Este livro é estranhíssimo. Li-o há uns meses e ainda estou a decidir se gostei, se não. Há livros assim, que nos fazem demorar algum tempo a formarmos algo que se possa designar por "opinião". Agora, que a"História do Olho" tem partes que me interessaram muito ao nível da escrita, isso é inegável, principalmente aquelas descrições obsessivas e muito físicas de ovos e glóbulos... interessante, sem dúvida.
O que queria realmente ler de Bataille agora são os ensaios, mas devo dizer que nunca os vi em nenhuma livraria. Talvez a falha seja minha, mas espanta-me aquilo que as livrarias não têm. Há obras fundamentais que qualquer livraria deveria ter. Uma coisa que me deslumbra e que ao mesmo tempo me entristece é que qualquer livraria em Inglaterra (não apenas em Londres - passa-se o mesmo em livrarias da "Inglaterra profunda") tem um pletora de clássicos (e, também, de contemporâneos) impossível de encontrar em qualquer livraria portuguesa, grande ou pequena. Do ensaio do século XXI aos clássicos gregos, encontramos de tudo, a vários preços, de várias editoras, em várias traduções. Sei que em Portugal as coisas não poderão nunca ser da mesma forma, mas de qualquer modo não me parece que uma livraria como a Fnac, que se farta de fazer dinheiro neste país, e isso é bem sabido, tenha qualquer desculpa para a paupérrima secção de Gregos que apresenta, e em geral a paupérrima secção de certos géneros canónicos e essenciais. Nem Fernando Pessoa têm em condições. Nem literatura portuguesa ou lusófona em geral. Também é sabido que as coisas melhoram sempre um bocadinho por alturas do Natal, em que há mais selecção, mas mesmo assim o panorama geral é um bocadinho pobre. E não é só na Fnac que isto acontece. Recuso-me, pura e simplesmente, a compreender quaisquer razões que impeçam a Bertrand do Chiado a não ter disponível qualquer obra que seja do Fitzgerald, que é um clássico, é canónico; se não têm Fitzgerald, têm o quê?! Espero que a situação já tenha melhorado e que a Bertrand do Chiado já tenha corrigido esta grave lacuna.
Por mais que digam que há alternativas à Fnac, em livrarias mais pequenas e que tentam ter uma selecção mais apurada, ou mais alternativa, ou o que seja, fico sempre supreendida que seja difícil encontrar Gregos, que seja difícil encontrar ensaio, que seja difícil encontrar um acervo básico de livros que, para mim, enquanto leitora, qualquer livraria deveria ter. Mas percebo, ou pelo menos desconfio, que haverá razões financeiras subjacentes a esta falta de selecção no caso das pequenas livrarias, e o meu coração e cartão multibanco estarão sempre, indubitavelmente, com elas (o coração, sempre; o cartão multibanco, enquanto me for possível. Não é, porém, por reconhecer a pequenez de mercado deste país, ou o que quer que seja que explica estas lacunas, que a situação me entristece menos.
De qualquer modo, serve este post não para vilipendiar a Fnac, onde vou muitas vezes e continuarei a ir, e onde sou detentora do recentemente famigerado cartão Fnac e continuarei a ser, mas antes para dizer que gostaria de encontrar, e quiçá até comprar, os ensaios de Bataille. Quem os vir à venda, se tiver a gentileza de me informar, um grande bem haja antecipado (bem-haja é uma alternativa super-catita a obrigado, acho eu).
4 comentários:
na almedina de Braga havia, pois adquiri A Literatura e o Mal . Por isso, deve haver nalguma Almedina de Lisboa. :)
Gosto da forma como escreves. Vim aqui parar pela avisada dica do Rui Almeida. Bem-haja, também ele, catitamente.
Ana Salomé, obrigadíssima pela "dica", como se diz agora. Era precisamente a Literatura e o Mal, ainda mais do que o Erotismo, que eu queria ler.
A Fnac e a Bertrand funcionam como barómetro: se não há lá, provavelmente, não vende. podia-se fazer até o simples exercício: quais os dez livros que gostarias de encontrar, agora, numa livraria? Eu diria que seria bastante complicado satisfazer toda a gente. É esse o problema diário das livrarias...
Não fiz de propósito... mas apanhei hoje "O Erostismo" num alfarrabista de Lisboa por 4 euros. Edição da Moraes de 1968, com tradução de João Bénard da Costa e abundantes sublinhados de um seu anterior proprietário.
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