quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
E uma vez que hoje é o último dia de 2008
Self improvement is masturbation
terça-feira, 30 de dezembro de 2008
Being Caravaggio
segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
Temos pena
A farsa
Requiem para Pier Paolo Pasolini - Mario Viegas
torna a morte ainda mais insuportável.
Era Novembro,devia fazer frio,mas tu
já nem o ar sentias,o próprio sexo
que sempre fora fonte agora apunhalado.
Um poeta, mesmo solar como tu, na terra
é pouca coisa: uma navalha, o rumor
de Abril podem matá-lo - amanhece,
os primeiros autocarros já passaram
as fábricas abrem os portões, os jornais
anunciam greves, repressão, dois mortos na
primeira página, o sangue apodrece ou brilhará
ao sol, se o sol vier, no meio das ervas.
O assassino, esse seguirá dia após dia
a insultar o amargo coração da vida;
no tribunal insinuará que respondera apenas
a uma agressão (moral) com outra agressão,
como se alguém ignorasse, excepto claro
os meritíssimos juízes, que as putas desta espécie
confundem moral com o próprio cu.
O roubo chega e sobra excelentíssimos senhores
como móbil de um crime que os fascistas,
e não só os de Saló, não se importariam de assinar.
Seja qual for a razão, e muitas há
que o Capital a Igreja e a Polícia
de mãos dadas estão sempre prontos a justificar,
Pier Paolo Pasolini está morto.
A farsa, a nojenta farsa, essa continua.
Melhor de 2008 (lista em crise)
domingo, 28 de dezembro de 2008
Bordalo Pinheiro
Ao longo dos anos, as Faianças Artísticas Bordalo Pinheiro, Lda., mantêm na sua produção, o design e a colecção do seu mestre, garantindo uma qualidade superior, desenvolvendo linhas que se ajustam de algum modo à sua tradição que sempre a tem distinguido.
É sem dúvida o elo de ligação entre a Natureza e a Faiança.
Aqui, encontramos uma infinidade de peças de utilidade e decoração, nomeadamente, terrinas, pratos, travessas, etc., com as diferentes formas desde couve, animais, frutos, mariscos e outros motivos ligados à Natureza. (http://www.bordalopinheiro.com/)
Branca (ou talvez apenas Pálida?) de Neve
sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
Sequim d'Ouro e demonstração de como o optimismo não é sustentável
Ao ver criancinhas a esganiçar a pobre garganta em meneios de macaquinho amestrado, sabemos que vivemos no pior dos mundos possíveis.
Qualquer das hipóteses é negra e não permite optimismo, sendo que as minhas celebrações relativamente a 2009 vão ser por isso escassas e contidas, porque em grandes celebrações desenfreadas da entrada de novo ano já não me apanham, que eu não sou parva a ponto de desperdiçar a minha energia num ano que eu nem sequer conheço.
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
Post que não interessa a ninguém a não ser a mim - sinto-me na obrigação de avisar que é sobre cabelos
Esta é a ditosa Grécia, minha amada
Se eu tivesse o mínimo jeito para escrever sobre a actualidade, escrevia sobre Atenas.
Mas não tenho.
(outra) Gaja que faz o meu estilo: Marianne Faithfull
Segundo, uma arrojada, uma maluca, aos pinotes com os Rolling Stones, assim é que é.
Terceiro, canta bem. Uma voz de bruxa cheia de personalidade. Canta o que quer quando quer. Adoro o seu álbum Strange Weather, e aquele Boulevard of Broken Dreams, logo a primeira canção, que ela canta dolorosamente, como uma bruxa roufenha, que dito assim parece feio mas não é, é lindo (I walk along the street of sooooorrooooow....)
Quarto, ainda faz música (vai sair um álbum novo em breve) e faz filmes porreiros. Quer dizer, digo isto devido a Irina Palms, que eu não vi, mas disseram-me que era bom, eu é que me tenho esquecido de ir alugar o DVD para ver. Mas parece ser bom, tem a Marianne a fazer de prostituta velhota para arranjar dinheiro para a operação do neto.Gosto desta tipa, gosto mesmo. E, por isso, segue-se um vídeo muito interessante, visual e musicalmente, em que a Marianne canta Sony & Cher com David Bowie. Sinceramente, não sei o que é melhor, se a versão deles de "I've got you babe", se a maquilhagem do David Bowie que lhe fica a matar, se o hábito de freira da Marianne. É difícil decidir.
domingo, 21 de dezembro de 2008
Errar na nacionalidade?
