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quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Say thank you

Descobri hoje que existe uma coisa, um "movimento", à falta de outra palavra, designado por "pós-feminismo". Eu tendo a desconfiar de tudo o que vem colado ao prefixo "pós", e este novo "pós" que descobri não foge à regra (de me fazer desconfiada, quero eu dizer).
Talvez se deva apenas à minha ignorância, já que ainda não conseguir ler muito sobre isto. As informações da sempre utilíssima Wikipedia não me deixam, porém, muito descansada (negritos meus):


Sim, eu gosto de pensar que o feminismo conseguiu já grandes avanços na emancipação da mulher e na conquista da igualdade de direitos, pelo menos no mundo ocidental. Pelo menos, já podemos conduzir um carro, viajar sem autorização dos pais ou do marido, divorciarmo-nos. Contudo, as mulheres continuam em geral a ganhar menos do que os homens pelo mesmo trabalho, continuam a ser prejudicadas na maternidade a que têm direito (contratos não renovados depois da licença, empregadores relutantes em contratar mulheres em idade fértil, não vão elas desatar a ter filhos), continuam sujeitas a piropos indecentes na rua e a aprender que isto tudo faz parte da cultura, que é de aceitar e nunca de responder, continuam vítimas de violência doméstica em números assustadores, continuam vítimas de preconceitos vitorianos, criminosos, face à sua sexualidade, ou às imagens estereotipadas sobre a sua sexualidade. E isto tudo, apenas no mundo ocidental - se falarmos na situação das mulheres do Sudão, da Arábia Saudita, sei lá eu, nunca mais saímos daqui. 
Portanto, faz-me um bocadinho de impressão que alguém (principalmente se esse alguém é uma mulher) vir dizer que o feminismo já fez muito para reduzir o sexismo, e estamos agora prontas para passar para a fase do "pós". Um bocadinho de impressão, só. É que eu não acho nada que a fase do "pós" esteja sequer iminente. Se alguém tem problema com a palavra "feminismo", porque é muito radical, ou muito extrema, e não se quer meter nessas cavalgadas, tenho muita pena. O problema é deles, e infelizmente delas. O feminismo, para mim, faz sentido, e é uma palavra, um conceito, uma noção que recuso deixar de utilizar, em que recuso deixar de pensar. Podemos discutir que feminismo é este - não será o de Valerie Solanis, mas também nunca foi, verdade se diga.
Ouvi há alguns anos uma feminista inglesa (não me lembro do nome dela, mas se a vir sei quem é) queixar-se, agastada, porque verificava que as miúdas dos dias de hoje não gostavam do feminismo e criticavam as pessoas da sua geração (a geração dessa velha feminista) por serem muito radicais e por terem andado a queimar soutiens. E dizia a velha feminista - nós lutámos por vocês. Say thank you, dizia ela, enervada. 
Por mim, agradeço desde já e continuarei a agradecer sempre às sufragettes, aos anos 60 e à queima de soutiens e a todas as feministas dos dias de hoje que defendem a igualdade e lutam, da forma que consideram adequada, para que todas as mulheres possam levar a vida que entendem, ao lado dos seus homens ou sem eles, se assim o desejarem. Como quiserem. 
Thank you.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

O complexo-Ashley Wilkes

Ashley Wilkes é uma personagem de Tudo o Vento Levou, e das mais desprezíveis que eu já vi em cinema. Quem já viu o filme sabe porquê, mas para quem ainda não viu, eu explico - a protagonista do filme, Scarlett O'Hara (insuperável Vivien Leigh) passa o filme perdida de amores por este Ashey Wilkes, que como ela é herdeiro de uma enorme plantação do sul dos EUA, até rebentar a Guerra Civil e perderem tudo. O Ashley Wilkes encoraja, de forma subtil e melosa, o amor de Scarlett de tal forma que esta até pensa que ele a vai pedir em casamento e tudo, até descobrir que Ashley vai mas é casar com uma prima, a impossivelmente boazinha Melanie. Scarlett fica destroçada, não tem outro remédio senão ir casando com outros homens para se entreter, ainda por cima ela que é dura, fogosa, deslumbrante, mas sempre que confronta Ashley com as cinzas do seu amor, ele diz-lhe "oh, gosto tanto de ti, oh, lembro-me de ti quando eras menina, cheia de pretendentes, e tenho tantas saudades, oh, és tão maravilhosa", e o resultado obviamente é Scarlett pensar que ele gosta tanto dela como ela dele, apesar de Ashley estar casado com outra e gozar de um casamento feliz. Entretanto, o último marido de Scarlett, um canastrão absolutamente delicioso chamado Rhett Butler, ama-a perdidamente até que perde a paciência, diz-lhe "frankly, my dear, I don't give a damn", e vai à sua vida à procura de uma mulher que o faça feliz e que não desperdice beleza e juventude com arremesos de cio adúltero para cima de homens inanes como Ashley Wilkes. O trágico disto é que, no momento em que Rhett se vai embora, Scarlett percebe que perdeu a vida toda em perseguição de um amor que não existe, que Ashley nunca gostou dela, que ela gosta verdadeiramente do marido Rhett, e que agora é tarde demais. A oportunidade passou.
Onde é que eu quero chegar com esta história toda? Quero chegar a isto - há pessoas, como Ashley Wilkes, que enfermam desta cobardia subtil, que nunca assume nada, e que portanto também não tem de recusar nada. Isto é particularmente grave quando, por via deste modus operandi, conseguem que as outras pessoas passem a vida toda à espera deles. Se há alguém com a miséria de se apaixonar por eles, os Ashley Wilkes desta vida rebolam-se na adoração, porque adoram ser adorados; não querem é ter de assumir nada, e se a pobre mulher se tenta libertar, eles arranjam maneira de apertar a corda à volta do seu pescoço, "ah, mas eu tenho tantas saudades tuas", "ah, eu adoro-te, tens é de me dar tempo", e etc. e tal.
A Scarlett passou a vida toda à espera de um homem que nunca foi forte o suficiente para lhe dizer na cara que não queria nada com ela, nem decidido o suficiente para ser adúltero e assumir um affair, um divórcio, o que fosse. Estes homens (e mulheres, porque também há mulheres assim) são uma espécie de lesmas peganhentas que não sabem por onde ir e agarram-se ilegitimamente à afeição dos outros, como parasitas. E o pior é que conseguem, por vezes, que lhes dêem muita afeição, porque na verdade toda a gente quer ter alguém na sua vida, e o Ashley Wilkes disfarça bem o cobardolas que é.
Quem se deixa apanhar por esta gosma tem de ter a presciência e consciência de dizer que não, sob pena de perder aquele momento da vida que nunca mais se repetirá, e que nos passará ao lado por perdermos tempo com a pessoa errada. Mas as ilusões conseguem ser quase tão poderosas como a realidade, e dizer que não, às vezes, é difícil. Este post é só para dar uma fórcinha, como diria o grande Herman. Fim.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

