quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Conversa de café

- Olha a D. X! Há tanto tempo que não a via, tá tão gira!

(esforçando-se por exarcebar a falsa modéstia, mas não enganando ninguém relativamente ao contentamento que o elogio lhe provocou) - Tou gira? Ai, não percebo como, o cabelo a precisar de ser arranjado, todo despenteado, com o vento... mas já é a segunda pessoa que me diz que eu tou gira, não sei com'isso é... (sorrisinho disfarçado)

- Pois. Também não vinha cá há tanto tempo, se calhar é isso...

- É, mas eu gosto de cá vir, vir cá ver vocês.

- Pois.

- Tive uma manhã tão complicada, ai.

- Ah...

- Então, convida-me uma colega para ir com ela ali à Junta de Freguesia, qu'ela tinha qu'ir tratar dum cartão pá filha. E eu disse, vamos lá, então. Chegamos cá abaixo, vai ela, vê que são horas de almoço, mete-se no carro e diz-me assim, ó X, olha, eu agora não te posso ir levar lá acima!

- Ah, teve de ficar cá em baixo... olha...

- Pois é, fiquei cá em baixo! Mas isto tem algum senso? É que eu acho que não, não tem senso! Para mim não tem senso, né.

-Pois. Oh, também deixe tar, fique aí a almoçar.

- Tá bem, mas agora tenho de ir a pé lá p'ra cima, vou chegar atrasada e tudo...
A D. foi traída pela amiga. Está mal. As pessoas não têm sensibilidade nenhuma. Mas, pelo menos, a D. X ficou a saber que os senhores do café acham que ela é gira, o que talvez compense ter ficado apeada porque a amiga se pirou de carro.

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