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sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Coisa que não compreendo: "trata"

Não é que não compreenda o "trata"; o que não compreendo é porque é que eu sou a única pessoa que tem de apertar a cara para não rir quando vê um carro a circular com o aviso "trata - número de telemóvel qualquer". Às vezes, não é só em carros, também é em terrenos - "trata", seguido de número de telefone. E casas, também - "trata". E motas - "trata". E lojas vazias - "trata".
Passei décadas sem perceber isto. Mas porque é que as pessoas não escrevem "vende-se", que é mais explícito e com certeza cumpre melhor o objectivo delas, que é efectivamente vender qualquer coisa? Porquê o "trata"? Trata de quê? Se eu puser "trata" no carro, quer dizer que sou mecânico, que trato de carros? Se puser "trata" num terreno, quer dizer que sou guarda-florestal e dou uma perninha como empreteiro e tipo, trato da casa e do jardim? Trata o quê?
E pensei nisto e pensei nisto e voltei a pensar, e gostava de pensar nisto, porque me fazia rir, mas sempre sem perceber (não podia ir ver à wikipedia porque nessa altura não existia internet). Até que comentei a temática com alguém mais esperto que me informou que, por razões legais, os particulares (isto é, os cidadãos particulares) não podem andar por aí a expor sinais de "vende-se" ao Deus-dará. Não, não. Tem de ser "trata", de "trato próprio", ser o próprio a tratar e isso. E isto de facto faz sentido, porque lembro-me de, durante muitos anos, as pessoas escreverem "trata o próprio", e não apenas "trata". Qual é a ideia de reduzir a expressão deste modo, tornando-a tão críptica? "Trata"! - pode significar tanta coisa. Trato-te da saúde. Trato-te da vida - tudo coisas à Máfia. Penso no Michael Corleone a despachar o desgraçado do Fredo e fazer um apontamento mental na agenda - "trata".
Agora que penso (ou continuo a pensar) nisso, talvez a ideia seja mesmo manter a expressão críptica, indecifrável, inteligível apenas para os iniciados, para fugir da bófia e do sistema legal, uma coisa à cockney, o melhor exemplo de linguagem anti-sistema. "Trata", o mote do rebelde que só outro rebelde pode compreender.
Trata. Trata.
Amanhã se calhar escrevo outro post, ou melhor - trata.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Coisa que não percebo inteiramente: autocolantes nos carros a anunciar que se transporta um bebé

Não percebo muito bem a utilidade disto, porque aquele condutor que é irresponsável e descerebrado pensa sempre que pode andar à velocidade que quiser que nunca provocará um acidente, de modo que não deve querer saber se há ou não bebés nas outras "viaturas", como diria a GNR. E enfim, se se está no pára-arranca no trânsito e se vê o carro à nossa frente com o autocolante "bebé a bordo" fica-se mais ou menos na mesma - não é do meu interesse ir contra o outro carro, porque ainda por cima se chocar por trás a culpa é automaticamente minha, com ou sem criancinha. E não dá jeito andar a pagar mais seguro. 
No entanto, embora as minhas faculdades mentais não compreendam totalmente a utilidade destes autocolantes, consigo compreender que os pais mais preocupados o escarrapachem nos vidros traseiros das suas "viaturas". O que as minhas faculdades mentais e estéticas condenam, sem que eu consiga controlar, são as variações dos autocolantes "bebé a bordo" - "princesa a bordo"; "pestinha a bordo"; "Tiago a bordo" (o pessoal acha graça anunciar o nome dos filhos ao mundo - porquê?) e quejandos. É quase tão mau como aquele autocolante da menina de chapéu e cabelo comprido que dantes se via muito. Por acaso o autocolante  da menina é de facto péssimo, ao passo que os autocolantes respeitantes a bebés, em boa verdade, até se suportam, mas pronto. 
Conclusão - isto da UGT e CGTP não se entenderem no sentido de uma greve geral num momento destes é assim, tipo... nojentinho. 

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Coisa que não compreendo: as pessoas que, mal chega o calor, vão logo para a praia

Não compreendo, mas não é que não apoie, muito pelo contrário - eu gostava de ser como estas pessoas, esta gente que, no primeiro dia de sol e calor, já está prontíssima para ir para a praia e vai mesmo, bastando um dia para adquirirem um bronze resplandecente, como aquele que eu nunca tive nem nunca terei. Aliás, o meu médico já me admoestou, devido a todos os escaldões que apanhei, dizendo-me para desistir, que eu era pessoa sem melanina e que vivesse com isso. Não é verdade, é claro que tenho melanina, mas pronto, tenho uma melanina que é fraquita.
Continuando. Eu, para ir à praia, tenho primeiro de me preparar psicologicamente. Ver se o biquini do ano passado ainda está decente, porque se não estiver tenho de ir comprar outro, e demoro sempre imenso tempo a escolher um biquini que não seja ridículo. Detesto comprar bikinis ou sequer pensar em bikinis, detesto. Depois, tenho de me lembrar onde pus as toalhas de praia do ano passado, o saco, os chinelos. A seguir, tenho de ir comprar um bom protector solar, porque diz que não se devem usar os de anos passados, que perdem propriedades. Segue-se a preocupação com o cabelo, se vou à praia não vale a pena ir ao cabeleireiro porque o cabelo estraga-se todo de qualquer forma, mas a verdade é que está mesmo a precisar de um jeitinho, e portanto talvez seja melhor ir. Depois é procurar roupa de praia, uma tshirt, uns calções, e escusado será dizer que nunca tenho nada disso no armário.
Se consigo chegar à praia depois de todas estas tarefas, há que escolher cuidadosamente a hora do dia, se não quero sair de lá que nem lagosta escaldada, semelhante aos ingleses de tronco nu nas esplanadas, ou até pior. Depois, arranjar um sítio com sombra, e isto partindo do princípio que as outras tarefas a que uma mulher tem de se dedicar, tipo livrar-se do pêlo esteticamente feio, já foram tratadas. 
Dir-me-ão, como já me disseram antes: 'és mesmo parva, pá, queres ir à praia vais e pronto!'. Sim, é verdade que não consigo ir para a praia a correr porque a minha cabeça está cheia de censores mentais, mas também não consigo dar um mergulhito a saber que não percorri todas as etapas que deveria ter percorrido. A verdade é que não gosto assim tanto de praia, e que até a prefiro no Inverno, o areal deserto, o mar desgovernado, uns pontinhos escuros aqui e ali que marcam a silhueta de alguns corajosos surfistas, ninguém à volta a chatear. 
Mas isto não impede que não inveje profundamente quem está prontíssimo para ir para a praia em cinco minutos, tudo no lugar, e regressa depois com aquele tom dourado e saudável de um bom raio de sol. Não sei como é que estas pessoas fazem. Começam a tratar das coisas com antecedência porque o boletim metereológico lhes diz que dali a uns dias vai estar sol? Ou andam o ano inteiro em dietas, em depilações, em isto e aquilo para estarem perfeitas quando finalmente o primeiro dia de Verão se anunciar? Não sei. Sei que eu não sou assim porque, com alguma pena, preciso de preparação psicológica para tudo. 