Estou perfeitamente convicta de que, se acaso o Herman fosse inglês, há muito que o mundo teria encontrado o seu Ricky Gervais.
Eu concordo, o Herman tem poder. Tem é de fazer uma forcinha, porque ultimamente anda em baixo. Não fosse o programinha na Antena 1, o Tal País, e as ruas da amargura por onde anda a SIC (ruas essas de onde provavelmente nunca saiu) davam cabo dele em absoluto.
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Rui
Portugal: acho que o que gosto em ti, o que me motiva, é o teu sorriso transversal
A inveja é uma baixeza, e penso que todos os Portugueses, em geral, o sabem. Mas a verdade é que me parece, de facto, que somos um país invejoso. No entanto, não somos abertamente invejosos, abertamente retorcidos e asquerosos como os bastardos das peças do Shakespeare. A nossa inveja consegue uma subtileza de que só nos apercebemos através de pequenos indícios, como pequenos olhares azedos escondidos por detrás de um sorriso, ténues ataques verbais, ligeiras tentativas de demonstrar uma autoridade inexistente e absurda. Quando invejamos, demonstramos a inveja ao tentar, de forma inútil e estéril, ser melhor de quem nós sabemos que é melhor do que nós. Em vez de nos encherem de alegrias, as pessoas de qualidade, inteligentes, sensíveis, competentes, são antes consideradas aves raras e incomodativas que nos obrigam ao confronto com as nossas próprias limitações. E preferimos então entregarmo-nos à bílis da inveja, conscientes da nossa mediocridade, mas incapaz de a admitir.
A nossa incapacidade para a lágrima é outra coisa que me intriga. Tenho pensado nisto, e não me parece que os Portugueses sejam muito dados ao choro, o que me espanta verdadeiramente, dado a miséria e as queixas em que somos peritos. Queixamo-nos tanto, e ainda mais ao percebermos que temos todas as razões para isso, porque somos pobres e feiosos. Devíamos chorar todos os dias. Mas não. A nossa cara é enfiada, olheirenta, estafada, mas não choramos. Mesmo os fadistas, que se entregam tanto ao negro e à sombra, não choram. Parece-me que, apesar de toda a educação ultraromântica de que se queixava o Eça, e que me parece ainda permanecer (a titi a tratar do seu Eusebiozinho, o tesouro da casa, sobreprotegido e medíocre, a recitar um poema que era bonito por ser muito triste, coitadinho), as lágrimas não são o nosso forte. Somos educados a engolir as lágrimas, literalmente. Aguentar e falar, queixar até que a voz nos doa, mas nunca chegar ao ponto de chorar.
No fundo, tanto a inveja subtil como a nossa contenção com as lágrimas reflectem, de alguma forma, uma característica nossa que talvez seja aquela que de facto me interessa verdadeiramente: a “transversalidade”. A incapacidade de sermos preto no branco, directos, incisivos. Fazemos tudo por portas travessas – e esta expressão é muito significativa. Não me parece que seja necessariamente um defeito. Não pretendo apresentar a nossa “transversalidade” como se fosse um defeito, pois não é assim que eu penso nela. Aliás, a primeira vez ouvi que ouvi falar disto até foi sobre as formas de tratamento da língua portuguesa, tema que me é caro. A miríade interminável de formas de tratamento de terceira pessoa (formas nominais, verbais, sem esquecer o famigerado “você”!) demonstra bem a nossa sofisticação e vontade, pelos visto indómita, de evitar o confronto directo que a segunda pessoa exige. Sempre o você, nunca o tu.
Porque será?
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Miscelânea, mas principalmente Mariana Alcoforado - payback
Começando pelo inofensivo, faz-me sempre rir quando as pessoas, em vez de dizerem, por exemplo, "eu sou uma pessoa estúpida", introduzem uma oração relativa completamente inútil, e dizem "eu sou uma pessoa que é estúpida". Esta capacidade dos portugueses para tornarem tudo distante de si mesmos, falando da "pessoa que é estúpida" ao falarem deles próprios é fascinante.
