sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Massacre das Teclas

(estou a escrever este post muito apressadamente, o tempo urge, se o português estiver mau é porque é à pressa, perdoem)
Hoje, o meu regresso a casa foi gótico e poético. Chuvia, o nevoeiro era denso e não se via um palmo em frente do nariz, como se costuma dizer, nem com os médios ligados, e não os máximos, porque nas aulas de condução disseram-me que, em situação de nevoeiro intenso, devem ligar-se os médios e não os máximos, pois os primeiros apontam para o chão e os segundos não, de modo que com os primeiros (os médios) vê-se melhor o chão em situação de nevoreiro cerrado, tal como aquela em que me encontrava (não parece que estou com pressa, mas estou).
Propositadamente, escolhi um atalho ao invés de tomar a estrada normal que me conduziria a casa, porque em dias de chuva gosto de meter campo adentro, a pensar que vivo no Romantismo. Este atalho é uma estreita estradinha, que atravessa umas vinhas, e depois continua monte acima, e onde ninguém vive. Estava chuva; o meu carro não se dá bem com chuva, empanou, começou a cheirar mal e a deitar fumo, eu dentro do carro assustada, era tarde, anoitecera, estava frio, e para aumentar o meu mal-estar, aparece um velho esbugalhado, de olhos muito pretos e sobrancelhas espessas, de cajado na mão, voz roufenha e agressiva, a perguntar se eu preciso de ajuda, e que era para eu sair do carro, para ele me ajudar. Eu disse que não, mas o carro cada vez deitava mais fumo, de modo que tive medo que aquilo explodisse comigo lá dentro, e achei melhor sair. Não vi mais nada senão um grande buraco negro, porque o horrível velho meteu-me dentro de um enorme saco, depois atirou-me para uma carrinha e acelerou em grande velocidade, enquanto, maldosa e velhacamente, se ria. Quando me tirou da carrinha e do saco, vi que me deixara numa sala lúgubre e escura de uma casa a cair de velha, onde apenas uma fraca, ténue e mortiça lâmpada pendurada no alto tecto espalhava alguma luz. Consegui ver que estava rodeada de pessoas que pareciam zombies, olhos inexpressivos, dentes pontiagudos, longos dedos esquálidos, e pensei de imediato que me iam devorar, pois estavam bastante magros, e ainda por cima eu dava para os alimentar, que chatice, mas porque é que eu deixei de ir ao ginásio, agora é o que dá... mas não. Os zombies aproximaram-se de mim até eu sentir um cheiro fétido a pairar e aquele que devia ser o chefe deles, sem grandes delongas, disse:
- Tu não sais daqui sem fazeres uma coisa que a gente te vai mandar fazer.
- É o quê?! Eu quero ir-me embora para casa! - gritei eu, entre o assustada e o muitíssimo indignada.
- Não. Só sais daqui viva se nos escreveres um blog.
- ?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!
- Ah, pois, não faças essa cara. Nós temos um pc com ligação à internet, que um senhor nos veio cá montar (por acaso até foi este senhor idoso que fez o favor de te vir cá trazer), mas ele já tem trabalho suficiente connosco, não lhe podemos pedir que também nos escreva qualquer coisa, e nós não conseguimos escrever no teclado, os nossos dedos não têm força. Afinal, nós já estamos mortos, né.
- Então mas vocês são um grupo organizado, são um movimento, um sindicato, têm assim alguma mensagem, ou...para que é que querem ter um blog, afinal?
- Não pertencemos a nenhum grupo, nem temos mensagem nenhuma, nem sequer temos nada de especial para dizer ou para escrever. Mas não é precisamente por isso que as pessoas têm blogs?
- Aaaaaah.... pois, realmente, eu....pois, é verdade, é. Realmente tem razão.
- Então é isso. Nós só queremos uma pequena oportunidade para nos relacionarmos com os humanos. Não é pedir muito. Sabes mexer na Internet, não sabes? Também sabes escrever, não sabes?
- Sei. Quer dizer, pelo menos aprendi na escola, não sei se isso é "saber escrever", quer dizer, não sou nenhuma Florbela Espanca, se é nisso que está a pensar, olhe que eu...
- Ai, pronto, cala-te, já percebi! Aprendeste a escrever na escola, chega. Vá, agora escreve. A gente diz-te os tópicos, coisas assim da nossa vida passada, quando tínhamos uma vida no mundo lá fora, e tu finges que é sobre ti, adaptas, percebes? Consegues fazer isso, não consegues?
- Olhe, não sei! É difícil escrever para outra pessoa, e além disso o que me está a pedir é muito esquisito, e esta casa é esquisita, e eu quero ir para casa.
- Só vais depois de escrevers no blog. Se não escreveres, nunca mais te deixamos sair daqui. Começa a escrever.
- Olhe, eu nunca o tratei por tu, não o conheço de lado nenhum, o senhor por acaso conhece-me para me tratar por tu?
- Não sou "senhor", eu não te disse que já morri? Os zombies não são senhores nem senhoras, são só zombies. Escreve!
E de modo que é isto, tenho passado todos estes meses aqui fechada a escrever, a escrever, a escrever estes posts todos que tenho escrito desde Novembro, desde que comecei este blog, nem sei como consegui, só vejo teclado à frente, mas agora apanhei esta aberta, pois eles não estão aqui a ler o que escrevo, distraíram-se; amigos que estiverem a ler isto, venham salvar-me, salvem-me!, tenho mais ou menos uma ideia onde estou, a morada é...
Pam!
(barulho da martelada que levo na cabeça e que me deixa inconsciente; o martelo é de plástico; consequentemente, daqui a pouco vou acordar e voltar a escrever...)

1 comentário:

Anónimo disse...

É muito desagradável este post não ter nenhum comentário. É mesmo bom.