terça-feira, 12 de junho de 2012

Coisa que não compreendo: "não tenho tempo"

Sei que por vezes é efectivamente verdade, mas o facto é que esta desculpa do "não ter tempo" soa apenas a isso mesmo, a desculpa. E daquelas muito esfarrapadas.
Considero estranho que, subitamente, as pessoas deixem de ter tempo para ler, ou sair um bocadinho, ou ir a uma exposição ou uma coisa qualquer assim que as faça descontrair. A gente pergunta, "ah, já viste o filme tal", e a resposta é quase sempre "não, ainda não tive tempo", ou pior, "não, nunca tenho tempo". E depois argumentam com o trabalho ou com os pobres dos filhos que, já percebi, são sempre responsáveis por todos os enfados, cargos e falta de tempo dos pais. "Desde que os meus filhos nasceram que eu não leio um livro como deve ser" - estou sempre a ouvir esta frase tenebrosa. "Não tenho tempo para ler o jornal por causa dos putos", e etc. e etc.
Além de ser uma injustiça para com os ditos putos, não percebo porque é que as pessoas pura e simplesmente não admitem a causa natural das coisas, que é não a falta de tempo, mas sim a falta de vontade. Pronto, admitam que preferem passar o pouco tempo livre (não duvido que seja pouco) que têm no Óbidos Vila Natal e/ou Feira do Chocolate, ou de pijama em casa, ou a dormir, ou envolvidos em qualquer outra actividade insuportavelmente entediante. Ninguém tem nada a ver com isso, e apesar de eu ter acabado agora mesmo de emitir um juízo de valor, não o devia ter feito porque, como igualmente afirmei, não tenho nada a ver com as escolhas de cada um. Cada um é como cada qual.
Mas não é a falta de tempo que nos estraga a vida, é mesmo a falta de vontade. Acho eu.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Coisa que não compreendo (nem quero): despedidas de solteira

Em boa, e toda, a verdade, eu só fui a uma despedida de solteira. Vi fotografias de dezenas de outras e nunca me entusiasmaram.
As despedidas de solteira que eu conheço são sempre a mesma coisa, ou eram (há algum tempo que os meus amigos se deixaram de casar, agora ou divorciam-se ou têm filhos), continuando, as despedidas de solteira são sempre a mesma coisa. Um jantar não sem onde com presentinhos atiçados em forma fálica, e seguidamente uma ida a um bar ranhosíssimo não sei onde com homens depilados e oleados que dançam e se esfregam na noiva. E mulherio aos gritos.
Eu, como mulher, tenho todo o respeito pelas outras mulheres, ainda que estas procedam de uma forma que, digamos que, a gente tem alguma dificuldade em respeitar. Mas respeita à mesma. Se há mulheres que acham graça a um homem depilado (enfatizo, reitero e repito: depilado) em certos propósitos, enquanto as amigas batem palmas e gritam muito, ao som de uma música daquelas inanes, tudo bem. 
Eu confesso uma coisa - se estes homens depilados fossem o Joaquin Cortés em novo, obviamente não depilado, aí sim, eu achava graça e até participava, acho eu. Ou teria participado. Mas dado o modus operandi que é, não percebo bem onde está a graça. Um homem bem apessoado é um homem bem apessoado, e eu gosto de boa estética como qualquer outra pessoa, mas aquela chungaria toda é demais para mim. 
No entanto, o que não percebo fundamentalmente é o frenesim em querer comemorar a vida de solteira como se se estivesse a perder o melhor dos mundos possíveis. Se a pessoa gosta assim tanto de ser solteira, talvez seja melhor continuar nesse belo estado civil e ignorar o casamento. 
Mas enfim, sinceramente tanto me faz. Na verdade, não tinha mais nada para escrever e lembrei-me disto. Obrigada pela atenção. 

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Coisa que (não) compreendo: as várias designações para café nas pastelarias portuguesas, mormente "abatanado"

É uma coisa que não compreendo, mas que gostava de compreender. Não compreendo devido à minha ignorância. Há tanta forma de pedir e servir café neste país que não evito uma imensa fascinação por esse mundo ignoto, pelo menos para mim. 
Abatanado. Já me explicaram o que é, mas eu esqueço-me sempre. A minha mente rejeita este conceito, não sei porquê. Acho que nunca hei-de saber o que isto é, o que lamentavelmente também significa que nunca vou poder pedir o tal "abatanado" num café. Também há o problema de a palavra "abatanado" me fazer rir. Parece que estou a contar uma anedota ao senhor do café em vez de lhe estar a pedir qualquer coisa. Enfim, continuando. 
Meia de leite e suas variedades.
Meia de leite directa. 
Meia de leite de máquina. 
Meia de leite clara. 
Meia de leite escura.
Carioca. 
Bica.
O singelo "café". 
Café curto.
Italiana (acho que é o mesmo que café curto).
Café pingado.
Galão. 
Galão escuro.
O meu preferido, e este desconheço de todo o que seja, é o café "sem princípio". Desconheço, mas parece-me uma possibilidade maravilhosa e sofisticadíssima poder ir a um cafézinho (estabelecimento, entenda-se) e pedir um café "sem princípio".
É por isso, pela possibilidade misteriosa de o abatanado e do café sem princípio, que eu ainda gosto de viver parcialmente em Portugal, apesar de tudo o resto. 
Um país abatanado é um país com futuro.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Coisa que não compreendo: porque é que a Hellman's se passou a chamar Vianeza

