou a falar daquelas pessoas que, sendo boas pessoas, dançam mal, tão mal que sentimos aquela vergonha pelo outro inevitável e de terríveis consequências - a vergonha alheia é do pior que pode acontecer a alguém. E o outro, então, coitado, fica logo arrumado, mesmo que não o saiba.
Daí que o verdadeiro teste para sabermos se os nossos relacionamentos estão a correr bem ou não é, parece-me a mim, ir sair à noite e dançar um tanto ou quanto, basta um poucochinho,diminutivo agradável. Fica-se logo a saber. É que se for algo parecido com aquilo que este génio faz:

dizia, se for como faz este génio, é exactamente como diz o Leonard Cohen, anuncia-se a passos largos o fim do amor. Pode ser o princípio da comédia, mas é o fim do amor. As pessoas não têm culpa das suas descoordenações corporais, mas a questão da vergonha alheia é um bocadinho insuperável, pensou eu. Uma grande infelicidade. O amor verdadeiro deve ser quando a gente sente que nada do que o outro faça nos pode envergonhar, ainda que mastigue de boca aberta ou dance como este David Brent. Mas enfim, nada de sonhos impossíveis, não é, mesmo sendo Natal.
E pronto, para terminar e como não poderia deixar de ser, ainda para mais permitindo a temática do post, aqui fica a lindíssima canção desse trovador que nunca na vida envergonharia ninguém, L. Cohen:

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

"I tell you all my secrets but I lie about my past"

Estou a ler uma biografia do Tom Waits. Gosto de biografias e gosto do Tom Waits, portanto até aqui tudo bem. No prólogo, o autor diz que teve alguma dificuldade em investigar certas coisas relativas ao artista, porque o artista é um bom artista, mas muito reservado, não gosta que falem dele, não gosta de dar entrevistas, etc. Menciona-se, até, uma citação do próprio Waits (convém que uma biografia consiga citar o objecto que estuda, de facto) em que este afirma: I don´t know if honesty is an issue in showbusiness. People don't care whether you're telling the truth or not, they just want to be told something they don't already know. If you're watching a really bad movie and somebody turns to you amd says 'You know, this is a true story', does it improve the film in any way? Not really. It's still a bad movie.
Não sei se Tom Waits tem inteira razão naquilo que diz. Não é que aquelas perspectivas historicistas ou biográficas sobre a arte e quem a produz sejam assim muito interessantes  ou verdadeiras - parece-me, de facto, que os livros que se escrevem ganham uma força independente da vidinha pessoal de quem os escreveu. E porém, também não é certo que o texto, ou a música, ou qualquer forma artística, seja assim tão independente da persona de quem as cria. Por mais que o TS Eliot tenha insistido naquela ideia que ganhou tanta popularidade do texto sozinho, do texto absolutamente desenraizado do seu autor, por mais que o Bloom venha dizer que a angústia da influência tem a ver com o conflito entre as obras literárias em si, e não com qualquer complexo freudiano do artista enquanto indivíduo ou ser humano, porque é que as canções da Beyoncé são sobre o amor e anéis de noivado e as músicas do Tom Waits não? Por um lado, porque provavelmente a Beyoncé é uma máquina de fazer dinheiro que se treinou para isso, e o Tom Waits escolheu propositadamente um caminho mais reservado, mas por outro lado também é porque o Tom Waits tem com certeza autoridade para criar uma persona boémia, alcoólica, sensível, angustiada, agressiva, doce, e a Beyoncé não, porque a cabeça não lhe permite lá chegar.
Também se cita PJ Harvey neste prólogo à biografia de Tom Waits, afirmando esta que tem muita dificuldade em fazer com que as pessoas compreendam que ela é uma escritora, uma criativa, que aquilo que canta é ficção e não necessariamente realidade. Mas a própria PJ Harvey, quando lhe deu jeito, tinha ela vinte e pico anitos, deu entrevistas a dizer que sim senhora, realmente as canções dela falam muito de rejeição, de sombras e agressividade, porque ela própria passou muitos anos a ser a pessoa errada, a pessoa rejeitada. Lembro-me muito bem disto, ó PJ, portanto queres enganar quem. 
É evidente que vir dizer que "as minhas canções falam de bebedeiras porque eu próprio sou um bêbedo", por exemplo, é também criar uma persona, uma ficção. Em última instância, não tem de facto qualquer interesse saber o que é verdade ou mentira. Mas as personae que se criam e as ficções vêm de algum lado, não surgem do nada. Ainda que o Tom Waits passe todas as noites à lareira a beber leite quente com Nesquick e a ver concursos na televisão, levantando-se apenas para ir comprar alface e iogurtes ao supermercado, isso não quer dizer que as canções todas que escreveu sobre exaltações bem mais intensas, e vidas bem mais dilaceradas, não tenham vindo dele. Ele que compre iogurtes à vontade, que toda a gente vai pensar que ele vai comprar whisky e tabaco e depois vai dar uma volta ali ao Intendente. E isso tem de vir de qualquer lado; se em parte vem de quem o ouve, porque são interpretações construídas pelos ouvintes, em grande parte vem inevitavelmente dele,Tom Waits, porque foi criado por ele, e para isto não há saída nem desculpas.
Fim.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Ornatos!



