Gosto de reservar algum tempo para pensar sobre coisas irrelevantes, o que normalmente acontece quando vou a conduzir ou, esta semana, e "derivado" ao facto de ter estampado o carro, enquanto vou embalada no autocarro. O pensamento irrelevante que me tem ocupado nos últimos dias é o prazer de falar sobre nada, de discutir sobre nada, de não fazer nada. Sei que não sou original nisto - a grande série Seinfeld era, precisamente, nas palavras de Jerry Seinfeld e Larry David, um programa de televisão sobre nada, sobre pessoas que não faziam nada. E Seinfeld provou exemplarmente como isso pode ser tão interessante - não precisamos sequer de começar aqui a discutir aquelas coisas mais elevadas e filosóficas tipo niilismo ou pessimismo e Nietzsche e tal e a vida e o absurdo e Sartre e mais não sei quê e depois chegar à conclusão que a vida, afinal, não é nada. Não precisamos de falar sobre isso porque não é sobre este "nada" filosófico que estou a falar. No entanto, descobri recentemente, numa revista que visa ser a Cosmopolitan uni-sexo dos intelectuais, a Intelligent Life, convenientemente publicada pela Economist, e convenientemente, também, recheada de artigos curtos mas satisfazendo amplamente as quotas de name-dropping exigidas neste tipo de publicação, dizia, descobri nesta revista que até há um livro sobre este nada filosófico e existencialista ("nothingness", o termo que a imensa e admirável flexibilidade da morfologia inglesa inventou para o designar), aquele que nos faz pensar na morte, no sentido da vida, e outras coisas que em geral são uma estupidez porque todos sabemos que os Monty Pithon já responderam a tudo isto (de qualquer modo, aqui fica o link para o artigo, embora eu, sinceramente, ache que não vale assim muito a pena ler).
Como dizia anteriormente, não é sequer este nada filosófico, mais existencialista e mais nobre, que me tem ocupado; não é. É aquele nada mais comezinho e irrelevante, aquele nada de todos os dias, indiferente, feito de coisas e questiúnculas que nunca nos vão servir para nada (ora aqui está), como por exemplo, será que na vida real poderá mesmo existir um Batman?, e interrogo-me sobre isto porque sei que há um senhor, o E. Paul Zehr, que escreveu um livro sobre isto e tudo. Eu acho que até gostaria de ler este livro, porque o Dr Zehr parte da premissa que, se o Batman é o único super-herói verdadeiramente humano (que é a razão que me leva a gostar mais do Batman do que do Super-Homem, por exemplo, além de que o Super-Homem, enfim, é um bocado chato, um bocado drama queen), dizia, se o Batman é apenas humano, então talvez possa verdadeiramente existir na vida real um homem equivalente ao Batman, com muito treino, prática e alguma tecnologia, o que levanta questões de ordem ética, ontológica, política, até - What are the odds that an ordinary billionaire like Bruce Wayne could acquire the physique and hand-to-hand fighting skills to defeat supervillains? Zehr, a Canadian neuroscientist and martial arts black belt, looks at the science of the body's capability to respond and adapt to... extremes (tirei da Amazon). Deve ser giro, este livro, mas não deixa de ser sobre nada.
No fundo, nas nossas vidas confortáveis, herdeiras de anos de capitalismo por todos abençoado e consumo desambaraçado e sedutor, é fácil ocupar a mente com este "nada" oriundo de uma cultura meio urbana, meio pop, meio televisiva, em que é giro discutir quem é que fala de forma mais engraçada, se o Pato Donald, se o Daffy Duck, porque é que os bonecos da Disney são tão assexuados e nem precisam de usar cuecas e são todos tios e sobrinhos e nunca mães e pais e filhos, qual é que a banda mais fixe do momento (não sei qual é, tenho andado desactualizada, mas os Vampire Weekend sei eu que não são, safa), quem é que ganha numa luta entre o Homem Aranha e outro qualquer anódino Marvel, se vale ou não a pena deixar de ler Paul Auster porque agora já não parece bem, se se escolhe Zon ou Meo. É este nada que me tem vindo a ocupar. Agora que escrevi sobre isto, percebo que é, efectivamente, um imenso nada.
E, por acaso, acho que o Pato Donald fala de forma mais engraçada que o Daffy, embora goste mais dos desenhos animados com o Daffy. Os bonecos da Disney são assexuados por causa das crianças. Banda fixe não conheço. Não gosto da Marvel, mas sempre achei que o Homem Aranha, nem que fosse devido àqueles olhos em bico assustadores, ganharia sempre tudo; se me apetecer ler Paul Auster, leio; nem Zon nem Meo.
E já não tenho mais nada a dizer, excepto que uma coisa que me levou a começar este blog foi, precisamente, a necessidade de poder falar sobre nada. Este é um blog sobre nada, e quando o comecei, há mais ou menos seis meses, pareceu-me um bom tópico para um blog. Mas talvez devesse ser um blog sobre qualquer coisa. Não consigo decidir o quê. Vai continuar a ser um blog sobre nada, portanto.
2 comentários:
Só para dizer: A-D-O-R-O o Seinfeld!! Nunca me recuperei do final da série ;-)
Eu sou fã incondicional, também. A complexidade narrativa, a escrita, os actores, adoro tudo. Vejo os DVDs que tenho vezes sem conta. Kramer, Newman, George, que portento, que saudades.
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