Eu gostava muito da Hellman's, verdadeira maionese, mas agora que se chama Vianeza, sinceramente, penso que mais vale comprar Calvé ou maionese Pingo Doce, apesar de serem claramente inferiores à Hellman's. É que Vianeza parece nome de gelado, faz-me confusão abrir um frasco de maionese e olhar para o creme branco quando sei que o frasco diz "Vianeza", já que o creme branco parece gelado e fico sem saber o que esperar do paladar, se doce, se salgado, se a gelado, se a maionese e enfim, fico com o apetite estragado e é uma arrelia.
De certeza que a Hellman's paga fortunas a uns tipos do marketing super-espertos que aconselham a estas mudanças de nome, e não sei o que lhes passou pela cabeça para ignorarem a óbvia semelhança entre "Vianeza" e "Vianeta". É que, quer dizer, é uma mísera consoante de diferença, o que não é nada. Na prática, é o mesmíssimo nome.
Era como aquele chocolate chamado "Dove", que nem era mau chocolate, mas eu não o consumia porque me sabia sempre a sabonete. 
Um nome diz muita coisa. Pois é.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Expressão que não compreendo: "jovem"

Já me faz espécie (em si mesma, magnífica expressão) que as pessoas se refiram a essa entidade estranha designada por "os jovens". Esta série explica muitos dos problemas "dos jovens". "Os jovens" hoje em dia não querem trabalhar. A droga é um flagelo que atinge "os jovens". A expressão "a juventude" sempre é mais cómica. Continua a não ser muito simpática, mas enfim, é engraçada.
Ainda pior é quando algumas pessoas (vulgo "cotas", para usar uma expressão que "os jovens" também usam) decidem, parvamente, fazer de "jovem" uma forma de tratamento. "Jovem...?", quando vamos a uma café, por exemplo. "E para o jovem, o que vai ser?", "até à próxima, jovem".
Brrrrr. Só me consigo lembrar de tratamento pior quando, uma vez, um parvalhão qualquer se lembrou de se despedir de mim com "ilustre". Em vez de dizer, "então adeus, Rita", já que sabia o meu nome (sei que ele sabia porque me tinha chamado assim ainda nem há cinco minutos), decide dizer "ilustre... adeuzinho". Eh, pá. Mas que coisa tão feia.
Mas enfim. Eu penso que as pessoas consideram que estão a ser simpáticas quando usam "jovem". Afinal, toda a gente quer ser "jovem" e ninguém quer ser velho, muito menos tratado por "velho". Mas há formas mais simpáticas - por exemplo, apesar de eu já ser "velha" (pronto, digamos que para lá caminho estugadamente), ainda no outro dia fui a um café e o senhor tratou-me por "menina". Isto é adorável - este tratamento, sim, é gracioso, é querido. Agora "jovem".
É que, ainda por cima, eu nem sequer sou muito jovem. Aliás, vivesse eu há 100 anos e já era velha, mas com a esperança de vida a esticar e o pessoal trintão sem dinheiro a viver em casa dos pais a ter de ser apelidado de "jovem", se não ficamos mal vistos, pronto, sou jovem.
O que me leva a indagar, a questionar-me com alguma intensidade - o que se passa com o português e formas de tratamento? Parece que há tratamentos linguísticos à vontade do freguês (esta expressão, adoro). Ah, eu acho que tu tens cara de jovem? Então pronto, trato-te por jovem. Ah, tens cara de menina? Pronto, fica menina. Ah, és mais composto? Pronto, ficas "senhor". E assim por diante.
Não penso que estejamos ainda em condições de compreender o poder atribuído a quem escolhe uma forma de tratamento para se dirigir a outrem. É que entre um "você", um "jovem", "menina", "senhora", e porque não "doutor", "doutora" e quejandos, há uma grande distância, aquela que separa juízos de valor de toda a forma e feitio sobre a nossa própria pessoa. Cuidado com as aparências, é o que digo.

Adenda: este texto tem muitas aspas. É irritante. Peço desculpa pelo incómodo.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Coisa que não compreendo: os "spoilers" das críticas de cinema do Público

Para dizer a verdade, este infortúnio (estar a ler uma crítica de um filme no Público e despontar um spoiler, do nada, sem que a pessoa se possa precaver) só me aconteceu duas vezes. No entanto, considerando que não devia ter acontecido nunca, considero que duas vezes é sobejamente horrível e indesculpável (nota para avisar que este post também contém spoilers. Ao menos, eu aviso).
O primeiro "spoiler" foi traumático, tal foi a sua magnitude. Foi há muitos anos, há tantos que a Missão Impossível (a primeira) tinha estreado e o Y nem sequer era o Y, era uma revista pequenina e fininha que saía com o Público ao fim-de-semana. Bom. Estava eu a ler esta revistinha, embalada na crítica à Missão Impossível, e eis que se diz qualquer coisa como isto - "o que é muito bom neste filme é Jon Voight como vilão". Hã? Eu mal queria acreditar. Acontece que o papel interpretado por Jon Voight era apenas e só o de Jim, isto é, o de mentor, o de chefe da equipa. Acontece que dizer que Jon Voight era o vilão era desmascarar a surpresa toda. Ou seria que o crítico estava à espera que ninguém soubesse quem era o Jon Voight?! Como anteriormente já referi - indesculpável e muito pouco profissional.
Na minha ingenuidade, eu pensei que coisas destas não se iriam repetir. Afinal, este infeliz incidente fora há anos, o público hoje lê mais coisas, ou pelo menos tem acesso a mais coisas, revistas e sites de cinema muito certinhos, em que os spoilers são devidamente assinalados, o que torna o próprio Público também mais exigente (em consequência do seu público - ah, ah). Veja-se o site novo do Cinecartaz, uma beleza toda profissional.
Pois bem. Há uns tempos, estava eu então no site do Cinecartaz a ler a crítica a um filme que se chama Casa de Sonhos, que ainda não vi, mas que parece que é meio de terror e parece que é giro. Eu gosto de filmes de terror mas gosto de saber de antemão se são mais artísticos ou mais para o gore, de modo que me pus a ler a crítica. E cito (negrito, itálico e sublinhado meus): 