Eu nem acredito que passei tanto tempo sem ouvir Ornatos Violeta. O Monstro Precisa de Amigos, quanto a mim, é dos melhores álbuns de sempre. Bom, bom, bom. É evidente que adoro este Ouvi Dizer, principalmente porque quando o Manel Cruz canta "não vais achar nada bem que eu pague a conta em raiva - e pudesse eu pagar de outra forma", penso sempre que ele tem toda, toda, toda a razão.
Há um filme que os cinéfilos têm injustamente ignorado e que se chama Cocktail, com esse actor também desvalorizado que é o Tom Cruise. E, neste filme, diz Tom Cruise "tudo acaba mal, porque se não fosse assim não acabava". É isso mesmo. Portanto, com grande pena minha, com grande pena penso eu de toda a gente, a conta só se pode pagar em raiva. Nada a fazer.
E aqui fica o meu apelo para que se preste atenção ao Cocktail, esse épico da história do cinema.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Cuidado com as companhias

Os GNR têm uma música de que gosto muito (não é novidade, os GNR acompanharam toda a minha adolescência, ou se calhar eu é que os acompanhei a eles, não sei) e que se chama Homens Temporariamente Sós, título este que, julgo eu, diz muito e diz quase tudo.
Lembro-me de ter ficado fascinada com esta canção logo à primeira audição. Aquela letra que, na altura, me soava tão estranha, era também muito atraente, e percebi com alguma rapidez que acharia alguma piada a tornar-me não num homem, mas sim numa mulher temporariamente só; isto porque achava a solidão um privilégio, por um lado, mas por outro também considerava que acarretava um certo tédio, ou por outra, nem é bem tédio, é um certo fastio, vamos lá. De modo que me parecia que um estado apenas temporário de solidão seria o ideal, entrecortado por companhias, se possível, de elevada qualidade. Estas companhias, para serem ideais, saberiam quando aparecer e reaparecer na vida de uma pessoa, tipo aqueles mágicos giros, não o David Copperfield, feio, mas mais estilo David Blaine, giro. Ouro sobre azul.
Isto era o meu objectivo de vida. Depois comecei a compreender que uma vida mesmo, mesmo como deve ser não é aquela que é solitária e de vez em quando tem companhia; é aquela que tem companhia e que de vez em quando é solitária. Assim, tem muito mais piada. Tem-se menos fastio. Menos tédio. De quando em vez, conhece-se alguém mesmo, mesmo "espectacular" e que, curiosamente, não nos chateia. Isto é que é espantoso. E também é espantoso que se pense "ah, que coisa lamecha" e depois, se formos a ver bem, não é.
Como cantam os GNR, há partilhas, regressos, conquistas por fazer, memórias a esquecer. Mas tem graça se fizermos isto tudo, por exemplo, 40% sozinhos e 60% acompanhados. É na diferençazinha na percentagem que se dá a magia. Basta saber escolher as companhias.


