As terças feiras são o dia mais horrível da minha semana. Talvez apenas superado pelas segundas. Mas, como esta segunda foi feriado, o pódio foi ocupado pela terça-feira.
Não gosto das terças-feiras porque passo o dia a trabalhar, almoço a correr, volto a trabalhar, chego a casa, pouso a tralha no sofá e tenho o resto da noite para me sentir uma mercenária.
É fácil ser-se nova e desdenhar da "vida burguesa", da mentalidade do "ao trabalho", do dinheirinho ao fim do mês, da pança gorda, do supermercado em excesso, do carro com o colete berrante pendurado no banco, dos fatos de treino, das crianças pequenas aos berros, dos centros comerciais, das pipocas, do "vistes", do "quaisqueres", dos pontos de exclamação, do amarelo, da geleira e do vinho tinto na praia, da fila para estacionar no centro comercial, do Seat Ibiza, de envelhecer e engordar, de estar numa fila e começar a falar para o lado na esperança de que alguém nos dê alguma converseta, da unha do mindinho comprida no ouvido, do frango assado, do Marco Paulo. É fácil.
Torna-se mais difícil à medida que nos vamos tornando mais velhos. A luta torna-se ainda mais premente e mais árdua: o gordo burguês, no seu luzidio Seat Ibiza, quer à força dar-nos boleia no seu carro com ar condicionado, onde na rádio se pode ouvir o Enrique Iglésias ou a Dulce Pontes. O porta bagagens está recheado de víveres úteis como o imprescindível frango, papa Cerelac, cerveja, papel higiénico, aromatizadores de ar ou lá como se chamam, WC Pato, Sonasol.
O gordo quer que nós entremos no carro com ele. Nós temos de dizer que não porque o Seat Ibiza nos arrepia de pavor.
Eu digo sempre que não a esta boleia. Mas, às terças-feiras, parece mesmo que a estou a aceitar.
1 comentário:
Bem, as aparências desiludem, desde que não te comprometas, julgo que estás no teu inteiro direito de não entrar no seat ibiza...
Enviar um comentário