Mais uma vez, a minha destreza verbal consegue resumir-se apenas a: hã?! Mas como é que passa pela cabeça da pessoa que escreveu isto (nem é uma crítica, é apenas a sinopse) que eu quero saber que o tal Peter e o tal Will são a mesma pessoa? Mesmo que seja daquelas coisas que a gente fica a saber logo no início do filme, o que eu duvido, eu não quero saber e tenho direito a não saber. Afinal, num filme de suspense, qualquer facto novo serve para nos surpreender. Reitero - indesculpável.
Agora já nem sei se quero ver este Dream House. Mas que chatice.
Com as devidas distâncias, sinto-me um bocadinho como João da Ega quando descobriu, da forma mais parva e assustadoramente banal possível, que o Carlos da Maia era irmão da Maria Eduarda. Quer dizer, ele não tinha perguntado nada a ninguém, estava muito bem na vida dele, não pediu para partilhar de nenhum segredo, e de repente cai-lhe aquela informação no colo, e ele não pode voltar atrás, não pode fazer nada, porque quando se sabe uma coisa já não dá para deixar de saber. E depois é obrigado a fazer qualquer coisa sem ter nada a ver com aquilo. Que injustiça, que sentimento de impotência tão chato - o de saber que agora sabemos uma coisa que não pedimos para saber, que não queremos saber, que não devemos sequer saber.
A ignorância é, por vezes, bem mais sábia e sensata. 

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Expressão que não compreendo: "o português"

Acho sempre muita graça quando as pessoas se referem a esse animal esquivo e exótico que é "o português", como se fosse uma entidade que lhes é absolutamente estranha, com a qual não têm nada a ver e que normalmente acumula todos os defeitos que elas próprias pensam que só os outros, e não elas, é que detêm.
"O português deixa tudo para a última da hora, e depois é isto".
"Já se sabe que com o português não há hipótese - é sempre tudo ao molho e fé em Deus"
"A gente ainda tenta ter algum cuidado, mas o português não está habituado a coisas boas e vai e estraga tudo"
"O português é sempre assim, andou anos a gastar dinheiro em telemóveis e carros e depois queixa-se que anda em crise"
"Anda toda a gente revoltada com os cortes e com a crise, mas o português parece que não percebe que não há dinheiro!"
O caso torna-se ainda mais engraçado quando "o português é substituído pela catita entidade designada por "tuga" - o tuga é assim, sempre a estragar tudo. Quer dizer, nenhum de nós, portugueses, se reconhece neste misterioso "português" - este "português" é uma entidade à parte, é tudo o que está mal no país, mas não é nenhum de nós. É outro qualquer. Não consigo decifrar este interessante mistério, a sério que não consigo.
E tem igualmente graça, quanto a mim, saber que o problema reside precisamente no facto de "o português" não se queixar o suficiente, de "o português" aceitar demasiadamente bem esta conversa de que não há dinheiro, de "o português" não se revoltar ainda mais indignadamente contra o afundar da sua identidade, enfim, no facto de "o tuga" engolir este discurso da crise, aplaudir o FMI e ainda chorar por mais. Tudo bem que nos ensinam a dar a outra face, mas bolas, há limites para tudo.
"O português" fez uma greve geral no dia 24 de Novembro, mas o que observo é que "o português" está, em geral, muito resignado ao discurso miserabilista que nos faz saltar para o abismo. As pessoas parece que aceitam tudo. Porquê? Porque é que não vamos para a rua partir tudo como os Gregos, mandar o governo todo para o c******* como eles merecem, se assim como assim, para os c***** das agências de rating somos lixo e ao lixo voltaremos? É quase como o eterno retorno do Nietzsche, e se é eterno, e se é retorno, ao menos que façamos espalhafato, que o mandemos à merda, que lhe cuspamos na cara, que nos aliviemos. Era só isso que eu queria - um pouquinho de alívio. 
Ah, mas a Grécia é que é bom?, querias estar como os Gregos, tudo sem ordem, tudo no caos? Sim, queria, pois queria, e qual é o mal?, queria ver uma reacção qualquer, queria uma emoção, como o Rasputine diz ao Corto Maltese, queria pessoas verdadeiramente indignadas, porque é a única reacção possível ao que se está a passar. E não, não sou funcionária pública, portanto este post não deriva do corte dos subsídios de Natal e férias.
Pronto. Esvaziei-me de alguma fel, mas não de toda a fel. Como boa portuguesa que sou, arranjo sempre qualquer coisinha para me queixar. O português, pá, realmente, nunca está satisfeito.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Coisa que não compreendo: "pedimos desculpa pelo incómodo"

