Descobri hoje que existe uma coisa, um "movimento", à falta de outra palavra, designado por "pós-feminismo". Eu tendo a desconfiar de tudo o que vem colado ao prefixo "pós", e este novo "pós" que descobri não foge à regra (de me fazer desconfiada, quero eu dizer).
Talvez se deva apenas à minha ignorância, já que ainda não conseguir ler muito sobre isto. As informações da sempre utilíssima Wikipedia não me deixam, porém, muito descansada (negritos meus):
Sim, eu gosto de pensar que o feminismo conseguiu já grandes avanços na emancipação da mulher e na conquista da igualdade de direitos, pelo menos no mundo ocidental. Pelo menos, já podemos conduzir um carro, viajar sem autorização dos pais ou do marido, divorciarmo-nos. Contudo, as mulheres continuam em geral a ganhar menos do que os homens pelo mesmo trabalho, continuam a ser prejudicadas na maternidade a que têm direito (contratos não renovados depois da licença, empregadores relutantes em contratar mulheres em idade fértil, não vão elas desatar a ter filhos), continuam sujeitas a piropos indecentes na rua e a aprender que isto tudo faz parte da cultura, que é de aceitar e nunca de responder, continuam vítimas de violência doméstica em números assustadores, continuam vítimas de preconceitos vitorianos, criminosos, face à sua sexualidade, ou às imagens estereotipadas sobre a sua sexualidade. E isto tudo, apenas no mundo ocidental - se falarmos na situação das mulheres do Sudão, da Arábia Saudita, sei lá eu, nunca mais saímos daqui.
Portanto, faz-me um bocadinho de impressão que alguém (principalmente se esse alguém é uma mulher) vir dizer que o feminismo já fez muito para reduzir o sexismo, e estamos agora prontas para passar para a fase do "pós". Um bocadinho de impressão, só. É que eu não acho nada que a fase do "pós" esteja sequer iminente. Se alguém tem problema com a palavra "feminismo", porque é muito radical, ou muito extrema, e não se quer meter nessas cavalgadas, tenho muita pena. O problema é deles, e infelizmente delas. O feminismo, para mim, faz sentido, e é uma palavra, um conceito, uma noção que recuso deixar de utilizar, em que recuso deixar de pensar. Podemos discutir que feminismo é este - não será o de Valerie Solanis, mas também nunca foi, verdade se diga.
Ouvi há alguns anos uma feminista inglesa (não me lembro do nome dela, mas se a vir sei quem é) queixar-se, agastada, porque verificava que as miúdas dos dias de hoje não gostavam do feminismo e criticavam as pessoas da sua geração (a geração dessa velha feminista) por serem muito radicais e por terem andado a queimar soutiens. E dizia a velha feminista - nós lutámos por vocês. Say thank you, dizia ela, enervada.
Por mim, agradeço desde já e continuarei a agradecer sempre às sufragettes, aos anos 60 e à queima de soutiens e a todas as feministas dos dias de hoje que defendem a igualdade e lutam, da forma que consideram adequada, para que todas as mulheres possam levar a vida que entendem, ao lado dos seus homens ou sem eles, se assim o desejarem. Como quiserem.
Thank you.