quinta-feira, 18 de novembro de 2010

sábado, 23 de outubro de 2010

Muralhas, rochas, ilhas, coisas assim

Há anos que não ouvia Simon & Garfunkel. Sempre gostei muito deles, mas calhou deixá-los escapar da minha vida por muitos anos até ao dia de ontem, em que comprei daqueles CDs que são uma espécie de best of, retrospectiva e assim. Pensei que não ia gostar tanto das músicas como gostava há 10 anos, e de uma certa forma de facto não gostei, mas algumas canções houve que recordei com quase tanto entusiasmo como quando era adolescente e as sabia de cor e salteado. Sem dúvida que uma das minhas preferidas sempre foi (continua a ser) I am a Rock - o adolescente fechado no quarto, a olhar a neve da janela, a sentir-se reconfortado por não precisar de ninguém e ninguém precisar dele. "I have my books and my poetry to protect me". De facto, esta ideia é muito reconfortante. Os livros são seguros, abrigadinhos. As pessoas não, só dão chatices. 
Hemingway encontrou o título do seu livro "For Whom the Bells Toll", John Donne, que também escreveu, no mesmo texto ou ensaio ou poema, não sei, "no man is an island". E daí os sinos tocarem por todos nós. E daí um certo texto de Brecht* bastante conhecido, aquele que diz "vieram buscar os comunistas, e eu não era comunista, e depois vieram buscar os católicos e eu não era católico, e depois os judeus e eu não era judeu, e depois vieram-me buscar a mim. Não havia mais ninguém." (o texto não é assim ipsis verbis; estou a inventar porque não me lembro, mas sei que a ideia é exactamente esta).
Bom. Isto para dizer que agora, como cidadã e como ser humano que tento ser, estou consciente de que nenhum homem é uma ilha nem uma rocha e que precisa de bem mais do que livros para viver. E, no entanto, também me parece verdade que conseguimos, se quisermos, viver bem separados de todos os outros. No último filme de Woody Allen que vi, Whatever Works, Larry David diz, a certa altura, que lê o jornal, vê todas aquelas desgraças inimagináveis e o que é que faz? Não faz nada,  ignora, e isto porque é demasiadamente insuportável viver sabendo que aquelas catástrofes acontecem. "What can you do? It's overwhelming", diz ele, e tem razão.
E quanto ao resto, sinceramente, todos sabemos o quão fácil é não deixar que os outros não nos chateiem, se não quisermos de facto sermos incomodados. Eu raramente quero, se me puser a pensar com alguma honestidade.
Portanto, de uma certa forma, sim, cada homem é uma ilha, com os seus livros, a sua poesia, os seus filminhos, coisas que, controladamente, propositadamente, escolhemos a dedo para nos serem próximas. Por outro lado, não, não somos ilhas, porque como diz o Brecht,* quando nos invadirem a ilha e nos vierem buscar a nós (e eu acho que mais tarde ou mais cedo vêm, porque tendo a ser pessimista, mas também realista), como é que é? Nem que seja para, mais uma vez, velar pelos nossos próprios interesses, temos mesmo de, olha, como se costuma dizer, ser uns para os outros.
O meu problema com isto é que dá um trabalhão e raramente apetece. Estou a tentar resolver este dilema.
Realmente, Simon & Garfunkel têm canções muito interessantes.



* Um leitor atencioso fez o favor de me informar que a frase não é de Brecht, como eu pensava, mas sim do pastor Martin Niemoller, tal como pode ser confirmado na Wikipedia. Aqui fica a correcção.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

One night stands



As noites passam-se como se quer, que cada um é como cada qual. Para mim, esta canção sempre disse tudo.
Os Pulp eram uma banda muito sensível e eloquente, quanto a mim.