Normalmente, costumo considerar que pedir desculpa pelo incómodo é muito agradavelzinho, muito composto. Mas tenho reparado que pedir desculpa pelo incómodo não passa de um estratégia amenizadora para justificar algo que não tem justificação nenhuma, tornando-se numa frase críptica que precisa de ser decifrada, querendo significar sabe-se lá que extraordinário inconveniência. E deste modo o "pedimos desculpa pelo incómodo" tem muitas traduções possíveis.
"Multibanco avariado. Pedimos desculpa pelo incómodo" - tradução: não estamos para pagar multibanco, portanto traga dinheiro. 
"Se desejar recibo, por favor dirija-se à loja. Pedimos desculpa pelo incómodo" - tradução: queremos muito que não nos peça recibo para pormos dinheiro ao bolso, portanto vamos complicar-lhe a vida o mais possível. Isto aconteceu-me numa porcaria de uma bomba Galp (a empresa que mais detesto em Portugal nem é a Emel, é mesmo a Galp) - a bomba estava em pré-pagamento, de modo que a pessoa tinha de ir pagar, voltar à bomba e abastecer, e depois voltar à loja para pedir recibo. Tive vontade de partir tudo. Comecei a resmungar, o mais educadamente que consegui, com a senhora que lá estava, mas coitada, o que é que ela tinha a ver com aquilo. 
"Casa de banho avariada. Pedimos desculpa pelo incómodo" - tradução: não estamos para andar sempre a limpar a casa-de-banho e o xixi e cocó dos outros. Vá fazer à esquina ou aguente até chegar a casa.
"A impressora não tem toner. Pedimos desculpa pelo incómodo" - tradução: ficámos sem tinteiro há que tempos e nunca tivemos para o trocar. Mais uma vez, aconteceu-me a mim nos Correios, mais do que uma vez (tinha de autenticar uns documentos, ando sempre imersa em burocracia). Continuando, da segunda vez, tive de dizer ao senhor que tinha de arranjar maneira de pôr a impressora a funcionar. Dois minutos depois e afinal já havia o chamado toner ("ah, está mesmo no fim, a senhora está com sorte!").
É expressão que me irrita sempre. De cada vez que alguém "pede desculpa pelo incómodo", já se sabe que o mesmo incómodo vai ultrapassar em muito qualquer laivo de razoabilidade. Mas lá estão as pessoas a insistir no pedir desculpa pelo incómodo não por boa educação (a boa educaçãozinha é sempre bem-vinda, e nós, queridos portugueses, gostamos muito de rematar a frase com expressões compostinhas como esta), mas sim como uma justificação para a parvoíce irrazoável.
A sério. 
Este post destila fel. Peço desculpa pelo incómodo.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Coisa que não compreendo: usar a faca da refeição para descascar fruta

Eu vou confessar que gosto de regras pequeninas. Regras de grande dimensão, aquelas que a sociedade nos obriga a cumprir, como por exemplo ter de fazer declarações de IRS, ter de fingir que trabalhar é saudável e isso assim, não gosto nada e desprezo. Mas de regras pequeninas, aquelas que servem para dar uma organizaçãozinha a uma vida individual, gosto.
Por exemplo: na excelsa máquina Nespresso, que me ofereceram, há dois botões. Um é para o café normal, outro é para o chamado "lungo", que leva mais água. Estes últimos não me atraem muito, mas o Corto Maltese, por exemplo, adora lungos, de tal modo que põe uma cápsula à toa na máquina e carrega no botão lungo e eu, quando o vejo nestes propósitos, digo-lhe, "Corto, enganaste-te, essa cápsula não é de lungo, pára já a máquina!", apenas para receber um olhar empedernido e indiferente que me diz "mas o que foi, tens medo que venha a polícia?", e lá continua ele a escolher uma cápsula à toa e a carregar no botão do lungo. O que, quanto a mim, não está bem.
É como não pôr o garfo do lado esquerdo e a faca do lado direito. Há pessoas que põem estas duas peças no guardanapo, porque acham que não vale a pena pôr um de cada lado, assim como assim temos de pegar neles de qualquer maneira e "aqui ninguém faz cerimónia"  - é o que dizem sempre. Não é uma questão de fazer ou não fazer cerimónia, é a regrinha. A regrinha que é a base - é a basezinha, como o latim.
É como ter um copo à mesa e beber vinho ou sumo e depois beber água sem lavar o copo, sujeitando-se a pessoa a beber água deslavada, com sabor a restos, só porque tem preguiça de pôr o devido número de copos na mesa, ou de os lavar entre as bebidas. É desagradável, e sempre a mesma desculpa - "mas aqui ninguém faz cerimónia!" 
O desvio da regra que mais espécie me faz é descascar fruta com a faca que se utilizou na refeição. Conspurcar o fresco doce da frutinha apenas porque, mais uma vez, se tem preguiça de utilizar outra faca. Porquê desrespeitar a regrinha e comprometer o agradável final de uma refeição? Não compreendo. E depois, visualmente, é algo desagradável - as pessoas pegam na faca, limpam-na ao guardanapo sujo, ou esfregam a lâmina na bordinha do prato, e é só restos de comida mastigada por todo lado sem limpeza nenhuma, porque a faca continua suja e, por seu turno, suja também a casca da pêra ou da maçã que se vai descascar. Depois, a própria fruta fica a saber a segundo prato, a arroz frio, a salada fria, e isto amolece a maçã, atenua o sabor da pêra, estraga a sobremesa. Uma maçada. Mas qual é o problema de usar outra faca?! Ah, não é preciso, escusamos de estar a sujar loiça. Ah, não é preciso, aqui ninguém faz cerimónia.
Pois. E, devido a estes argumentos, lá fico eu com a minha fruta a saber a ranço. 
As regras pequeninas foram feitas para a pessoa poder gozar de algum conforto na vida. E eu gosto do meu conforto. De modo que, normalmente, e uma vez que ninguém faz cerimónia aqui, eu solicito sempre uma faca limpinha para a minha fruta, se calha não estar em casa para poder decidir a minha própria dinâmica alimentar. A regra é a base.
Sem a basezinha, não se vai a lado nenhum. 


terça-feira, 28 de junho de 2011

Expressão que não compreendo: "eu sou uma pessoa doente"

