Não vi muitos filmes de Manuel de Oliveira. Dos que vi, gostei de alguns, não gostei de outros. Mas gostei de todos os que vi em pequena, que foram apenas dois - Aniki Bobó e Amor de Perdição. Este último, lembro-me de adorar.
Há certas coisas que devemos ver quando somos pequenos. O impacto é tão forte que é irrepetível, impossível de alcançar ao crescermos, portanto deve aproveitar-se a infância, quando a nossa sensibilidade está no auge, para vermos e lermos algumas coisas, acho eu.
Nunca me esqueci da imagem da Teresinha no cárcere, de longo olhar demorado e triste, a resignar-se à separação cruel do seu Simão. Em retrospectiva, penso que o que me impressionou na altura foi a resignação, o aceitar daquela tragédia toda, mais do que a tristeza da história de amor infeliz entre Teresa e Simão. E a imagem da Teresa sentada, quase moribunda (pelo menos, assim me parecia), um fantasma, morta em vida, nunca me saiu da cabeça.
Quanto a Aniki Bobó, lembro-me de ter achado acima de tudo divertido, mas este filme consegui rever. Continuo a achar-lhe graça especialmente pela forma, que me parece quase pomposa, como os meninos falam ("também tu, Teresinha! Também tu me condenas!").
Gosto de Manuel de Oliveira porque, ao pensar nele, penso em infância.
Curiosamente, hoje ouvi uma pessoa a falar na rádio sobre o aniversário de Manuel de Oliveira, dizendo que a primeira vez que viu um filme do realizador foi, precisamente, na escola, quando era muito pequena, e que tinha gostado muito. O que dá que pensar. Eu nunca vi nenhum filme de Oliveira na escola, mas o facto de me ter impressionado tanto em pequena e, pelos vistos, outras pessoas também, fez-me efectivamente lembrar de que a infância é um tempo deve ser bem aproveitado para começar a ler, a olhar, e a ver. A ver bem.
E, a propósito, não posso deixar de postar aqui o grande Herman na sua homenagem a Manuel de Oliveira. Lindo:
1 comentário:
Os verdes muito verdes, os vermelhos muito vermelhos, aquilo parece que sai... eheheh
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