Tu quoque, Nicola
De modo que a minha pergunta é: porquê? Também tu, Nicholas, também tu te vendeste. Eu, que te adorei a fazer de Sailor nesse filme assombroso que é Wild At Heart, quase que me apaixonei por ti, eu que adorei o teu discurso quando ganhaste o Óscar (qualquer coisa como "sei que não está na moda dizê-lo, mas espero que se continue a apoiar o cinema independente"), tu que tinhas (e tens) essa maneira lenta de falar, vagarosa, esse olhar meio tolo e inocente, essa rosto feioso de bom rebelde, aquele casaco de pele de cobra quando levavas a Laura Dern a dançar, esses maneirismos à Elvis tão engraçados, para onde é que isso foi tudo?! Que tenhas feito o Face Off, digo-te já que não só percebo, mas até concordo. Se bem que achei mal teres deixado que o John Travolta tenha representado bem melhor do que tu, mas pronto, o filme vê-se bem, é giro, estavas a experimentar coisas novas. O Con Air já custou mais a aceitar, mas pronto, afinal também estavam lá bons actors, o Malkovich, o Cusack (sweeeeeet), o Buscemi, e o filme é um filme de acção que também se vê bem. Agora - a Cidade dos Anjos?! Aquela porcaria do Tesouro?! Mas o que é que te deu? E depois tentas compensar com coisas mais ou menos independentes mas que também não são boas, que confundem ser seca com "ser indie", tipo Weather Man. Embora admita que, naquele filme em que vendes armas, não me lembro agora o nome, estavas bem. Mas começa a ser excepção.
Melhor prenda de Natal de sempre
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
Let me count the ways in which I love thee...?
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
Annus horribilis (ou: epá, estou de tão mau humor que me irrito a mim própria)
Tenho de resmungar contra o ano inteiro.
2008 foi uma porcaria pegada, do princípio ao fim, e cá para mim o fim adivinha-se ainda pior do que o começo, se é que é possível.
Birra
Acordei hoje de madrugada
Saí de casa, bem apressada
Antes do emprego já estava cansada
E cheguei lá por fim
Já bastante mal disposta
Mas há que produzir, é o que o patrão gosta
É terça-feira, das cinzas talvez
Amanhã que é quarta-feira há trabalho outra vez
Eu já sei que é preciso
E tento ter o juízo
De não me queixar, ai as contas p'ra pagar
É terça feira, feira da ladra
Trabalho muito, mas não em demasia
E por mais que eu queira, não há maneira
De sentir aquilo qu' o Sérgio dizia
Diz o Sérgio que a rapariga
Troca a tristeza pela alegria
Mas eu à terça-feira
Sinto-me sempre tão foleira
Não vamos brincar ao Natal
Amanhã, vou começar a percorrer o pátio, lentamente, em círculos, a entoar "quem é que não tem paciência para o Natal, quem é que não tem paciência para o Natal, quem é que não tem paciência para o Natal..."
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Aspectos linguísticos de pouco interesse mas que a mim interessam (e por vezes enervam)
domingo, 14 de dezembro de 2008
Artigos impróprios para o Domingo
sábado, 13 de dezembro de 2008
Hermengard
Os homens não se querem bonitos.
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
Eu gostava de chegar à idade dele com aquela pele, muito esticada, parece que fez um "peeling"
Pensamentos kafkianos
Não são?
Ao menos isso.
"Amália", o filme - versão comentada
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
Tuesday bloody Tuesday
Razão balofa para se começar a gostar de ter nacionalidade portuguesa, ou: Ladykiller
Tristão - e Isolda.
Abelardo - e Heloísa.
Lamartine - e Elvira.
Fausto - e Margarida.
Werther - e Charlotte.
Dante - e Beatriz.
Petrarca - e Laura.
Camões - e Dinamene, e Bárbara, e Catarina de Ataíde, e D. Francisca de Aragão, e Infanta D. Maria, e, e, e, e ... Ó yé.