Apesar de não compreender, acho uma certa graça quando as pessoas dizem isto, porque normalmente não é verdade ou, se é, nunca é tão grave como querem fazer crer, felizmente para elas. Normalmente, esta expressão vem acompanhada de outras igualmente cómicas, mormente "é que eu sofro muito de isto e de aquilo"; "sabes, eu no Verão sofro de calor", "eu no Outono sofro da vista e de 'alérgias'", "eu quando vou trabalhar padeço de cansaço", e coisas assim. O verbo "padecer", já amplamente satirizado, é verdadeiramente esplêndido.
Há muitos anos, o Herman fez um sketch de uma senhora velhota que entrava no táxi e começava a queixar-se, "ah, eu sou uma pessoa doente, eu sou uma pessoa muito doente...", de tal modo que ninguém conseguia sequer ter pena dela. Vivemos num país em que a maior parte das pessoas padece efectivamente de uma maleita, e essa maleita é a hipocondria. Eu não fujo à regra, e mal denoto a mais leve mudança corporal, seja comichão no olho, seja no polegar, penso logo que apanhei uma bactéria qualquer que nunca mais vai passar. E estes vários sofrimentos de que somos acometidos explicam, talvez, a necessidade que algumas pessoas têm de se caracterizarem como "doentes". 
Nunca conheci ninguém verdadeiramente doente que anunciasse ao mundo a sua condição, e algumas delas eram, infelizmente, bem graves. Esta coisa da queixa perpétua de que estou muito doente, e como tal tratem-me com muito cuidadinho, por favor, é algo inquietante, porque caricato. Dá vontade de gozar com a pessoa,  em vez de demonstrar solidariedade e compreensão. E o que dizer dos indivíduos que começam a descrever a sua pobre condição física, e entusiasmam-se de tal modo com a dor que os aflige que ficam horas empolgados numa narração médica que mais parece um filme de acção ou coisa parecida? Isto é que é impagável - "ah, doía-me a garganta, fui ao médico, o médico disse que era uma infecção nas cordas vocais, quis ir ao especialista, o especialista disse que era um nódulo e uma infecção, receitou-me comprimidos mas não passou, já viste, e eu a pagar balúrdios, fui a outro especialista que disse que era nódulo, infecção e super-bactérias, disse que eu até podia perder a voz e tudo!, já viste, ou então que a minha voz ia ficar muito fininha à desenho animado, já viste, como é que eu posso trabalhar assim", "mas não há cura?", arrisco eu, e responde logo o meu interlocutor, com tal satisfação que parece que acabou de comer uma pratada de chouriço assado com broa, "não! Não há nada que se possa fazer, ou fico afónica, ou com voz de desenho animado!" Sorriso de comprazimento no fim.
Eu penso que algumas pessoas consideram que a doença as torna especiais. Ser objecto de pena, ou atenção, ou interesse dos outros devido "à doença" é algo que os satisfaz.
Pronto. Cada um é como cada qual. E agora tenho de ir ali almoçar, porque eu sou uma pessoa que sofre de uma doença, que é: quando não almoço, padeço de uma certa larica.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Expressão que compreendo: o não-sei-quantos "é assim"

Adoro quando as pessoas dizem isto. Adoro. Usam esta expressão como se fosse um argumento válido, lógico e absolutamente racional - "mas tu já sabes que sou assim"; "não vale a pena mandar vir com ela - ela é assim!"; "eu já te disse que tens de ser mais pontual, mas tu és assim", com ar contrafeito. Dá-me logo uma imensa vontade de rir (não confundir, por favor, com a expressão "é assim", que não tem graça e enfurece).
Quando as pessoas aplicam a expressão à sua própria pessoa, e reforçam a frase com a partícula "cá", o caso agudiza-se ainda mais. Torna-se mais cómico. "Para mim, quem fuma ao pé de crianças devia ir preso. Eu cá sou assim!", por exemplo. E este "eu sou assim" justifica tudo o que nos passa pela cabeça dizer. Absolutamente tudo.
Ponho-me a pensar no que diria a polícia ao Jack the Ripper se efectivamente o tivesse apanhado. Ó Jack, que grande chatice, o Jack podia ter evitado isto tudo, mas o Jack é assim! (insisto no ponto de exclamação. Sem ele, a expressão não tem tanta graça).
Já não tenho mais nada para dizer. Às vezes, sou assim.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Combinação que não compreendo: chocolate com laranja

Devo começar por esclarecer imediatamente que, para mim, a vida sem chocolate não faz sentido nem nunca fez. Desde que me lembro de ser gente, como se costuma dizer, que a importância do chocolate na minha vida foi sempre fundamental - o leitinho com chocolate pela manhã alegrava-me o pequeno almoço; o caramelo do Mars dava todo um renovado entusiasmo aos fins-de-semana, em que ainda por cima o Duarte e Companhia passava na televisão. Mais tarde, fui crescendo e descobrindo as maravilhas sedosas de um Guylian ou Côte d'Or, embora não Godiva, não acho muita piada a este último; porém, considero que, por exemplo, a opção Milka é perfeitamente aceitável e sai muito em conta. E o que dizer de um quadrado negro 84% cacau a derreter na boca, a acompanhar o café ou o chá? Não é preciso mais nada na vida.
Bom. Como o chocolate é parte integrante do meu ser, é natural que eu seja uma pessoa aberta às várias combinações que o chocolate permite, mormente chocolate com chantilly, chocolate com frutos secos, chocolate com fruta. Com fruta? Com certa  fruta. Sim, porque estou em crer que quem aprecia verdadeiramente chocolate sabe que esta ambrósia quase divina não se presta a qualquer tipo de fruta, aliás, não se presta a quase nenhuma fruta. O chocolate, como muitas pessoas que por aí andam, é esquisito e comichoso (belo vocábulo). Sendo comichoso, gosta de uma fambroesa ou de uma bananinha, por exemplo, e até admito que goste de um morango, agora - de laranja? Duvido muito. 
Não sei quem é que se lembrou desta combinação, mas, para minha grande surpresa, o que não falta por aí é chocolate com laranja. Até as marcas "gourmet" fazem alarde do excelente chocolate com a excelente laranja, e eu fico pasma, perplexa, sem compreender. Quando eu era pequena, não me deixavam comer laranja com chocolate em cima porque fazia mal, e eu desde cedo comecei a desconfiar dos perigos do chocolate com fruta, suspeita que se agravou depois de, à sucapa, ter comido uma tablete de chocolate branco depois do kiwi à sobremesa. Escusado será dizer, para não entrar em pormenores desagradáveis, que graças a esta fatal combinação descobri todas as potencialidades do sistema digestivo do corpo humano. 
De modo que chocolate e laranja, quanto a mim, não combinam. À partida, até pode ser uma boa ideia, mas à chegada não é, de todo. O chocolate pede amêndoa, caramelo, avelã (hmmmm, maravilha...), baunilha, ou coisas mais exóticas como especiarias, chás orientais. Agora fruta, é ter muito cuidado. Laranja, não me convence. É uma manobra só para vender e que não respeita a essência do chocolate.
Há combinações que são assim, em teoria parecem bem, mas na realidade são um desastre. E, se a pessoa não é esperta e não as topa à distância (às combinações, quero eu dizer), fica com a vida e com o intestino estragado, e depois as coisas muito dificilmente voltam ao que eram antes. Ah, pois. 

