quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Anita vai à Fnac


Numa bela tarde de Inverno, Anita e sua amiga Alexandra decidiram ir à Fnac do Chiado. A Fnac tem muitos livros, e muita literatura, e portanto Anita e Alexandra quiseram ir a esta livraria para comprar livros edificantes que as tornassem boas cidadãs, porque: os livros são os nossos melhores amigos.

Quando chegaram à Fnac, tiveram muita dificuldade em escolher o que comprar para poder ler em casa, porque a oferta era muita, e toda de grande qualidade. Optaram por começar a perscrutar os livros sob a égide "literatura traduzida".

- Alexandra, como vamos decidir o que levar para ler no meio de tantos livros bons?! - perguntou Anita, perplexa. Ao que Alexandra respondeu que o melhor era começar a ler as contracapas para terem uma ideia. O primeiro que vislumbraram chamava-se "As Asas do Amor", da editora Ulisseia, escrito por um senhor chamado Nicholas Drayson, e tinha uma crítica de um leitor, o senhor Richard Fortey, que dizia que o livro era "um livro que aquece, com um sabor doce único. Fiquei encantado". Alexandra e Anita ficaram muito impressionadas com isto, porque o senhor Richard Fortey tinha gostado tanto do livro que até se dera ao trabalho de o descrever com uma elaborada técnica literária, a da sinestesia, em que os sentidos se misturam, e portanto o livro, além de aquecer, também tinha sabor. "O senhor Fortey também deve ser um grande leitor de Cesário Verde", pensou Anita. "Hmmmm.... com leitores deste gabarito, este deve ser um bom livro de certeza". E colocou de imediato "As Asas do Amor" no cestinho das compras.

A obra que viram a seguir era da Kristina, da Celeste e da Juliana, três irmãs sem apelido e com a fotografia na contracapa para manter o anonimato, porque o livro que haviam escrito, "Unidas pela Dor", era muito chocante e íntimo. As três irmãzinhas contavam a sua história verídica e tinham sido violadas muitas vezes, possivelmente umas dez vezes ou mais, e Anita e Alexandra ficaram com muita pena. Decidiram que um livro tão sincero como aquele, que partilha com os leitores a dura realidade do mundo, deveria ser lido. Anita e Alexandra até consideraram que toda a gente devia ler aquele livro para saber mais sobre as dores do mundo, mas não viram mais ninguém a comprá-lo, o que atribuíram ao mundo cruel e egoísta em que hoje vivemos, em que ninguém quer saber de ninguém. O livro seguinte, "O Menino de Cabul", também era baseado numa história verídica, e contava com um lindo papagaio de papel na capa, mas este as duas amigas decidiram não comprar porque era menos realista, só tinha uma violação, e não muitas. Era um livro mais suave e, como leitoras, Anita e Alexandra viam-se na obrigação de ler livros mais pesados para saber mais sobre o mundo.

O livro que seguidamente colocaram no cestinho das compras parecia também excelente, era de uma senhora chamada Anita Shreve, publicado pela Asa e tratava da infelicidade da viuvez. A protagonista era casada com um piloto, mas, permanentemente aterrorizada pela ideia de o marido poder ter um acidente e morrer, divorcia-se dele e casa pela segunda vez com um médico, só que este último é que acaba por morrer, e então a protagonista fica sozinha de vez e tem de provar ao mundo como é ser mulher e recomeçar tudo do zero. Anita e Alexandra pensaram que aquele livro era uma grande lição de vida.

As duas amigas viram mais, muito mais, livros irresistíveis nessa tarde, mas decidiram só comprar estes, porque já tinham leitura que lhes chegasse e sobrasse. Gastaram algum dinheiro, mas saíram da Fnac muito edificadas, porque sabiam que os livros eram os seus melhores amigos. Amiguinhos, não se esqueçam disto.

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