A crítica fácil

No Expresso desta semana, a revista Actual tem o Dan Brown na capa, o que se percebe, porque diz que tem novo livro à venda. Pensei que fosse uma entrevista com o homem, o que seria de esperar num suplemento de um jornal, mas não, o que há é um longo texto da Clara Ferreira Alves a descascar em Dan Brown, com os mesmos argumentos previsíveis de sempre e com uma pretensão que me parece não ficar muito longe daquela que imputa ao mesmo Dan Brown.
Esta crítica ao homem, sinceramente, já cansa. Aquilo que a Clara Ferreira Alves diz do novo livro de Brown aplica-se sem tirar nem pôr ao Código Da Vinci e, aposto, a todos os outros livros que Dan Brown publicou ou publicará. Mais, tudo o que ela diz (e que são críticas absolutamente pertinentes, disto não há que duvidar) já se disse antes a propósito do Código. Para quê repetir os mesmos argumentos estafados? O Expresso não encontra mais nada com que encher três páginas? Ponham a senhora a falar de outra coisa, ela ao menos tem opinião sobre tudo e ainda bem.
Apesar de me ter divertido com o Código Da Vinci, que li e que não me arrependo de ter lido, reconheço que é um livro trapalhão e que não está assim muito bem escrito. Concordo com CFA quando diz que o que Dan Brown escreve não é literatura. E então? Paulo Coelho também não é, e as pessoas gostam. Aquela do 50 Sombras também não deve ser, e as pessoas gostam. Vem assim tão grande mal ao mundo? Os grandes clássicos, os bons escritores, continuam e continuarão sempre a ser lidos. Inevitavelmente, estes últimos ficarão para a história e ganharão massas de leitores através dos tempos, ao passo que os "escritores" estilo Dan Brown ganham massas de leitores num momento histórico específico, e passado umas décadas ninguém se lembra deles. Sempre foi assim, sempre assim será. Não vejo onde está o problema, as pessoas que leiam o que quiserem, o que quer que seja que as torne feliz.
Este texto poderia muito bem ser uma defesa de Dan Brown, mas não é. Nunca na vida o defenderei, e não é por ser mau escritor ou por não escrever literatura, porque com isso posso eu bem. Como disse, até achei o Código Da Vinci bastante divertido. Não defendo Dan Brown, e espero que arda no Inferno sobre o qual gosta aparentemente de escrever, porque é um mentiroso. Isto, sim, é verdadeiramente imperdoável, especialmente considerando que se trata de alguém lido por milhares de pessoas. Sem aquele fim desastroso, escrito por quem efectivamente não sabe escrever, o Código Da Vinci até se aguentava; na verdade, conseguiria suportá-lo mesmo com o tal término incompetente da história. O que não suporto, porém, é ler um livro que goza com a minha cara e insulta a minha inteligência, que é o que Dan Brown faz a todos os leitores ao declarar, numa espécie de epígrafe, que a existência do Priorado do Sião é um "facto" e que Leonardo Da Vinci fez parte dessa tal organização. Não foi Dan Brown que inventou este Priorado fictício, mas toda a gente sabe que não passa disso mesmo, de ficção, de invenção - minto, não é ficção, é uma mentira, e Dan Brown, quando escreveu o seu livro na esperança absolutamente fundada de ganhar milhões, sabia disso muito bem e escolheu mentir e enganar, a troco de lucro que não merece (mereceria os seus milhões se o seu livro fosse um best-seller honesto, mas não é). 
É a mentira de Dan Brown, a sua profunda desonestidade intelectual da qual ele não parece envergonhar-se minimamente, que o torna tão mau. Clara Ferreira Alves aflora isto, ao acusá-lo (quanto a mim de forma mais rebuscada do que seria desejável) de não investigar as coisas como deve ser, de ir pelo caminho mais fácil (Wikipedia e toca a andar). Mas todo o seu esforço de retórica mereceria ir ao cerne da questão e chamar as coisas pelos nomes - Dan Brown é mentiroso. 
Não é preciso dizer mais.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Estudos científicos mostram que

Eu gosto de "estudos", principalmente porque o argumento mais vazio, e curiosamente mais eficaz, que se pode brandir numa discussão é o famigerado "há  estudos que dizem que". E normalmente o oponente fica sempre um bocado vacilante, quase a derrocar, de boca aberta, "ai, há estudos? Quais estudos?", "estudos científicos", é a resposta pronta. E assim se ganha uma discussãozinha. 
Eu própria cedo a este argumento dos estudos - "mas tu não sabes que há imensos estudos que dizem que pôr isso no microondas provoca cancro?!". Não, não sei. "Está provado que sim". E sob este argumento da "prova" (provado por quem, e como?, poderia eu pensar para mim própria, mas nestas alturas nunca penso) cede toda a minha certeza. Ah, realmente é melhor não pôr no microondas e aquecer no fogão muito menos tecnológico (que, por acaso, até é a chamada "placa". Nunca ninguém se queixa desta placa, curiosamente, nem ninguém se preocupa em saber se emite ou não misteriosas ondas cancerígenas/alienígenas e quejandas ondas terminadas em "ígenas"). 
E vem isto a propósito de dois estudos engraçados sobre os quais li recentemente. Um giríssimo que diz que a reforma faz mal ao cérebro - a pessoa fica sem fazer nada e muito propensa a depressões. Super chato. O problema da reforma é de facto fazer muito mal ao cérebro, nem é o facto de os futuros reformados da Europa poderem contar com, provavelmente, um euro de reforma por mês ou coisa que o valha. Sob este prisma, até é bom não haver reforma para ninguém e toda a gente permanecer nos seus saudáveis postos de emprego, ou na sua salutar luta constante por um emprego, até à hora da morte. Sim, parece-me bem.
Outro estudo também giro é aquele que diz que as mães trabalhadoras podem trabalhar à vontade, pois não há qualquer prejuízo para os seus filhos, isto é, para crianças pequenas tanto faz as mães trabalharem como não trabalharem. Ainda bem que este estudo foi feito, porque até agora as mães que trabalham não sabiam disto. Agora, em vez de se sentirem culpadas por irem trabalhar (o artigo diz que as mães sentem muita culpa), podem sentir-se culpadas por ficarem em casa. A culpa é assim, quando a queremos encontrar com muita, muita vontade, ela emerge triunfalmente.
O que, porém, considero mesmo, mesmo giro nestes estudos é a forma como o "trabalho", e o valor que lhe damos, é tão facilmente manipulado para ilustrar o que quer que seja que nos dê jeito. A mim, por exemplo, dá-me jeito culpar o trabalho pelas minhas eternas insónias, má-disposições, enfim, pelo "spleen" em geral, para manter a minha (in)estabilidade mental com um certo nível. Um certo chique. Como exemplarmente cantam os GNR, faz-me impressão o trabalho. 
E, por mais que me esforce, não consigo encontrar conclusão de jeito. Há muito tempo que não escrevo. Para a única pessoa que vai ler isto: tire "você" a conclusão, e perdoe a deselegância.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Coisa que não compreendo (nem quero): despedidas de solteira