sábado, 9 de outubro de 2010

Príncipe Encantado vs Pobrezinho mas Honrado

Uma das minhas canções de sempre, com um texto de sempre, é a Canção do Engate, de António Variações, o Grande. E sim, levem-me em auto de fé e vilipendiem-me em público qual Maria Antonieta, ainda por cima eu, que posso não ter tantos vestidos como ela mas que bem aprecio bolinhos, mas gosto muito também da versão dos Delfins, essa banda que tão rapidamente, e por culpa dos próprios, se tornou em motivo de chacota por parte de quem ouve música.
Mas continuando. Desde adolescente que me interrogo se será verdade que "o amor é um momento em que me dou e tu te dás" e, ainda mais fundamentalmente, se será verdade que é possível ficar-se à espera "do melhor que já não vem, e a esperança foi encontrada antes de ti por alguém. E eu sou melhor que nada".
Eu queria que isto não fosse verdade. Mas assim em geral, acho que é. Acho que é fácil as pessoas, e eu também, contentarem-se não com o "melhor", seja isso o que for, mas com o possível. Pronto, não é o Príncipe Encantado, mas é Pobrezinho mas Honrado, e é isso que interessa, não é?
Não, não é. O Príncipe Encantado nunca serviu para nada, mas Pobrezinho mas Honrado, ou seja, contentarmo-nos com aquilo que, na vida, nos parece apenas "o possível" também não chega, muito menos se se está a pensar naquelas coisas que maior parte das pessoas quer fazer, ou sente que tem de fazer - casar, ter filhos, comprar casa, carro, ter um cão, gostar de ensopado de borrego, etc.
Nunca se deve fazer nada, ou deixar de fazer alguma coisa, porque se tem medo - foi esta uma das lições mais importantes que a minha mãe sempre me ensinou. Consequentemente, não se deve escolher ninguém, por um momento ou para o resto da vida, porque se tem medo de ficar à espera, de ficar sozinho ou sozinha, porque depois chego aos 40 anos e como é que é. Concordo com António Variações, o amor é um momento, sim, mas ou é daqueles momentos que nos abalam a vida ou não é. Se não for assim, não vale a pena. Mandem o Pobrezinho mas Honrado ir passear.
De modo que, e concluindo, concordo em absoluto com António Variações. É uma canção triste, mas é realista. Em geral, o que vejo é as pessoas decidirem as coisas pelo "isto é melhor que nada". Não deveria ser assim, digo eu, mas é o que acontece. Também já me aconteceu a mim. Depois percebi, e felizmente a tempo, que o Príncipe Encantado podia não existir (e ainda bem, porque aquilo do cavalo branco nunca me conveceu muito), mas que o Pobrezinho mas Honrado também não enche as medidas de ninguém. Mais vale irmos à nossa vida porque há muito mais para conhecer, muito mundo para explorar e, felizmente, gente muito mais interessante para nos entreter. Não há assim tanta gente - mas vai-se arranjando.
E portanto, o meu obrigado a António Variações por me ter aberto os olhos e não me ter poupado. A esperança foi encontrada antes de ti por alguém, mas qualquer alguém consegue encontrar a sua esperança.
E por aqui termino, que este post, além de não fazer a justiça que eu queria à grande canção de Variações, está digno daqueles conselhos da revista Maria que, pensando bem, talvez seja uma opção profissional que eu não deveria negligenciar. Se alguém trabalhar na Maria e tiver um email para onde eu possa enviar o currículo, é só dizer (4000 euros por mês a trabalhar de casa e todas as despesas pagas é o mínimo que me podem oferecer, estou já a avisar. Bem haja).

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Figuras tristes


Ora bem, quando eu era adolescente (tardia, mas para os propósitos deste post vamos fazer de conta que estava nos alvores, e não no término, da adolescência), havia uma banda que me galvanizava quase tanto como os Beatles e que eram os Smashing Pumpkins. Gostava tanto deles que até tinha uma T'shirt com a feia cara do Billy Corgan estampada, Tshirt essa que eu própria tinha mandado imprimir, sendo por isso completamente única. Estalava de orgulho sempre que a usava, mas, para meu desgosto, o sentimento não era mútuo nem compreendido. Chegava até a gerar grande embaraço por parte das pessoas que eram obrigadas a andar comigo na rua. Talvez fosse porque eu gostava de usar a tal Tshirt com umas calças muito justas e umas botas militares, que mais ninguém adorava sem ser eu. Aliás, eu achava que ficava absolutamente o máximo vestida daquela maneira, e não percebia porque é que os outros não eram da mesma opinião. Que a minha avó me pedisse encarecidamente para usar um casaquinho para compor, sob pena de ter vergonha de ir na minha companhia ao supermercado, preferindo não sair de casa comigo naquela figura, ainda vá que não vá. Agora que o meu irmão mais velho, que é a pessoa mais tolerante e descontraída que eu conheço, olhasse para mim com grande pesar e, agastado, me perguntasse, "mas vais sair assim?", ou "não podes usar outra coisa?", era fenómeno que me surpreendia grandemente.

Mesmo assim, eu só deixei de usar esta roupa quando comecei a entrar na idade adulta e, enfim, deixei de ser, digamos que, magra, para passar a ter de lidar com certas protuberâncias que tornavam o uso de calças justas um bocadinho para o ridículo.

