quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Tu quoque, Nicola


Tenho uma desilusão profunda, ou pelo menos considerável, que se chama Nicholas Cage. Normalmente, nunca me lembro desta desilusão, mas há dias como o de ontem, em que estava a dar a "Cidade dos Anjos" no Hollywood, em que a minha amargura provocada pelo Nicholas se adensa. Vê-lo a representar num filme que merecia ganhar o prémio pela pior e mais horrível e pirosa adaptação de sempre de um grande filme já é doloroso; vê-lo a sorrir com ar de parvo absoluto, a fazer de anjo, é insuportável.

De modo que a minha pergunta é: porquê? Também tu, Nicholas, também tu te vendeste. Eu, que te adorei a fazer de Sailor nesse filme assombroso que é Wild At Heart, quase que me apaixonei por ti, eu que adorei o teu discurso quando ganhaste o Óscar (qualquer coisa como "sei que não está na moda dizê-lo, mas espero que se continue a apoiar o cinema independente"), tu que tinhas (e tens) essa maneira lenta de falar, vagarosa, esse olhar meio tolo e inocente, essa rosto feioso de bom rebelde, aquele casaco de pele de cobra quando levavas a Laura Dern a dançar, esses maneirismos à Elvis tão engraçados, para onde é que isso foi tudo?! Que tenhas feito o Face Off, digo-te já que não só percebo, mas até concordo. Se bem que achei mal teres deixado que o John Travolta tenha representado bem melhor do que tu, mas pronto, o filme vê-se bem, é giro, estavas a experimentar coisas novas. O Con Air já custou mais a aceitar, mas pronto, afinal também estavam lá bons actors, o Malkovich, o Cusack (sweeeeeet), o Buscemi, e o filme é um filme de acção que também se vê bem. Agora - a Cidade dos Anjos?! Aquela porcaria do Tesouro?! Mas o que é que te deu? E depois tentas compensar com coisas mais ou menos independentes mas que também não são boas, que confundem ser seca com "ser indie", tipo Weather Man. Embora admita que, naquele filme em que vendes armas, não me lembro agora o nome, estavas bem. Mas começa a ser excepção.

Se tu soubesses as saudades, as saudades que eu tenho de ti como Sailor, as saudades de te ver a fumar, a acender o cigarro (o Wild at Heart fez-me desesperadamente querer fumar para ter um ar todo cool, mas não fumo e não tenho um ar cool porque sou doentinha, sou tísica, e os cigarros
dão com certeza cabo de mim), as saudades desse ar de quem se está a marimbar mas tem bom coração, as saudades de te ver como nesta fotografia, olha para ti na fotografia, estás o máximo, mas agora já não és o máximo, agora és parvo como os outros.
Nunca devias ter saído do Wild at Heart. Devias lá ter ficado para sempre. Já que não posso dizer "Sailor and Rita forever", que seja "Sailor and Lula forever". Ouviste?

>

2 comentários:

Xantipa disse...

Minha querida sobrinha,

Tenho evitado escrever comentários, pois todos parecerão tendenciosos por nepotismo. Mas não! Tu és boa mesmo! Rio-me tanto com os teus escritos! Sou uma fã incondicional!
Bendita tese, que te faz escrever assim!
Muitos beijinhos da tia N.

Unknown disse...

Sobre o "Wild at Heart" - http://ohomemquesabiademasiado.blogspot.com/2008/10/um-corao-bem-selvagem.html

Saudações cinéfilas