Em boa, e toda, a verdade, eu só fui a uma despedida de solteira. Vi fotografias de dezenas de outras e nunca me entusiasmaram.
As despedidas de solteira que eu conheço são sempre a mesma coisa, ou eram (há algum tempo que os meus amigos se deixaram de casar, agora ou divorciam-se ou têm filhos), continuando, as despedidas de solteira são sempre a mesma coisa. Um jantar não sem onde com presentinhos atiçados em forma fálica, e seguidamente uma ida a um bar ranhosíssimo não sei onde com homens depilados e oleados que dançam e se esfregam na noiva. E mulherio aos gritos.
Eu, como mulher, tenho todo o respeito pelas outras mulheres, ainda que estas procedam de uma forma que, digamos que, a gente tem alguma dificuldade em respeitar. Mas respeita à mesma. Se há mulheres que acham graça a um homem depilado (enfatizo, reitero e repito: depilado) em certos propósitos, enquanto as amigas batem palmas e gritam muito, ao som de uma música daquelas inanes, tudo bem. 
Eu confesso uma coisa - se estes homens depilados fossem o Joaquin Cortés em novo, obviamente não depilado, aí sim, eu achava graça e até participava, acho eu. Ou teria participado. Mas dado o modus operandi que é, não percebo bem onde está a graça. Um homem bem apessoado é um homem bem apessoado, e eu gosto de boa estética como qualquer outra pessoa, mas aquela chungaria toda é demais para mim. 
No entanto, o que não percebo fundamentalmente é o frenesim em querer comemorar a vida de solteira como se se estivesse a perder o melhor dos mundos possíveis. Se a pessoa gosta assim tanto de ser solteira, talvez seja melhor continuar nesse belo estado civil e ignorar o casamento. 
Mas enfim, sinceramente tanto me faz. Na verdade, não tinha mais nada para escrever e lembrei-me disto. Obrigada pela atenção. 

quarta-feira, 25 de abril de 2012

"Respeita!"

Detesto quando me dizem "respeita". Respeitar o quê? Opiniões que não têm nada que ser respeitadas? Se eu tiver a desgraça de conhecer um neo-nazi, tenho de respeitar a opinião dele? Ou tenho apenas de respeitar, forçosamente, o ser humano que ele (lamentavelmente) é?
A minha querida D., que é um baluarte de sensatez e meiguice, está sempre a dizer-me isso. "Ai, que horror, respeita!". Por acaso, a última vez que me disse isto, estávamos a tomar café num estabelecimento com televisão ligada na VH1, e começou a passar aquela música do Time of My Life, do famigerado Dirty Dancing,  sobre o qual, acaso dos acasos, já escrevi aqui e já anunciei que não é película que me entusiasme.
Acontece que a D. adora este filme, da mesma forma que eu gosto de outras bodegas que me fazem lembrar a juventude. Se eu a deixasse, a D. tinha começado a dançar logo ali no meio do café, e para a próxima até a incentivo, porque a D. dança bem como tudo. Mas, naquele preciso momento, não o fiz, e comecei a discursar, "ó D., como é que tu gostas deste filme, olha para este velho que está a cantar a canção, explica-me quem é este velho, nem o vídeo da canção se aproveita, olha para a rapariga a passar férias no Inatel" e blá blá blá, até que a D., fartíssima de me ouvir, exclamou, exasperada, "olha, respeita!".
Respeita. Respeita. O Dirty Dancing? Lamento, mas não.
Eu tento respeitar toda a gente. Mas não faço esforço nenhum para respeitar opiniões que me parecem obtusas (já não estou a falar do Dirty Dancing, bem entendido). Quando leio os comentários do Público (sei que tenho de deixar de o fazer) a aplaudir decisões como cortar  o orçamento para a Cultura, porque "não temos dinheiro", ou a insultar os Gregos, que têm a culpa de tudo o que está a acontecer à Europa, ou mais recentemente, quando ouvi na rádio um senhor emigrante, português, que tinha um cafezinho, ia receber a visita da Marine Le Pen (!) e estava orgulhosíssimo porque ela não estava contra ele, emigrante trabalhador, estava, sim, contra todos os emigrantes preguiçosos, e contra eles também se indignava o tal senhor, dizia, quando sou confrontada com tudo isto, tenho de "respeitar"?
Pois, não me parece. É a minha opinião. Respeitem. 

Nota para fazer justiça à minha querida D. - a música até é gira. 

sexta-feira, 23 de março de 2012

Cheira bem, cheira a Lisboa

Esta notícia é de uma idiotice tal que não resisti a vir aqui ao blogue anunciar a referida idiotice. Por onde começar? Desde o pai que, aparentemente, não tem nada de melhor para fazer, nem assuntos relativos à educação do filho mais prementes em que pensar, do que uma canção que este aprendeu na escola de apoio ao Benfica; até à indignação ridícula do FCP. E digo ridícula porque as expressões que os representantes do clube utilizaram ("professora ayatollah", "fascistas do gosto", "proselitismo") obrigam-me a chegar a uma conclusão digamos que bifurcada: ou estes senhores do FCP têm um profundo e indesculpável desrespeito por situações de efectivo proselitismo e fascismo, o que é provável, ou pura e simplesmente precisam de consultar mais vezes (uma só vez já chegava) um dicionariozito da língua portuguesa, para aprenderem o que as palavras que utilizaram querem de facto dizer. Também se pode dar o caso, e é esta uma hipótese que me ocorreu agora mas que é tão plausível que nem sei por que não me lembrei dela antes, de serem tão irredutivelmente obtusos que nem um dicionário os salve. 
Há uns largos anos, a Madona quis que o Papa lhe baptizasse a filha. Nuym rasgo de lucidez e sensatez, qual Cristiano Ronaldo ("pens'queeee revelei lucidez, sensatez"), a Santa Sé respondeu, e bem, que Sua Santidade estava ocupada com assuntos bem mais importantes. Espero que a resposta do Ministério de Educação a este caso seja mais ou menos a mesma.
Quando eu era pequena, também se cantava, em todas as visitas de estudo organizadas pela escola, " cheira bem, cheira a Lisboa, cheira mal, a Portugal". Isto parece-me bem mais grave e sério do que cantar "viva o Benfica". E porém, passaram-se mais de vinte anos e nem eu nem ninguém da minha geração se tornou terrorista, pelo contrário, trabalham e pagam impostos, que é mais do que se pode dizer da geração anterior (de alguns). 
É verdade que a minha posição é fácil de atacar, já que nunca escondi que sou do Benfica. Mas, sinceramente, pens'queee sou de grande imparcialidade "no que concerne" a este assunto do atirei-o-pau-ao-gato-viva-o-benfica, e isto porque tento imaginar o que faria se um filho meu entrasse em casa a gritar "viva o fê cê pê". Queixava-me ao Ministério da Educação? Não me parece. Diria apenas à criança, "deixa lá, filho, que isso passa". 