A verdade é que não me arrependo nada de ter vestido o que quis quando quis, até um chapéu amarelo com estampado de tigre (!) que, segundo um amigo meu, me fazia parecer uma "louca desvairada". É que, infelizmente, e nos dias que correm, eu bem tento usar o que me apetece, mas é difícil. Já conseguir dar bom uso às minhas queridas DocMartens é uma sorte. All Stars escavacados, que são a coisa mais confortável que conheço e de que gosto tanto, só nas férias, e é com sorte. Tshirts com nomes de bandas ou caras de artista do "roque", nem vê-las. Chapéus amarelos, ou qualquer tipo de chapéus, interdito. Eu própria deixei de gostar, porque me acachapa (lindíssimo verbo) o cabelo, o que é péssimo; a idade adulta fez-me compreender a importância de um cabelo apresentável. Uma tristeza.

Não me posso queixar. A verdade é que não tenho de andar de saltos altos todos os dias; apreciando imenso saltos altos, morria se os tivesse de usar frequentemente. Também me vou safando com calças de ganga, mas acaba aí. Mas é assim, a sociedade é um furacão tremendo, a gente pensa que se escapa mas não, acabamos todos enrolados no mesmo turbilhão e a aceder aos mesmos compromissos, às mesmas responsabilidades, aos mesmos desejos. E está tudo bem, porque apesar de tudo ainda há livros e cinema para voltarmos a reencontrar aquela parte de nós que está escondida e que é a que verdadeiramente interessa. Valha-nos isso.

E a que propósito escrevo este post lamecha? Porque hoje o ipod brindou-me com a canção que deixo abaixo e que me fez mesmo acreditar que sim, que era o melhor dia da minha vida e que ainda bem que usei e abusei da Tshirt feia, das calças ridículas e das botas militares de que mais ninguém gostava sem ser eu.

(tem de ficar o vídeo pirata porque o original está "disabled by request". Que coisa tão estúpida)



quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Copycats

Na Radar, estão neste momento a fazer uma pergunta que visa saber qual a canção-versão que é infinitamente superior à canção original.

Há muitas covers que são superiores, quanto a mim. Porém, a maior parte delas será, provavelmente, inferior, nada acrescentando a um original que ou é tão bom que já não admite mais nada, ou é tão indiferente que nada o salva. Por exemplo, qual é a piada de fazer uma versão de qualquer uma das músicas dos Colplay? Já toda a gente é dada à dormência quando os ouve. Uma versão destas cançõezinhas só servirá, com certeza, para aprofundar o tédio, que já não é pouco.

Porém, aquilo em que eu vislumbro alguma piada é quando o original é ostensivamente mau, mas depois alguém se lembra de fazer uma versão que acaba por ser boa ou, pelo menos, admissível. É o que me parece acontecer com a versão dos Travis da Britney Spears, Hit Me Baby One More Time. A canção sai tão bem disfarçada que quase parece boa. Acho este exemplo muito engraçado.

É também interessante pensar na cópia que ultrapassa o original. Acontece às vezes, tal como a velha questão do discípulo que ultrapassa o mestre, sendo isso um elogio à qualidade do mestre. É claro que a versão dos Travis está longe destas conversas de café, mas enfim. Estava só a pensar, coisa que ultimamente tenho feito pouco.



