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Assim, à partida, diria que os meus sonhos para este ano, sem nenhuma ordem em particular, são:
1) ser a melhor amiga de Woody Allen, aquele tipo de amiga que ele até menciona nas entrevistas; por exemplo, perguntam-lhe "Sr Allen, como é que se lembrou de fazer um filme tão profundamente brilhante, que disseca toda a problemática existencial da vida humana até ao seu mais escondido âmago e responde a todas as questões que atormentam a humanidade há séculos, e que mesmo assim tem imensa piada, aliás, é até hilariante, ainda mais hilariante do que o Bananas, e ainda mais mimoso e querido do que Annie Hall?", e ele responde, "Olhe, foi tudo ideia da minha amiga Rita. A minha amiga Rita é linda. Gosto mais de falar com ela do que com qualquer outra pessoa. Ela admira muitíssimo o meu intelecto pessimista e o meu humor impecável, e adora em absoluto os meus filmes, e eu acho que ela é a pessoa mais espectacular de sempre, a fonte de toda a minha inspiração, de modo que nos damos muito bem. Queria deixar aqui bem claro que a minha amiga Rita é imprescindível à minha vida, até mais do que a minha própria mulher e filhos. Aliás, a minha mulher também foi minha filha... aaaaaah... se não fosse a minha amiga Rita, eu já tinha perdido a sanidade mental". (o que posso eu fazer, o Woody precisa de mim, só que ainda não sabe)
2) comer chocolate belga e charlotte de chocolate belga (e com natas frescas, não com arraçados de chantilly, atenção!) e em geral tudo o que contenha chocolate belga à vontade sem ficar com dor de barriga e sem engordar
3) "peace to my black and empty heart", como canta a grande PJ Harvey, e já agora, peace não só para o meu coração, mas assim para o coração do mundo em geral, que precisa ainda mais do que eu (qualquer semelhança entre isto e os discursos muitíssimo inteligentes das misses é pura coincidência)
4) tentar ler o Ulysses (e conseguir acabar o livro e gostar, porque não)
5) ler tudo o que há para ler de F. Scott Fitzgerald
6) conseguir ver o Exorcista à noite, na cama, com a luz apagada e ficar sobressaltada, mas não ter medo (o máximo que consegui até hoje foi ver o Exorcista às seis da tarde e acabar mais ou menos às oito, e já com a luz bem acesa. Este filme é grande filme de terror, sem dúvida nenhuma)
7) apaixonar-me por Portugal, mas não aquela paixão idiota que nos faz ver tudo cor-de-rosa e elimina o sentido crítico; antes, quero o afecto que nos faz gostar tanto que queremos sempre mais e melhor para o objecto da nossa afeição. A ver se este ano a coisa se dá.
8) que todos estes sonhos se cumpram, e mais alguns (acabar a tese e tal também calhava bem, mas este não pode ser sonho, tem de ser mesmo facto consumado, de modo que só o incluo nesta lista a 50%, não na sua totalidade)
Acho que é mais ou menos isto.
2 comentários:
1) Li algures – não recordo onde, mas era classy stuff, só pode, New Yorker ou Metro ou isso :), mentira, foi numa antologia de entrevistas com o Woody Allen, um episódio contado pela Goldie Hawn. Ela tinha uma espécie de casting, uma entrevista preliminar para o papel de Steffi em ‘Everybody says I Love You’. Entrou, muito nervosa, na salinha que lhe indicaram, sentou-se, e do nada apareceu o Woody Allen (desculpe a vírgula antes da copulativa, não consigo evitar). Ele sentou-se também e ficou simplesmente a olhar para ela. Após uns largos, muito largos minutos de embaraçoso silêncio, ele disse: ‘Acha que podia sair da sala? Não sou capaz de lhe perguntar nada enquanto estiver aí’.
4) Que bom saber que não sou o único a escrever o título ‘Ulysses’ na grafia original. Confesso que faço isso por achar que o livro tem tanto a ver com o Ulisses (ou com a Odisseia, já agora) como eu com um Ford Mondeo ou o Brad Pitt, mas nem toda a gente entende este tipo de pedante honestidade.
Ulysses é mesmo um pau-de-sebo, dá luta, mas a gente apega-se-lhe.
Obrigada por me contar a história da Goldie Hawn. Se calhar a Goldie Hawn tornou-se a melhor amiga do Woody Allen, não tendo ele "precisão" de mim. Que pena.
Da mesma forma que faz sentido escrever "Ulysses", também faz muito sentido vírgula antes de copulativa. Pessoalmente, e como nunca concordei com esta regra gramatical, sou adepta da vírgula antes de copulativa,e nunca desmereço um texto que faz uso dela (da vírgula antes de, etc.).
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