quinta-feira, 15 de março de 2012

Resposta pronta

Num filme de que gosto muuuuuuuuuuuuuuuuuuito, High Fidelity, com um actor de que gosto muuuuuuuuuuuito, John Cusack, há uma cena em que este último tem de se confrontar com o namorado actual da ex-namorada, isto é: neste filme, o John Cusack tem uma loja de discos e uma namorada, Laura, que acaba com ele e vai viver com um tipo todo piroso que usava anéis (papel desempenhado pelo Tim Robbins, sempre irrepreensível em tudo o que faz). Este namorado piroso, agastado pelo facto de John Cusack estar sempre a  telefonar à ex-namorada, decide ir à loja de discos do mesmo John Cusack e pedir-lhe, de uma forma toda zen e parva, que ele acabe com a perseguição. Quando John Cusack o vê, fica fora de si, e o que se segue são três diferentes formas hipotéticas de como ele poderia lidar com o caso: insulta o homem, expulsa-o da loja, ou atira-lhe com uma televisão à cabeça. É uma cena linda de ver, por acaso, e das minhas preferidas do filme. E assim ficaria John Cusack esplendorosamente vingado.
Acontece que isto é apenas hipotético. Na realidade, John Cusack ouve o que o outro lhe tem a dizer, diz "está bem" e o Tim Robbins vai-se embora tranquilamente, com as integridades física e moral intactas.
Sempre gostei deste pequeno episódio porque infelizmente se assemelha ao que nos acontece na vida real. Pelo menos, a mim, acontece. As pessoas estão sempre a dizer-me coisas parvas ou com as quais não concordo e nunca consigo responder da forma que eu acho que elas mereciam, assim do estilo "esteja mas é calada, pá". Acontece às vezes chegar a casa e pensar que devia mesmo ter respondido "esteja mas é calada/o, pá". 
Não o faço, porque por um lado a sinceridade traz chatice, e por outro lado a sociedade baseia-se na mentira bem-educada, se não estávamos bem arranjados. Mas isso não que impede que eu simpatize com a situação do John Cusack e não queira, de vez em quando, atirar televisões à cabeça de certas pessoas. Embora, com toda a probabilidade, eu não conseguisse "acartar" (lindíssimo verbo) com a televisão.


Correcção: afinal não é uma televisão, é um amplificador ou assim. De qualquer forma, penso que também não conseguiria acartá-lo.

O dedo

O meu dia começou bem, com um apontamento de humor. Fui ao supermercado e deparei-me com esta esplêndida capa:



A questão que gostaria de levantar é: quem é que teve a ideia de uma coisa assim, o olhar sensível, o meio sorriso e o dedinho meio pensativo, meio indagador? O pormenor do dedo é coisa de classe. Pergunto-me se terá sido o António José Seguro a lembrar-se desta pose, ou se terá sido aconselhado a isso. Qualquer das respostas é igualmente assustadora, julgo.
Com uma foto desta qualidade, a leitura do livro é perfeitamente dispensável. O dedinho já diz tudo.
Ai, ai. Suspiro. 
Mas quem é que teve a ideia de uma capa destas? Estão mesmo à espera que se leve o dedinho a sério? Estas questões vão atormentar-me (e provavelmente fazer-me rir) para o resto do dia.

domingo, 11 de março de 2012

Ninguém se chama "Baby"

Quando vi o Dirty Dancing, tinha já 17 anos. O filme já era antigo nessa altura - gostava de esclarecer este aspecto. 
Continuando. Venho por este meio dizer que este filme é uma bodega e não quero saber. A miúda tem o nariz torto e o Patrick Swayze faz o que pode, dança bem, mas enfim, já no Ghost é uma seca e aqui também. E depois a própria história é seca, é a miúda a aprender a dançar enquanto passa férias no Inatel. E que idade é que ela tem para ainda andar de férias atracada à família? Oh pá, que vá fazer o inter-rail, sei lá. 
Mas o que me faz mesmo, mesmo não gostar deste filme é o nome da rapariga. Baby. Baby. Sei que agora toda a gente caçoa disto e diz "no one puts Baby in the corner", mas não deixa de ser muito parvo. Baby.
Se a miúda tivesse outro nome qualquer, mais normal, talvez o filme se conseguisse ver. Assim, não.
Peço desculpa a quem gosta do filme, a sério que sim. Eu também gosto de milhentos filmes parvos e anódinos, para compensar o facto de não gostar deste. Olha o Príncipe em Nova Iorque do Eddie Murphy. Adoro este filme e não é grande coisa, de modo que assim me redimo. 
Boa noitinha, sim?

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Respirar fundo, acalmar, respirar fundo, acalmar.

Nota rápida para dizer que já não suporto, mas é que já não suporto, ouvir portugueses a dizer que os outros portugueses andaram anos a viver como lordes, acima das suas possibilidades, e agora que paguem as favas. É que não suporto. Ainda hoje, quando fui ao cabeleireiro cortar o cabelo à Jean Seberg, e me entretinha com uma revista, levei com a Margarida Rebelo Pinto lá escarrapachada, empinada em saltos altos muito bem compostos, a dizer que já vendeu mais do que um milhão de livros e que o Natal lhe correu muito bem em vendas, deixando como "nota final" a justa, justíssima observação de que ah e tal, o português tem de deixar de viver como um lorde.
Eh pá. Eu não vou escrever muito porque fico de tal modo alterada que perco o parco poder de argumentação que tenho, mas gostava exactamente de saber de quem é que se está a falar quando se faz referência a este português que andou a viver que nem lorde. É ao português desempregado? É ao português que tem de pagar todos os anos os livros da escola dos filhos e só arranja dinheiro para isso se pedir ao banco? É ao português que ganha o salário mínimo? É ao português iletrado? É ao português que tem de escolher se compra comida ou medicamentos? É ao português que perdeu o emprego, é casado com outro português que também perdeu o emprego, e que agora não sabe como é que vai sustentar os filhos? É ao português que não consegue pagar renda? São estes portugueses todos, que são a maior parte dos portugueses, que andaram estes anos, obviamente, a viver de barriga cheia, a rir descaradamente da miséria dos outros enquanto se empanturravam, dizia, são estes portugueses que provocaram a crise e que têm agora de amargar? Pois, devem ser.
Mas quem sou eu para falar, se eu até vou ao cabeleireiro. Ando a viver que nem uma lady, rotunda, bojuda, de pança burguesa, a rir-me da miséria do país.
Respirar fundo... respirar fundo, que não me posso enervar. Amanhã é dia de trabalho. Sim, vou trabalhar porque não posso ficar em casa que nem uma lady, como fazia dantes. Dantes, quando eu era uma lady.
Respirar fundo. Respirar fundo. Acalmar. 
Sabe que mais, Srª D. Margarida Rebelo Pinto? Deixe a senhora de viver como um lorde. E aproveite e cale-se, mas é.
Boa noitinha.