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
Entre as brumas da memória, ó pátria, de quem se ouve a voz?
Não conhecia esta anedota, mas ri-me bastante. Um belo exemplo do amargo sentido de auto-depreciação dos portugueses.
No seu Labirinto da Saudade, Eduardo Lourenço explica de alguma forma esta amargura, com mais ou menos verve, com mais ou menos acidez, dos portugueses, que se acham sempre miseráveis e que vivem fascinados com tudo o que se faz ou se importa do estrangeiro, por mais reles que o estrangeiro seja. Somos um povo traumatizado que, por isso, sempre teve necessidade de um “irrealismo prodigioso” para lidar com o seu conflito interior. Um país que nasceu de um filho que se rebelou ilegitimamente contra a mãe e que, por isso, desencadeou uma necessidade imensa de justificação, de um destino maior, mais nobre e divino a cumprir, para que a independência e a nossa própria razão como país fizessem o mínimo de sentido. Começa-se logo pelo milagre de Ourique, em que, muito apropriada e convenientemente, Jesus Cristo aparece a D. Afonso Henriques, incitando-o a lutar pelo pedaço de terra que é seu e ungindo-o como rei por direito divino. A partir daí, ao que parece, nascemos nós. Afonso Henriques passa a ser D. Afonso Henriques, rei de um país chamado Portugal, e consequentemente inventando os Portugueses. Razão mais que suficiente, se é que outras não existissem, para deixar de se acreditar em definitivo nos delírios de Alexandra Solnado e quiçá outros portugueses que sonham que falam com Jesus – parece que ele já disse o que tinha a dizer ao primeiro rei de Portugal, meus amigos, portanto vejam lá de quem são as vozes que vos gritam (ou sussurram) aos ouvidos.
A História talvez se repita um pouco na Revolução de 1383 (acontecimento que eu, devo desde já esclarecer, acho muito bonito), em que, em nome de uma burguesia a quem Castela não convinha, João das Regras e Álvaro Pais se desunham a encontrar argumentos, desta feita jurídicos, que consigam justificar a ascensão ao trono do pobre Mestre de Aviz, um novato naquelas cavalgadas, em detrimento daquele que, pecado dos pecados, e na ausência de varão herdeiro de sangue, tinha legítimas pretensões ao trono – o terrível Rei de Espanha! Depois, como sabemos, vieram os Descobrimentos, vieram 500 anos de auto-glorificação por causa dos Descobrimentos que ainda perduram, veio o Quinto Império, veio Camões e respectiva mitificação, veio a Amália e respectiva mitificação, o Eusébio, o Benfica, as sardinhas, o bacalhau e respectiva mitificação, veio o tal “irrealismo prodigioso” e veio este sentimento estranhíssimo de que há algo neste país que é o melhor do mundo e que ao mesmo tempo é um equívoco. Somos, enfim, um poço de contradições. Ou proclamamos em altos berros o nosso heroísmo ou nos queixamos o mais azedamente possível que este país nunca há-de andar para a frente porque não presta para nada e que nascer em Portugal é a pior sina do mundo.
Não tenho solução nenhuma para este problema porque, quanto a mim, este traumatismo, esta necessidade de justificação enquanto país, é um problema gravíssimo. Mas o que me parece é que a memória colectiva é essencial à identidade de qualquer país. E nós, portugueses, temos uma memória paupérrima, de uma imperdoável pobreza. Enquanto povo, somos de facto muito esquecidos. Não basta evocarmos umas quantas caravelas de vez em quando para nos convencermos de que somos portugueses “de gema”, nem afadistarmo-nos ao Povo Que Lavas no Rio depois do bacalhau do almoço com a família a aplaudir para sentir que é isso a “alma portuguesa”. Isso não é memória nem é suficiente para se falar de uma memória ou identidade nacional. Por isso é que eu não sei bem qual a voz que devemos ouvir entre as brumas da memória, e onde é que estão e quem são os tais egrégios avós. Aqueles de quem nos esquecemos? Camões, que não se lê na escola porque é “muito difícil”? Os que resistiram de uma forma ou de outra à ditadura e de que agora se fala a contragosto e quase com vergonha de que nos tomem por “comunas”? D. Afonso Henrique, sem dúvida o nosso derradeiro pai, mas que decidiu que ia ser senhor e não vassalo de um pequenote território literalmente sem rei nem roque, não se sabe bem porquê, mas parece que foi um tal Jesus Cristo que o incitou? Afinal, somos Portugal porquê? Era isto que me interessava perceber.