sexta-feira, 18 de junho de 2010

pedras que rolam e outras temáticas banais


Qual é a ideia de uma banda que tem o nome de um dos membros?
Não compreendo o objectivo. Não vale mais ter uma carreira a solo?
Por exemplo - Van Halen. Não compreendo esta escolha de nome. Porque é que o Van Halen não se decidiu por uma carreira a solo? Era porque não sabia cantar e precisava de um indivíduo para ir saltar, cantar e fazer figura de parvo, ao passo que ele, Van Halen, se limitava a deixar que a sua franja fizesse a figura de parvo por ele, ficando caladinho, a tocar a guitarrinha e pronto? É uma incógnita.
Outro exemplo - Fleetwood Mac. Percebo que o Mick Fleetwood tenha sido o fundador. Mas então porque é que não escolheu ser artista a solo? Se precisava de uma gira loura e maluca, com a mania que é bruxa pagã (é o que me consta da Stevie Nicks), para vender discos, então que tivesse respeitado os outros e tivesse dado um nome mais democrático à banda - Fleetwood Mac & Stevie, por exemplo, sei lá.
Estas bandas deveriam pôr os olhos num exemplo de classe, bom gosto e democracia - Crosby, Stills & Nash, que por vezes, como bem se compreende, eram os Crosby, Stills, Nash & Young. Pois é. Ao menos, está o nome de toda a gente muito bem discriminadinho.
Analisando agora uma outra problemática, também acho foleiro que certas bandas decidam incorporar o próprio nome nas canções. Os Porno for Pyros tinham uma música que se chamava: Porno for Pyros. O refrão era: Porno for Pyros. Para o caso de ninguém ter percebido bem a designação da banda, sentiram esta necessidade de enfatizar. Também não compreendo tal necessidade. Deriva, provavelmente, de certas inseguranças e desejo de afirmação. Considero desagradável. O meu irmão dava sempre o exemplo do ridículo que seria se os Smashing Pumpkins decidissem escrever uma canção cujo refrão fosse o nome da banda. Pois é. Muito inconveniente, e até feio. Nem os Beatles se safam - uma canção chamada Beatles seria terrível. Neste aspecto, os Rolling Stones têm mais sorte porque foram buscar o nome a uma música irrepreensível do Muddy Waters, e portanto aqui nada a dizer.
Mas voltando às bandas cuja designação corresponde ao nome de um dos membros - é muito pouco democrático. Eu não gostaria de estar numa banda chamada "Sousa", ou "Santos", ou "Ferreira". Mais vale pertencer a um conjunto musical tipo Jorge Santos e Seus Muchachos. Sempre seria mais honesto.
E agora, parar com toda a parvoíce e abrir coração e ouvidos ao momento musical que se segue. Impecável. Soberbo. Este Muddy Waters era rei. Os Rolling Stones tinham muito bom gosto, de facto.



Well, I wish I was a catfish,
swimmin in a oh, deep, blue sea
I would have all you good lookin women,
fishin, fishin after me
Sure 'nough, a-after me
Sure 'nough, a-after me
Oh 'nough, oh 'nough, sure 'nough

I went to my baby's house,
and I sit down oh, on her steps.
She said, "Now, come on in now, Muddy
You know, my husband just now left
Sure 'nough, he just now left
Sure 'nough, he just now left"
Sure 'nough, oh well, oh well

Well, my mother told my father,
just before hmmm, I was born,
"I got a boy child's comin,
He's gonna be, he's gonna be a rollin stone,
Sure 'nough, he's a rollin stone
Sure 'nough, he's a rollin stone"
Oh well he's a, oh well he's a, oh well he's a

Well, I feel, yes I feel,
feel that a low down time ain't long
I'm gonna catch the first thing smokin,
back, back down the road I'm goin
Back down the road I'm goin
Back down the road I'm goin
Sure 'nough back, sure 'nough back

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Deixai que as criancinhas ouçam música

Um amigo deixou-me um chamado "share" muito querido no mural do facebook. Era aquela cantiga do Chico Buarque chamada Agora Eu era Herói, que costumávamos ouvir em pequenos.
Além desta, ouvíamos também o Barata Moura, o Jardim Jaleco, cantigas tradicionais, um disco brasileiro giríssimo que tinha uma capa à Monty Python e uma cantiga que rezava "era uma casa muito engraçada, não tinha tecto, não tinha nada...", o Sítio do Picapau Amarelo, a Cinderela e o Pó de Arroz do Carlos Paião e o Tony Silva ("Tóniiiii.... meu nome é Tóni Silva, sou grande criador de toda a música rock" - durante anos, pensei que o verdadeiro nome do Herman José era Tony Silva), e mais tarde o Serafim Saudade. Tudo coisas com piada. Algumas delas, não sendo de elevadíssima qualidade musical, eram perfeitamente giras e aceitáveis e não feriam os ouvidos de ninguém.
Ora. Não sendo eu daquelas pessoas que enlouquece à vista de crianças, considero-me porém como pessoa que gosta de crianças (o que há para não gostar, exceptuando quando são chatas?). E é por isso que vejo com algum pesar o lixo musical a que elas estão sujeitas. Há esta mania insuportável de considerar que as crianças, por serem pequenas, são parvas, de modo que qualquer coisa que se lhes dá será, com certeza, bem vinda. E é ver os pequenitos expostos a cantiguinhas da índole do "fantasminha porcalhão, não venhas para aqui não", de um renovado e digitalizado Avô Cantigas, e as músicas da carochinha em DVD, de animação miserável e som mutilado por computadores ranhosos. E as criancinhas a ver e a dançar, porque não conhecem melhor.
Atenção. Eu também ouvia muita porcaria quando era pequena. Mas porcaria daquela que, revelando eu tais embaraços em público, daria com certeza direito a enxovalhos públicos, e merecidos, ainda por cima. De modo que não vou revelar. O que acontece é que, entre essa porcaria, também ouvia muita coisa boa, além de ter tido a sorte de ter nascido num tempo em que, se se queria que os miúdos ouvissem Mozart ou Prokofiev, por exemplo, punha-se a tocar um disco de Mozart ou Prokofiev e pronto, ao invés de recorrer a mariquices inúteis como "Mozart para bebés" ou "Prokofiev para bebés". Este tipo de produtos só existem porque se assume, de facto, que as crianças são parvas e que não têm idade para ouvir música clássica a sério, que ainda as traumatiza. Então, será melhor ouvir música de qualidade inferior, uma mistela de sons de plástico, para lhes acalmar (e treinar) os ouvidinhos. Ainda gostava de encontrar, por exemplo, a versão "Pedro e o Lobo" para bebés. Ou, melhor ainda, o Carnaval dos Animais para bebés. É que estas obras, como é sabido, são perigosíssimas, destinadas somente aos ouvidos calejados de um adulto e será melhor mantê-las bem longe dos pequenotes.
Por isso é que eu gosto do facto de Jesus ter dito "deixai vir a mim as criancinhas". Ele não estava com paternalismos e coisas. A sensação que tenho é que respeitava as crianças. Se fosse hoje, Jesus dava-lhes a ouvir música a sério e pronto. Por acaso, sempre simpatizei com Jesus neste aspecto.