Adenda: demorou algum tempo mas já percebi, ela estava a falar do Cavaco, coitado. Desculpe lá, sôdona Margarida. 

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Animação cultural

Este blog precisa de uma animação, para animar. 
A animação que proponho é: qual a canção mais pirosa que conhecemos e sem a qual não podemos passar? Aquela canção que nos faz passar uma grande vergonha se dissermos aos outros que gostamos dela? 
A cultura pop tem tanta pérola falsa à espera de ser repescada que chafurdar um bocadinho na lama musical só nos poderá trazer grande divertimento. Pelo menos, a mim, traz.
Como no mundo virtual ninguém se conhece, podemos falar disto à vontade sem grande opróbrio. Eu começaria, por exemplo, pela seguinte lista, ainda sem ordem de preferência, mas que revela já grande potencialidade ao nível do bom gosto musical e estético, e da falta dele:

Baby One More Time, Britney Spears

Every TimeYou Go Away, Paul Young



Como agora estou com uma certa pressa, não posso completar a lista nem dissertar sobre a mesma. Mas fá-lo-ei em tempo útil, se a tanto me ajudar o engenho e a arte. Mais o engenho do que a arte. 

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Expressão que não compreendo: "o português"

Acho sempre muita graça quando as pessoas se referem a esse animal esquivo e exótico que é "o português", como se fosse uma entidade que lhes é absolutamente estranha, com a qual não têm nada a ver e que normalmente acumula todos os defeitos que elas próprias pensam que só os outros, e não elas, é que detêm.
"O português deixa tudo para a última da hora, e depois é isto".
"Já se sabe que com o português não há hipótese - é sempre tudo ao molho e fé em Deus"
"A gente ainda tenta ter algum cuidado, mas o português não está habituado a coisas boas e vai e estraga tudo"
"O português é sempre assim, andou anos a gastar dinheiro em telemóveis e carros e depois queixa-se que anda em crise"
"Anda toda a gente revoltada com os cortes e com a crise, mas o português parece que não percebe que não há dinheiro!"
O caso torna-se ainda mais engraçado quando "o português é substituído pela catita entidade designada por "tuga" - o tuga é assim, sempre a estragar tudo. Quer dizer, nenhum de nós, portugueses, se reconhece neste misterioso "português" - este "português" é uma entidade à parte, é tudo o que está mal no país, mas não é nenhum de nós. É outro qualquer. Não consigo decifrar este interessante mistério, a sério que não consigo.
E tem igualmente graça, quanto a mim, saber que o problema reside precisamente no facto de "o português" não se queixar o suficiente, de "o português" aceitar demasiadamente bem esta conversa de que não há dinheiro, de "o português" não se revoltar ainda mais indignadamente contra o afundar da sua identidade, enfim, no facto de "o tuga" engolir este discurso da crise, aplaudir o FMI e ainda chorar por mais. Tudo bem que nos ensinam a dar a outra face, mas bolas, há limites para tudo.
"O português" fez uma greve geral no dia 24 de Novembro, mas o que observo é que "o português" está, em geral, muito resignado ao discurso miserabilista que nos faz saltar para o abismo. As pessoas parece que aceitam tudo. Porquê? Porque é que não vamos para a rua partir tudo como os Gregos, mandar o governo todo para o c******* como eles merecem, se assim como assim, para os c***** das agências de rating somos lixo e ao lixo voltaremos? É quase como o eterno retorno do Nietzsche, e se é eterno, e se é retorno, ao menos que façamos espalhafato, que o mandemos à merda, que lhe cuspamos na cara, que nos aliviemos. Era só isso que eu queria - um pouquinho de alívio. 
Ah, mas a Grécia é que é bom?, querias estar como os Gregos, tudo sem ordem, tudo no caos? Sim, queria, pois queria, e qual é o mal?, queria ver uma reacção qualquer, queria uma emoção, como o Rasputine diz ao Corto Maltese, queria pessoas verdadeiramente indignadas, porque é a única reacção possível ao que se está a passar. E não, não sou funcionária pública, portanto este post não deriva do corte dos subsídios de Natal e férias.
Pronto. Esvaziei-me de alguma fel, mas não de toda a fel. Como boa portuguesa que sou, arranjo sempre qualquer coisinha para me queixar. O português, pá, realmente, nunca está satisfeito.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Coisa que não compreendo: "pedimos desculpa pelo incómodo"

Normalmente, costumo considerar que pedir desculpa pelo incómodo é muito agradavelzinho, muito composto. Mas tenho reparado que pedir desculpa pelo incómodo não passa de um estratégia amenizadora para justificar algo que não tem justificação nenhuma, tornando-se numa frase críptica que precisa de ser decifrada, querendo significar sabe-se lá que extraordinário inconveniência. E deste modo o "pedimos desculpa pelo incómodo" tem muitas traduções possíveis.
"Multibanco avariado. Pedimos desculpa pelo incómodo" - tradução: não estamos para pagar multibanco, portanto traga dinheiro. 
"Se desejar recibo, por favor dirija-se à loja. Pedimos desculpa pelo incómodo" - tradução: queremos muito que não nos peça recibo para pormos dinheiro ao bolso, portanto vamos complicar-lhe a vida o mais possível. Isto aconteceu-me numa porcaria de uma bomba Galp (a empresa que mais detesto em Portugal nem é a Emel, é mesmo a Galp) - a bomba estava em pré-pagamento, de modo que a pessoa tinha de ir pagar, voltar à bomba e abastecer, e depois voltar à loja para pedir recibo. Tive vontade de partir tudo. Comecei a resmungar, o mais educadamente que consegui, com a senhora que lá estava, mas coitada, o que é que ela tinha a ver com aquilo. 
"Casa de banho avariada. Pedimos desculpa pelo incómodo" - tradução: não estamos para andar sempre a limpar a casa-de-banho e o xixi e cocó dos outros. Vá fazer à esquina ou aguente até chegar a casa.
"A impressora não tem toner. Pedimos desculpa pelo incómodo" - tradução: ficámos sem tinteiro há que tempos e nunca tivemos para o trocar. Mais uma vez, aconteceu-me a mim nos Correios, mais do que uma vez (tinha de autenticar uns documentos, ando sempre imersa em burocracia). Continuando, da segunda vez, tive de dizer ao senhor que tinha de arranjar maneira de pôr a impressora a funcionar. Dois minutos depois e afinal já havia o chamado toner ("ah, está mesmo no fim, a senhora está com sorte!").
É expressão que me irrita sempre. De cada vez que alguém "pede desculpa pelo incómodo", já se sabe que o mesmo incómodo vai ultrapassar em muito qualquer laivo de razoabilidade. Mas lá estão as pessoas a insistir no pedir desculpa pelo incómodo não por boa educação (a boa educaçãozinha é sempre bem-vinda, e nós, queridos portugueses, gostamos muito de rematar a frase com expressões compostinhas como esta), mas sim como uma justificação para a parvoíce irrazoável.
A sério. 
Este post destila fel. Peço desculpa pelo incómodo.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Bromances