sábado, 19 de março de 2011

Palavra da semana que não compreendo: "bichinho"

Bom, e depois de uma longa ausência por motivos de força maior, e com tanta coisa grave que se passa pelo mundo, o que me traz aqui hoje é esta curiosa expressão - ficar com o "bichinho". Está sempre a ser utilizada nas entrevistas das revistas cor-de-rosa com a desgraçada da semana a gozar dos 15 minutos de fama - "foi nessa altura que ficou com o bichinho da representação, Vânia?", "não, o bichinho sempre cá esteve, mas só nessa altura é que tive oportunidade de o demonstrar".
Este "bichinho" faz-me muita espécie, uma terrível espécie. Quando alguém me diz "e fiquei com o bichinho, percebes?", imagino sempre a pessoa a andar na rua com uma enorme ténia nas entranhas, pronta a sair rabo fora, se preciso for. É esta a dimensão da minha estranheza, e até repulsa, por semelhante expressão. Que coisa tão desagradável. Pior que isto, só se for a expressão "mexe comigo" - "ah, este quadro mexe mesmo comigo", e imagino logo o meu interlocutor a ser abanado e cuspido por uma caterpillar ou lá como se chamam aquelas máquinas das obras. Tenho uma imaginação um bocado problemática, o que é capaz de agravar a sensibilidade que tenho a estas expressões.
E depois, ainda por cima, há "bichinhos" responsáveis por tudo, rrac, rrac, rrac, a corroer as vísceras para a pessoa ficar com o gosto pela representação, o gosto pelo cinema, o gosto pela escrita ("eu andava nas novelas da TVI, agora escrevi um romance e posso dizer que fiquei com o "bichinho" da escrita", por exemplo), a apetência para sei lá o quê. 
Que nojo.Queria só manifestar o meu desagrado profundo, é tudo. Eu, em termos de bichos, só acho mesmo graça ao bicho-de-conta, e fico-me por aqui.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Banda da semana que não compreendo: os Coldplay

Devo desde já fazer uma declaração de interesse e dizer que: ponto um, gostei da primeira música que ouvi de Coldplay, Yellow, que pertencia ao primeiro álbum, e gostei até bastante; ponto dois, gostei de uma música que ouvi do segundo álbum, que era o In My Place, e com óbvia falta de discernimento, comprei o segundo CD desta banda. Em absoluta verdade, e chegamos ao ponto três, ouvi este CD duas vezes na vida, o que confirma a minha obtusidade.
A partir daqui, confessados que estão os embaraçosos pecadilhos, estou absolutamente à vontade para tecer e elaborar todas as críticas que eu quiser a esta banda, e são muitas; são muitas porque os Coldplay são a coisa mais entediante que eu alguma vez ouvi. É que são seca, seca, seca, seca, ainda por cima má seca - e o que é que me leva a não compreender esta banda? Não é o facto de serem uma seca, é o facto de conseguirem vender tanto. É que eu esperava que as pessoas tivessem um limite para o tédio que conseguem suportar, mas pelos vistos não, não têm limite nenhum.
Há bandas que se podem designar por "seca". Bandas que aborrecem, dão vontade de bocejar e  amolecer que nem lesma indolente. Eu não quero saber - digo já que, para mim, Dire Straits é essa banda. É que não consigo ouvir um acorde que seja que fico logo prontinha para  adormecer, e não me venham com o Brothers in Arms, ai que linda canção que é!, e o Romeo and Juliet, ai que bonito!, e o I want my MTV ou sei lá, não achas a canção engraçada?, e o Mark Knopfler na guitarra (bem, este homem a solo, então, meu Deus, sem comentários). Esta banda e estas canções são velhas, bem sei, portanto se calhar não contam. Mas vamos a mais exemplos - Norah Jones, outro tédio. Clássicos da guitarra, tipo Joe Satriani ou assim, outra seca. E, evidentemente, há outros exemplos que alguém mais douto do que eu conseguiria enumerar e bandas muito mais recentes e com muito hype à volta que também são um grande tédio, mas são bandas mais ou menos insignificantes. 
Porém, estes exemplos que eu acabei de enumerar têm uma diferença relativamente aos Coldplay, e essa diferença é qualitativa. É que, dentro da categoria de bandas-seca, há a má seca e a boa seca. Eu acho que a Norah Jones é seca, mas consigo compreender perfeitamente que a Norah Jones é melhor do que os Coldplay. É que estes últimos não têm nada que os salve, nada, nada - são feiosos (pelo menos, têm mau gosto para se vestir); não têm talento como músicos; têm a mania que são bonzinhos e queridinhos, o que, não diria "enfurece", mas irrita um bocadinho; não escrevem letras de jeito ("for some reason I can't explain/I know Saint Peter won't call my name" -  ? Tanto mais que alguém que sabe  de antemão que o S. Pedro não o vai chamar, terá com certeza uma ligeira ideiazinha do porquê, mas enfim, isto já é filosofia a mais; em termos de letras, a minha preferida é para aí o "lights will guide you home and ignite your bones". Pausa para rir. Não vale a pena ir mais longe, é só fazer uma busca no google de letras dos Coldplay e, basicamente, preparar uns minutinhos para aquele misto de riso e desprezo que só o que é verdadeiramente medíocre consegue provocar).  Tudo nos Coldplay serve um propósito, que é: irritar numa primeira fase, e entediar numa segunda fase. Prefiro uma banda que me irrite, apenas, porque ao menos distraio-me. 
De modo que, com tanta banda sem talento que há por aí, mas um bocadinho mais animada, não percebo bem porque é que as pessoas escolhem ouvir Coldplay e muito menos pagar bilhete para os ver ao vivo. Às vezes, há bandas que são muito medianazitas em estúdio, mas que depois ao vivo são um estrondo. Duvido que seja o caso de Coldplay, e não faço tenções de ir confirmar com os meus próprios olhos - mais facilmente ia ver isto:

O Yanni na Acrópole deve ter sido, no seu tempo, um espectáculo ao vivo muito composto, e sempre é na Acrópole, além de que, como facilmente se pode constatar, tem um veio trágico-cómico bem aceso, que é coisa que os Coldplay, no seu esforço (louvável, porque não) do politicamente correcto, não apresentam. Quer dizer, um veio trágico até apresentam, por acaso.
Enfim, são uma seca. Mas serviram para eu me entreter a escrever isto, portanto presumo que lhes deva dirigir o meu bem-haja. No entanto, agora não me está a apetecer, fica para a próxima.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Coisas que não compreendo

Há coisas neste mundo que a minha vã filosofia não alcança, talvez por ser vã, talvez porque o engenho e a arte não me têm ajudado.
Primeiramente, não compreendo o beicinho da Angelina Jolie. Quer dizer, um monumento lindo de morrer, com uma das combinações de que eu mais gosto (cabelo escuro e olhos claros), giríssima, e depois estraga tudo sempre com aquela boquinha irritante:


Porquê?! Não compreendo.
O meu conselho à Angelina é: como diz Castiglione, sobre o qual escrevi ali em baixo, um pouquinho de naturalidade é o que se pede. Veja lá isso, Angélica.

A segunda coisa que eu não compreendo, e que é ainda mais grave, é a Kelly Family. Eu não sei se a Kelly Family ainda existe. Aliás, eu não tenho sequer a certeza de a Kelly Family ter alguma vez existido. A minha opinião é a de que alguém pegou nas tartarugas ninja e as tornou mais antropomórficas, em versão alemã (a Kelly Family era, alegadamente, um grupo musical composto por uma família alemã, tios, irmãos, primos, cunhados, uma misturada, que vinha da Alemanha. Em Portugal, lembro-me de serem muito populares quando eu era adolescente, há muitos anos):




Estes Kelly Family, como se constata, tinham dois predicados: eram todos feios; eram todos assustadoramente parecidos uns com os outros. Pareciam os Habsburgo, o produto de incesto e reprodução plurigeracional sempre dentro da mesma família. Ou então, pareciam a versão mutante dos Habsburgo. Um susto.
As raparigas cantavam como os rapazes e os rapazes cantavam como as raparigas. Era uma coisa incompreensível. Banda que desafiasse tanto, e tão ostensivamente, as convenções de género, só talvez os Hanson, outro fenómeno musical que a História, e bem, escolheu não registar (pelo menos, espero que não):



Estes são os rapazes/raparigas dos Hanson.
É isto. Alguém que me explique a Kelly Family, se alguém ainda se lembrar deles. E, já agora, também os Hanson. Bandas familiares não é comigo, é a conclusão que retiro desta história toda.
Devo confessar que tinha saudades de um post maledicente, que me esvaziasse toda a bílis. É feio. E já está.
Para acabar em beleza, deixo aqui a Kelly Family em acção. Acho que o Wes Craven devia pôr os olhinhos na performance desta gente, é o que tenho a dizer.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Coisas que eu não percebo: o advento da T-shirt


Por vezes, sinto-me uma dos Antigos a olhar para as invenções deste mundo.
Porém, há invenções que eu abomino ligeiramente. A começar pela roupa de Verão. Detesto as roupas que se usam no Verão; detesto aquelas cores que agridem, muito amarelo, muito verde, muito azul claro, muita alegria por todo lado que só usa quem for adolescente, porque quem não for faz figura de parva. Detesto o facto de não dar jeito usar preto porque faz calor. Detesto o facto de a roupa de Verão ser assim uma espécie de um farrapinho, quanto mais leve melhor, que serve apenas para cobrir impudicícias, e que não cumpre nenhum propósito estético. Tudo na vida deve cumprir um propósito estético, já dizia Oscar Wilde, e a roupa de Verão não apresenta este propósito nem tem nenhuma personalidade.
Porém, há uma peça de roupa em particular que eu não compreendo (deve ser muito sofisticada) e que, para mim, simboliza esta falta de carisma da roupa de Verão: a T-shirt. O que é isto? Quem é que usa isto? (sim, eu sei, usamos todos; eu própria tenho duas ou três). A T-shirt é um bocado de algodão, grosseiramente cortado em forma de T, com umas mangas feias, e que não dá para embelezar por mais bonecada que lá se estampe. Uma T-shirt de uma só cor é feia porque não tem personalidade; uma T-shirt com coisas escritas continua a ser feia porque é uma T-shirt; uma T-shirt com a marca das roupas é, além de piroso, feio porque se está a fazer publicidade de graça. Em resumo, a T-shirt não tem salvação possível.
Confesso que há T-shirts com escritos com que eu simpatizo. Estou há que tempos para comprar a que está aqui na foto ao lado porque a acho muito engraçada (mais ninguém com quem eu falei acha, mas a mim este "warn-a-brother" faz-me sempre rir); mas há que reconhecer que a T-shirt é a peça de roupa mais feiosa e mais deslavada que se pode usar. A T-shirt, quanto a mim, está para a roupa como o Tom Hanks está para o cinema: dá jeito, compõe durante uns tempos, mas chega a uma altura que já não dá para suportar o tédio e a pessoa precisa de uma coisa diferente (blusas, tops, túnicas, etc., é só ir à Zara, H&M e quejandos e escolher coisas a bom preço que não são T-shirts).
O apelo que eu aqui deixo é: não à T-shirt.
E, para terminar, este post confirma que o Verão é, de facto, a silly season, em que algumas pessoas muito "silly" se ocupam a escrever todo um texto dedicado a temas interessantíssimos como o concernente (bonita palavra) à T-shirt.