segunda-feira, 7 de junho de 2010

Para Jagger e Richards

Milton Nascimento escreveu uma canção chamada Para Lennon e McCartney. Penso sempre num certo imperialismo anglófono quando a ouço, e penso também que sou, inevitavelmente, vítima desse imperialismo.
Como muitos outros países, somos colonizados. Não quer dizer que não haja vantagens neste estado de quase aculturação em que nos encontramos. Eu, por exemplo, gosto muito de cinema americano, de literatura anglófona, não viveria sem a música dos Beatles, e tenho com o Reino Unido uma relação fortíssima há muitos anos, ainda que se tenha tornado cada vez mais desiludida. Mas é um laço que, quer queira, quer não, é sólido e tão cedo não se romperá.
Porém, o estado de colonização em que me encontro é também óbvio. E, apesar de eu embarcar nele, há que dizer que acarreta uma certa saloiada muito indesejável. Esta adoração reverente e quase ridícula pelo inglês (língua que eu própria adoro, mas pronto). Terminar as frases com "whatever" é uma aberração que me atinge de forma retumbante. Levo muitos dias para me recompor. Os empacotados que passam todos os dias na televisão, alguns de grande qualidade, há que dizê-lo (Sopranos "forever" - sim, já admiti que eu própria sou colonizada), outros de qualidade mais dúbia, como a saga de lamechiche em catadupa dos Irmãos e Irmãs, assépticos wasps (mais outra) que enjooa. Entusiasmo injustificado por coisas que não ultrapassam a mais comum das vulgaridades, como por exemplo cupcakes - e não me venham dizer que é por ser novidade. Eu adoro cupcakes, acho uma graça, são muito queridinhos. Mas são queques com um molho cheio de corante por cima. Num país em que há bolas de Berlim à disposição, pastéis de nata a estalar, vê-se gente a fazer fila para a barraca do Campo Pequeno que vende cupcakes. Pá. Não se percebe. Tal como não se percebe bem que o Expresso publique uma receita do Jamie Oliver em cada edição, como se não houvesse tradição de boa comida neste país. Há duas semanas, ou na semana passada, a receita do Jamie, publicada num jornal português, neste país onde, como se sabe, ninguém sabe cozinhar peixe, era precisamente peixe grelhado. Pausa para absorver a bizarria disto.
São estes pequenos sinais de aculturação que eu absorvo, aceito, apoio, e acerca dos quais perco a autoridade para falar. Mas escrevo este post porque quero demonstrar a mim mesma de que estou ciente do que me está a acontecer. Uma espécie de desculpa. Para me fazer sentir melhor. Embora não faça.
Gostava muito que o Milton Nascimento tivesse escrito algo para Jagger e Richards, por exemplo, e deixasse o Lennon e o McCartney em paz, que era para eu descontrair. Deixa-os lá trabalhar, ó Milton.