Estou a ler o Brideshead Revisited. Ainda estou no princípio e nunca vi a série de televisão, que passou quando era pequena demais para me lembrar, portanto não me contem nada do enredo, por favor. Só sei mesmo que Brideshead é uma casa espectacular, que há uma família rica, que há um narrador fascinado pela mesma família e por um magnético Sebastian e pronto. E que a grande protagonista do livro é a casa, razão pela qual estou há uns tempos para ler esta obra. E que é tudo muito aristocrático e coiso e que depois vai tudo para a guerra. Fim. 
Mas não é a casa que me traz aqui. Nas primeiras páginas de Brideshead Revisited, estão o narrador e o Sebastian em Oxford, e queixam-se da maçada que é ter a universidade infestada de mulheres, e eventos sociais só para mulheres, e mulheres a tomar chá e a almoçar, e ai que chatice, vamos sair daqui para o meu palácio feudal uns diazitos até elas se irem embora. E assim o fazem, efectivamente.
Há uma certa literatura (tosse - DH Lawrence - tosse) que tem esta mania irritante, esta mania quiçá misógina de que as mulheres só servem de bibelots foleiros que quando saem da caixa são uma praga, e mais vale a gente dar-lhes uma cotovelada, parti-los e fingir que foi sem querer para nos conseguirmos livrar deles. 
Se não estou em erro, no final de Women in Love, a personagem de Rupert apercebe-se de que a sua relação com a namorada, ou mulher, não me lembro, será sempre insatisfeita e imperfeita porque a verdadeira relação perfeita existia na união com o seu amigo do sexo masculino, que morreu (não me lembro do nome dele). Não estamos a falar aqui de dois homens apaixonados, nem de nenhum subtexto gay (quer dizer, se calhar este subtexto existe, mas não é necessariamente o mais relevante) - estamos a falar da tal ideia, quanto a mim irritante, de que as mulheres são engraçadinhas mas em moderação, ao passo que a amizade entre dois homens, a relação entre dois homens, é uma camaradagem tal, uma união tal, que nada se equipara a ela e que qualquer mulher não passa de uma agradável distracção para tirar a barriga de misérias, como se costuma dizer. É a filosofia, igualmente irritante (reitero de propósito), dos bros before hoes. Ou seja, toda a nobreza está nos homens, e essa nobreza de sentimentos é negada às mulheres. 
Tudo bem. 
E porém, penso se não será possível que um homem tenha os seus 'bromances' e que estes o façam feliz; e que, ao mesmo tempo, as mulheres sejam vistas de modo diferente, mas em igual plano. Equiparadas, portanto. 
Não, não, mas não. Um clube de rapazes é sempre um clube de rapazes, e assim eles podem ouvir os Red Hot Chilli Peppers todos juntos e chutar a bola ou seja lá o que for que os rapazes fazem. As raparigas são peganhentas, como dizia o Calvin (do Calvin and Hobbes, bem entendido). 
Que parvoíce. Nem sequer consigo escrever parágrafos coerentes, de tal forma isto me desorienta. E assim se explica o meu apego às irmãs Bronte, todas mulherzinhas, que escreviam sob uma perspectiva feminina sem antagonizar os homens. Elas até queriam casar e tudo, e a Charlotte casou mesmo, não com o homem de quem ela gostava, mas enfim, foi o que se pode arranjar.
O que vou dizer a seguir é uma generalidade grosseira, mas é mais fácil uma rapariga encontrar coisas em comum com outra rapariga, os livros, as princesas, as Barbies, o cor-de-rosa, e o mesmo se passará com os rapazes, os carrinhos, o azul, o Homem Aranha. Culturamente, tendemos a orbitar em volta das similitudes que encontramos nos outros. Mas a piada da vida é conseguirmos entender-nos com a diferença, com o estrangeiro, com a oposição (seja ela masculina ou feminina). Daí eu não acreditar em 'bromances' nem em bros before hoes nem em hoes before bros. Expressões detestáveis, aliás.  Daí o DH, de alguma forma, me agastar. Embora eu adore o DH. Daí eu me ter irritado com o tal episódiozito do Brideshead Revisited.
Pronto, é isto. Boa noitinha.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

E se te mandassem atirar para um poço, atiravas-te?

Ainda a tentar superar a indignação da nota "lixo" que a excelsa Moody's nos ofereceu, constato que ler as notícias só traz misérias e infelicidade. O fecho do pasquim News of the World, por exemplo, que já há muito deveria ter acontecido, não é uma boa notícia porque é o resultado de uma série de tristes eventos em que o jornal se viu envolvido, subornando polícias e acedendo a escutas ilegais (inclusivamente a famílias das vítimas dos ataques de 7 de Julho de 2005) e gozando de impunidade durante anos. Já se falava disto há uns tempos, o Governo assobiava para o lado, ah, escutas a celebridades, que maçada, mas agora que toda a gente se indignou com o abuso e a abjecta falta de respeito que subjazem a fazer escutas a vítimas, David Cameron lá se decidiu a instaurar um inquérito público.
Tudo isto numa imensa operação cosmética a bem da moral e bons costumes, todos eles bem cerzidos, ainda que bolorentos por dentro - Rupert Murdoch, uma espécie de Berlusconi ligeiramente menos bimbo, que detém o quase extinto News of the World, assim como o Sun, o Times e o Sunday Times (por incrível que pareça, todos estes jornais, do tabloid à imprensa séria, pertencem ao mesmo homem - e talvez não seja assim tão incrível, já que todas estas publicações são de um conservadorismo um bocadinho insuportável), dizia, o que Rupert Murdoch quer é comprar o grupo British Sky Broadcasting, reinando, desta forma insuperável e incontestável, sobre todos os media britânicos. De modo que agora o mesmo Rupert Murdoch queixa-se, ah, que maçada, que aborrecimentozinho, perdemos publicidade no News of the World e está toda a gente chateada connosco, mais vale fechar, para mostrar que ainda temos alguma decência, e deixemos o Cameron instaurar o tal inquérito público, assim como assim o Rupert Murdoch é como o Hitler que também não sabia dos campos de concentração, e como tal está nesta história toda como inocente menino, até que os tempos conturbados acalmem, o Governo faça o seu papel, fingindo-se de muito admirado e revoltado, e tal e coisa, até chegar a altura de Murdoch conseguir adquirir, como quer, o grupo BSkyB, e publicar as notícias que quiser, quando quiser, como quiser. 
Dependemos dos meios de comunicação social para formarmos uma imagem do mundo.
Dependemos de agênciazecas de rating americanas para termos um país. 
E quando estas autoridades não têm vergonha na cara, por consequência, perdemos também nós a vergonha? Era o que eu gostava de saber.
Nunca confiar nas vozes que vêm de cima, para não acabarmos como a canção dos Rage Against the Machine - they say jump, you say how high.
Que miséria, pá.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Perfeitinha, perfeitinha

