No colégio em que andava em pequena, se alguém queria brincar a qualquer coisa e não tinha com quem, começava a percorrer o recreio, lentamente, a cantarolar "quem quer brincar aos carrinhos, quem quer brincar aos carrinhos" (ou às bonecas, ou à apanhada). Quem quisesse, juntava-se ao menino ou à menina num abraço, e percorriam os dois o grande pátio, a cantarolar, até se juntarem crianças em número suficiente para se iniciar a brincadeira.
Estava hoje a pensar que eu queria mesmo, mesmo, mesmo que as coisas ainda se passassem assim. Se precisássemos que alguém nos ajudasse, bastava ir para a rua, cantarolar e pronto. Seria um mundo bonito.
Ultimamente, só me dá para estes pensamentos lamechas. Não há nada que eu deteste mais do que lamechiche. Mas sou tão lamecha.Deve ser o raio do Natal, aí à porta. No entanto, o Natal não deveria ser desculpa para a minha lamechiche, pois não tenho grande paciência para esta época. Este ano, a publicidade parece ainda mais desavergonhada. Desde os anjinhos da Samsung no Cristo Rei (!) até às bolas de Natal TMN no Terreiro do Paço, tornou-se absolutamente impossível sair à rua sem estas ofensas à integridade física das nossas carteiras e da nossa razoabilidade. Parece que vivemos todos num enorme centro comercial, como "A Caverna" do Saramago.
Amanhã, vou começar a percorrer o pátio, lentamente, em círculos, a entoar "quem é que não tem paciência para o Natal, quem é que não tem paciência para o Natal, quem é que não tem paciência para o Natal..."
3 comentários:
"Eu não tenho paciência para o Natal, eu não tenho paciência para o Natal..." - dê cá um abraço, ó você!, e já agora, desculpe lá, mas aproveito para escrever que gosto muito de si!
Querida Sibilazul, vamos brincar as duas no pátio! Olhe, eu queria também dizer a você que quando a vir, a primeira coisa que vou fazer é dar um grande abraço a você! E também gosto muito de você. (viva!)
E, Sibilazul, também me esqueci de dizer a você que nesta época, o melhor que temos a fazer é ouvir Frutuoso França, porque: para a lágrima e para a moral, não há como o Frutuoso França!
Apesar de todos os pontos de exclamação, sei que me percebe, e bem!
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