sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Personagens literárias mais cool de sempre e que eu não me importava de ser (num universo alternativo, talvez)

Holden Caulfied, Catcher in the Rye, evidentemente. A personagem mais cool de sempre. Se eu fosse o Holden, sei lá o que é que eu faria... fumava muitos cigarros, sentava-me à chuva a olhar para o meu irmãozinho mais novo e a sentir-me feliz apenas com isso. Saberia, amarga e sarcasticamente, que o mundo é hostil e sem esperança, era uma rebelde sem causa, mas, no entanto, correria sempre atrás de uma causa, a ajudar pessoas no centeio, a tentar que as coisas fizessem sentido, e mesmo que não fizessem, eu ficava ali no centeio, a fumar, a ser cool e a apanhar pessoas, logo, a ser útil.



Philip Marlowe, The Big Sleep, outro cool a valer. Se eu fosse o Philip Marlowe, aí é que fumava sem parar e teria um diário sempre bem actualizado, para escrever coisas assombrosas como she approached me with enough sex appeal to stampede a business men's lunch. Her smile was tentative but could be persuaded to be nice, e outra coisas similares. Passava o dia a investigar crimes, com o calo amoral que a experiência me daria, e expirava o fumo do meu cigarro na cara de senhoras tipo Veronica Lake, ou então de pessoas com nomes de sonoridade exemplar, como Regan Sternwood. Elas depois começavam a tossir e eu ia-me embora, toda convencida (convencido, aliás, esqueci-me de que sou o Philip Marlowe - já agora, convencido e também gingão).

Catherine Earnshaw, Wuthering Heights. Esta mulher, para mim, é o máximo. Gostaria muito de ser a Catherine, porque para já casava-me logo com o Heathcliff, nunca com o Edgar Linton (apesar deste último ser bonzinho, o que é uma coisa muito positiva). O Edgar ficava livre para procurar outra pessoa com quem ser mais feliz, e eu ficava com o Heathcliff, no meio do vento e da tempestade, os dois muito intensos, a viver uma vida muito intensa. Também evitaria morrer cedo, à semelhança do que aconteceu à Catherine, para poder desfrutar desta tal intensidade com alguma qualidade de vida.

Há muitas mais personagens literárias que admiro e que não me importaria de ser (por alguns dias, para experimentar). Mas, por enquanto, consigo lembrar-me destes três grandes catitas.

5 comentários:

José Bandeira disse...

Não sou capaz de falar em wuthering Heights sem ficar em pele de galinha. Corny, eu sei, mas é assim mesmo. Obrigo amigos a ler o livro. Nunca vi sequer qualquer versão em cinema, recuso-me, tenho os meus próprios Heathcliff e Cathy – excepção feita, claro, à “versão semáforo” dos Monty Python. :)

No fundo é aquela rapariga, a Emily Brontë, escrevendo uma obra-prima sem fazer a mínima ideia que o fazia, as personagens inverosímeis, as mulheres indomesticáveis, raridade à época, e elas mesmas violentas (lembra-se da bofetada de Cathy à governanta? O que não deve haver, dada a condição de governantas das três irmãs, por trás daquele estalo), os homens assexuados (homens de índole brutal, a quem nem ocorre, mesmo quando embriagados, assaltar sexualmente uma jovem rapariga). Quem era – ou o que era – Heathcliff, de onde veio, por onde andou, e sobretudo a destemperança da paixão deles, era uma coisa fora da ordem natural do mundo em pleno século da Ciência. E aquilo de Emily ter morrido nova e recusando tratamento. Não consigo deixar de pensar que Wuthering Heights não é um livro, é uma pessoa inteira, Cathy à nossa janela.

Viu o que fez? Agora emocionei-me.
Já nem digo nada sobre Holden ou Marlowe. (Mas prefiro Marlowe.)

Rita F. disse...

Obrigada por este bonito comentário. Eu concordo inteiramente, Cathy é uma "pessoa inteira à nossa janela". O Monte dos Vendavais também é dos meus livros absolutamente preferidos e obrigatórios. Embora não conseguindo obrigar os meus amigos a nada, faço de Wuthering Heights uma prenda fundamental no Natal e nos anos, sabendo que, assim, eles lêem (em princípio, mas acho que sim :) ), e ainda bem. Nunca tinha associado a bofetada à governanta com o facto de serem as três Bronte, também elas, governantas, mas é muito interessante a ideia, agora que penso nela. Sei que, por exemplo, a Charlotte Bronte escreveu cartas cheias de ódio e revolta contra patrões e alunos, farta daquela vida, e sabe-se que a Emily também não conseguia suportar a vida de governanta, tendo voltado para casa, desempregada, e pronto. A Emily devia ser um ser absolutamente intrigante.
Quanto aos homens na vida das três irmâzinhas, aventuro-me a arriscar que a figura do irmão, o famigerado Branwell, terá servido de molde, ainda que inconsciente, a muitos dos personagens masculinos, violentos, quase assexuados e inconsequentes, que as Bronte criaram. Já li alguns livros sérios sobre as Bronte, mas nunca explicaram convenientemente o peso que um irmão falhado, mas sobreprotegido por ser supostamente "génio", como Branwell, teve na vida delas.
Enfim, estas irmãs eram um mundo, e a sua própria vida é intrigante, triste e cheia de génio (ainda que tenha sido muito fantasiada).
Além de Emily, gosto também muito de Charlotte, que não teve uma morte romântica, mas que escreveu Jane Eyre, outro livro que adoro, sobre o qual, quando tiver algo para dizer que lhe faça justiça, gostaria de escrever.
Acho que fez muito bem em não ver nenhuma versão cinematográfica do Monte dos Vendavais. As que vi não eram nada de jeito, transformavam a intensidade do livro num romancezito de cordel todo lamecha, resumindo, eram pecado capital, era o que era. :)

José Bandeira disse...

Era mesmo. E a questão do irmão é muito pertinente. Devemos-lhe, honra lhe seja feita, os retratos das irmãs, suficientemente imperfeitos (como o de Jane Austen) para dar lugar à imaginação.

Engraçado que tenha falado sobre Bataille num poste em baixo, ele escreveu um ensaio sobre Emily Brontë em 'A Literatura e o Mal'. Não é longo. Em encontrando-o, passo-o pelo scanner e - se não vir inconveniente - envio-lho por e-mail. Será corso, não pirataria: a causa é justa (e acho que a editora já nem existe). ;)

Rita F. disse...

O retrato das três irmãs é tão mimoso e "tosco", mesmo querido. Gosto muito. E, curiosamente, por detrás das três figuras das manas em grande plano, vê-se bem uma silhueta masculina, uma mancha, apenas - o próprio Branwell, que se pintou a si próprio por detrás das irmãs e que depois decidiu apagar-se. Que premonitório!
Quanto ao "corso", não só não vejo inconveniente, como até agradeço, ou por outra, um grande bem haja.

Anónimo disse...

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