Não me vou afadigar em textos panfletários, de que não gosto e para os quais, de resto, também não tenho jeito nenhum, mas vou antes deixar que um belíssimo poema de um imenso poeta português “de gema” fale por si. É de Jorge de Sena e descobri-o devido a uma conversa com o Rui, que tem um magnífico blog que vale a pena visitar:
Camões dirige-se aos seus contemporâneos
Podereis roubar-me tudo:
e também as metáforas, os temas, os motivos,
os símbolos, e a primazia
nas dores sofridas de uma língua nova,
no entendimento de outros, na coragem
de combater, julgar, de penetrar
em recessos de amor para que sois castrados.
E podereis depois não me citar,
suprimir-me, ignorar-me, aclamar até
outros ladrões mais felizes.
Não importa nada: que o castigo
será terrível. Não só quando
vossos netos não souberem já quem sois
terão de me saber melhor ainda
do que fingis que não sabeis,
como tudo, tudo o que laboriosamente pilhais,
reverterá para o meu nome. E mesmo será meu,
tido por meu, contado como meu,
até mesmo aquele pouco e miserável
que, só por vós, sem roubo, haveríeis feito.
Nada tereis, mas nada: nem os ossos,
Que um vosso esqueleto há-de ser buscado,
Para passar por meu. E para os outros ladrões,
Iguais a vós, de joelhos, porem flores no túmulo.
Duas pequenas notas antes de me ir embora: leio este poema e acho que vale muito a pena ser portuguesa, para poder ler coisas como esta. A segunda é, acho bem que se leiam Os Lusíadas de uma ponta à outra, senão já sabemos o que nos espera, porque Jorge de Sena já nos avisou.
domingo, 7 de dezembro de 2008
(outra) Gaja que faz o meu estilo: Piaf
sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
A tradução é uma bitch
E, em inglês, canta, de forma muito mais blasé, Jarvis Cocker:
like the poet said, the wind is blowing. Yes, I loved you once, but hey.
Ao menos, Serge ainda tem a decência de quase responsabilizar o vento, de reconhecer o esforço da namorada, ainda que a sua decisão não mude. Mas, ao passo que Serge diz "olha, vou-me embora, mas quero que saibas que tenho pena e que admito que me fizeste bem", Jarvis limita-se a dizer "olha, vou-me embora, azar". De facto, a única justificação que ele tem a oferecer é: hey. Shit happens, mais valia ter dito logo. Que pobreza:
Este problema da tradução desta canção revela também atitudes quiçá mais profundas em relação às rupturas amorosas. Serge parece ser adepto de alguma suavidade para amenizar a situação, ao passo que Jarvis parece ser defensor da verdade nua e crua, a despachar, que ela agora fica triste mas há-de passar. E mesmo que não passe, ele não quer saber e não tenta fingir que quer (talvez até se possa chamar a isto honestidade), enquanto o Serge é mais sensível.
Eu gosto mais do Serge.
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
O desânimo faz-nos prestar atenção à boa música
Coração partido
Looking like a born again
Medieval on your ass
Os bons filmes de terror são bons porque têm imagens bonitas. A imagem da pobre Sissi Spacek a pingar sangue e a mostrar aquelas narinas esqueléticas é interessante. Os rios sangrentos que inundam o hotel no Shinning são magníficos (aliás, o Shining está repleto de imagens bonitas). Não há nada que seja bonito no Exorcista, por exemplo, mas a linguagem violenta da menina (que é chocante por se tratar de uma menina tão jovem) cria um efeito interessante por serem apenas palavras e serem tão terríveis. E há ainda um outro filme, daqueles americanos antigos, que vi apenas uma vez mas que nunca esqueci, A Sombra do Caçador, em que Robert Mitchum faz de assassino frio e degolador, e que é uma verdadeira beleza, como talvez se possa perceber pela fotografia que aqui deixo.