Há uma pessoa com a qual embirro, apesar de não a conhecer de lado nenhum, e que é a Gwyneth Paltrow. Em primeiro lugar, é bonita, mas deslavada - há pessoas assim, estranhamente; esteticamente, são agradáveis ao olhar, mas há algo ali a que falta sal. Sem sal, não se vai a lado nenhum, e eu, ainda por cima, sou salgadiça, preciso de sal no pão, no tomate, na saladinha e etc. 

Em segundo lugar, não é grande actriz. Quer dizer, também não é má, mas pronto, não é carne nem peixe, como diz o Gogol daquele homem que desata a comprar almas mortas. Isto de não ser nem carne nem peixe convém a certas profissões, como por exemplo contabilista, empregado das finanças, vendedor de loja de artigos de desporto, empregado de agência de viagens, entre outras actividades. Mas a actividade de actriz não se conta entra estas respeitáveis profissões que precisam de gente anódina, pelo contrário - um actor tem de ser para a frentex, como se diz. A Gwyneth, lamentavelmente, não é.

Em terceiro lugar, a mesma Gwyneth tem aquele ar de menina perfeitinha, sempre bem penteadinha, sempre bem vestidinha, sempre sorridentezinha, sempre com ar de quem nunca partiu, ou partirá, um prato. As pessoas perfeitas são terrivelmente esquisitas, tenebrosas - o sorriso que muda com as estações do ano, tal como a roupa que vestem, o cabelo sempre cuidadosamente no lugar, e o pior de tudo, sempre a palavra certa para a pessoa certa, sem nunca falhar. O tipo de meninas que nunca sujava as mãos na escola, nem no recreio nem a pintar com marcadores. Brrrr.

Para confirmar a sua perfeição, a Gwyneth tem um blogue espectacular, que pode ser consultado aqui. É uma beleza imperdível, a lojinha de queijos em Londres, porque nada na vida é melhor do que um bom queijo e um bom vinho, claro, os melhores petiscos para fazer piqueniques no dia do casamento real, livros que ensinam a ser o melhor pai ou mãe possível (ao que parece, este livro conseguiu que uma das amigas da Gwyneth "voltasse a gostar dos filhos"), as melhores escolas para os meninos, os melhores produtos para a pele, super biológicos, claro, tudo coisas assim com estilo. Coisas perfeitas, com a singularidade de serem coisas que se podem comprar. Quem diria que a felicidade, que o estilo de vida perfeito, era afinal tão fácil, tão simples, tão arrumadinho, à distância de um simples cartão de crédito, como a Gwyneth explica no seu blogue?
Aaah... sinto-me tão bem comigo mesma depois de saber que há gente assim no mundo. É que me sinto bem.  

quarta-feira, 2 de março de 2011

Banda da semana que não compreendo: os Coldplay

Devo desde já fazer uma declaração de interesse e dizer que: ponto um, gostei da primeira música que ouvi de Coldplay, Yellow, que pertencia ao primeiro álbum, e gostei até bastante; ponto dois, gostei de uma música que ouvi do segundo álbum, que era o In My Place, e com óbvia falta de discernimento, comprei o segundo CD desta banda. Em absoluta verdade, e chegamos ao ponto três, ouvi este CD duas vezes na vida, o que confirma a minha obtusidade.
A partir daqui, confessados que estão os embaraçosos pecadilhos, estou absolutamente à vontade para tecer e elaborar todas as críticas que eu quiser a esta banda, e são muitas; são muitas porque os Coldplay são a coisa mais entediante que eu alguma vez ouvi. É que são seca, seca, seca, seca, ainda por cima má seca - e o que é que me leva a não compreender esta banda? Não é o facto de serem uma seca, é o facto de conseguirem vender tanto. É que eu esperava que as pessoas tivessem um limite para o tédio que conseguem suportar, mas pelos vistos não, não têm limite nenhum.
Há bandas que se podem designar por "seca". Bandas que aborrecem, dão vontade de bocejar e  amolecer que nem lesma indolente. Eu não quero saber - digo já que, para mim, Dire Straits é essa banda. É que não consigo ouvir um acorde que seja que fico logo prontinha para  adormecer, e não me venham com o Brothers in Arms, ai que linda canção que é!, e o Romeo and Juliet, ai que bonito!, e o I want my MTV ou sei lá, não achas a canção engraçada?, e o Mark Knopfler na guitarra (bem, este homem a solo, então, meu Deus, sem comentários). Esta banda e estas canções são velhas, bem sei, portanto se calhar não contam. Mas vamos a mais exemplos - Norah Jones, outro tédio. Clássicos da guitarra, tipo Joe Satriani ou assim, outra seca. E, evidentemente, há outros exemplos que alguém mais douto do que eu conseguiria enumerar e bandas muito mais recentes e com muito hype à volta que também são um grande tédio, mas são bandas mais ou menos insignificantes. 
Porém, estes exemplos que eu acabei de enumerar têm uma diferença relativamente aos Coldplay, e essa diferença é qualitativa. É que, dentro da categoria de bandas-seca, há a má seca e a boa seca. Eu acho que a Norah Jones é seca, mas consigo compreender perfeitamente que a Norah Jones é melhor do que os Coldplay. É que estes últimos não têm nada que os salve, nada, nada - são feiosos (pelo menos, têm mau gosto para se vestir); não têm talento como músicos; têm a mania que são bonzinhos e queridinhos, o que, não diria "enfurece", mas irrita um bocadinho; não escrevem letras de jeito ("for some reason I can't explain/I know Saint Peter won't call my name" -  ? Tanto mais que alguém que sabe  de antemão que o S. Pedro não o vai chamar, terá com certeza uma ligeira ideiazinha do porquê, mas enfim, isto já é filosofia a mais; em termos de letras, a minha preferida é para aí o "lights will guide you home and ignite your bones". Pausa para rir. Não vale a pena ir mais longe, é só fazer uma busca no google de letras dos Coldplay e, basicamente, preparar uns minutinhos para aquele misto de riso e desprezo que só o que é verdadeiramente medíocre consegue provocar).  Tudo nos Coldplay serve um propósito, que é: irritar numa primeira fase, e entediar numa segunda fase. Prefiro uma banda que me irrite, apenas, porque ao menos distraio-me. 
De modo que, com tanta banda sem talento que há por aí, mas um bocadinho mais animada, não percebo bem porque é que as pessoas escolhem ouvir Coldplay e muito menos pagar bilhete para os ver ao vivo. Às vezes, há bandas que são muito medianazitas em estúdio, mas que depois ao vivo são um estrondo. Duvido que seja o caso de Coldplay, e não faço tenções de ir confirmar com os meus próprios olhos - mais facilmente ia ver isto:

O Yanni na Acrópole deve ter sido, no seu tempo, um espectáculo ao vivo muito composto, e sempre é na Acrópole, além de que, como facilmente se pode constatar, tem um veio trágico-cómico bem aceso, que é coisa que os Coldplay, no seu esforço (louvável, porque não) do politicamente correcto, não apresentam. Quer dizer, um veio trágico até apresentam, por acaso.
Enfim, são uma seca. Mas serviram para eu me entreter a escrever isto, portanto presumo que lhes deva dirigir o meu bem-haja. No entanto, agora não me está a apetecer, fica para a próxima.

terça-feira, 1 de março de 2011

Comment is free, but facts are sacred

Não compreendo muito bem a eficiência da moderação de comentários no Público (e antes que me esqueça, peço desculpa por mais um piroso título em inglês que nem sequer tem muito, muito a ver com o post, mas é o mote do Guardian e, enfim, eu achei que dava um certo élan, um certo nível, à coisa).
Estava a ler esta notícia, sobre o protesto da "geração à rasca" (bolas, a minha geração nunca foi capaz de atrair nomes bonitos, é cada um pior que o outro, só dichotes e enxovalho; alguém devia tomar uma atitude em relação a esta miséria linguística, que, em conjunção com o recibo verde, levanta sérios problemas de auto-estima e confiança), dizia, estava então a ler a notícia, e decidi ler os comentários também, num acto claramente sado-maso, porque a gente já sabe de antemão que, por qualquer razão misteriosa, os comentários do Público, salvo algumas excepções, conseguem ser dejectos tão grandes como os do Correio da Manhã ou coisa parecida. Mas pronto, sem salvação possível, fui ler os comentários. As pérolas que lá aparecem, já sem sequer atentar na cuidada ortografia que apresentam, são sinais da grande inteligência, presciência e argúcia com que este país pode contar: desde meninos mimados que não levantam o c* para ir votar, passando pelo lugar-comum de a tropa e a Guiné é que era, até acabar em elucidações como a culpa é toda dos licenciados porque escolhem cursos sem saída, a culpa é dos licenciados que não procuram como deve ser, eu por exemplo procurei e num mês tive logo duas ofertas, a culpa é dos jovens, mais uma vez mimados, que dão o corpo ao manifesto no facebook, mas quero ver quantos lá aparecem prontos a partir tudo no dia da manifestação em si, preguiçosos, indolentes, isto e aquilo.
Não são só os mais velhos que destilam fel sobre uma geração que, pelos vistos, não respeitam muito por motivos que nada têm a ver com a própria geração (o Ultramar, a falta de possibilidades para estudar quando se calhar até queriam, e de facto deve ser difícil assistir a hordas de pessoas que se vêm queixar depois de terem conseguido efectivamente tirar um curso, coisa que há uns anos atrás era, injustamente, só para alguns); mas, dizia, não são só os mais velhos, ressequidos e ressabiados, que se indignam contra esta geração que apelidam de "meninos mimados" - são, muitas vezes, os membros desta designada "geração à rasca" que se acham, por qualquer razão, moralmente superiores aos que se queixam, como se fosse sinal de fraqueza, torpeza ou cobardia alguém queixar-se de coisas que são notoriamente inaceitáveis. E, contra esta geração, insurgem-se também pessoas notoriamente privilegiadas, sem autoridade para dizer o que quer que seja pelo conforto que sempre detiveram, e que com nada contribuem sem ser com a imensa arrogância dos instalados na vida (vide esta outra pérola). 
E de modo que o problema está precisamente aqui - na pouca inteligência que este debate sobre a geração à rasca tem revelado. Os problemas com que a minha geração se debate não são só problemas geracionais, são problemas infelizmente estruturais, endémicos, permanentes, que afectam não apenas os licenciados, mas todos os jovens e trabalhadores em geral. Fragmentar uma possível discussão e resolução do problema como se se tratasse de uma questão que afecta apenas uma geração é algo absolutamente estúpido, sem outra palavra que o possa descrever. Alguém pode encarar a precariedade dos licenciados, e/ou das pessoas que trabalham, como outra coisa senão como um atraso profundo que demorará anos a ser ultrapassado, se for ultrapassado de todo? De onde é que vai vir o dinheiro das reformas? O dinheiro para o sistema nacional de saúde? O dinheiro para a educação? O dinheiro para, em geral, gerir um país inteiro? De pessoas que fazem descontos de salários de 500 euros por mês ou menos? Vai lá, vai, como dizem, lá está, os jovens rascas. E, uma vez que falamos disto, que tipo de pessoas serão estas? A que tipo de escolas e educação tiveram acesso? Quantas línguas falam e onde as aprenderam? O que sabem, de facto, fazer? O que lhes ensinou a universidade, e que recursos tinha esta universidade? Que tipo de trabalho estão aptas a cumprir, e que tipo de trabalho conseguirão arranjar? Como é que um país que não investe em gente forte, qualificada, inteligente, se vai safar para conseguir ter gente forte, qualificada, inteligente para tomar decisões? A não ser, claro está, que achemos bem que aqueles que vêm de certos ambientes familiares, resguardados e privilegiados, façam a sua vida lá fora ou cá dentro, tanto faz, porque a eles tudo lhes correrá sempre bem, e os outros, os que apenas podem contar com os recursos públicos para fazer pela vida, se afundem no mundo de mediocridade e mediania a que certamente pertencerão, porque não vão conseguir acesso a mais - se a escola lhes passar a ensinar horários de comboio em vez dos Lusíadas, a cabeça não vai dar para mais. E é isto que, cada vez mais, se promove em Portugal, e é contra isto que, evidentemente, algo tem de ser feito - o protesto da Geração à Rasca é  um começo. Não o vejo como um movimento de meninos mimados (é preciso muita lata para chamar a esta gente que se desunha meninos mimados, mas pronto), mas sim como um começo para uma solução que se espera inteligente.
E pronto, isto vinha tudo a propósito da pobreza dos comentários no Público e de como devia haver uma moderação muito mais eficiente. Mais uma vez, destilei-me eu de toda a fel, mas assim como assim, isto é um bloguezinho pessoal, portanto posso vir para aqui escrever o que me apetecer em vez de abreviar tudo num comentário foleiro online. A quem leu até ao fim, o meu sincero obrigado e votos de uma boa continuação.