quinta-feira, 26 de março de 2009

E eu penso para mim, que maravilhoso mundo

Realmente, a globalização é uma coisa fascinante. As empresas inglesas, públicas e privadas, gostam de ter os seus call centres não no Reino Unido, como seria de esperar, mas, surpresa das surpresas, na Índia, país em que a indústria prospera e medra saudável e elegantemente, e onde um mar de gente com cursos universitários espera ansiosamente telefonemas de cidadãos britânicos que, maravilhados com esta eficiente ideia, passaram literalmente horas ao telefone à espera que lhes atendessem a chamada. Quanto aos indianos que trabalham nos tais call centres, são qualificados, falam, ao que parece, um excelente inglês, polido com aulas e treino para se assemelhar o mais possível ao britânico, deixando o sotaquezito indiano de lado, além de estarem familiarizados com a cultura inglesa, do estilo falar sobre o tempo, telenovelas e isso. Impressionante, a formação desta gente. Já há esquemas que levam trabalhadores britânicos a "estagiar" em call centres indianos, e trabalhadores indianos a fazer formação em Inglaterra para trabalhar em call centres. Segundo um artigo do Guardian, estes cursos são cobiçados porque "ambitious graduates with excellent English aspiring for managerial jobs can upgrade skills and get international experience." Ao que parece, pois, trabalhar num call centre na Índia é um emprego desejável, sendo a procura e a oferta de tal modo que a Índia já recruta no Vietname, por exemplo, para conseguir responder à procura das empresas britânicas que precisam de gente a atender telefones. Já houve quem tivesse a ideia de investir em comunidades indianas mais pobres, dando-lhes mais meios e instrução, e como consequência alojamento mais digno e condições sanitárias, para que a população das mesmas comunidades possa arranjar emprego em call centres, evitando assim ter de se recorrer a estrangeirada para atender mais telefones, conforme explica este outro artigo. Como diz o Guardian, talvez estes casos ilustrem como a procura desenfreada do lucro pode, por vezes, contribuir para diminuir os contraste entre ricos e pobres num país que apresenta esses mesmos contrastes de forma chocante.
Tudo isto para dizer que, não negando que a globalização possa fazer jeito de quando em vez, acima de tudo, e em casos como este, faz-me impressão e causa-me irritação (rima).
Que tristeza.

2 comentários:

ecila disse...

No geral, a globalizacao (o que implica e o que significa na realidade) causa-me irritacao e provoca-me sentimentos de impotência e frustacao, daqueles que dao dores cabeca que só passam quando me obrigo durante um tempo a nao ler, a nao ver documentários e a nao pensar no assunto...

Anónimo disse...

Muito interessante, este post. Por acaso, vi o A passage to India no fim-de-semana passado, e o livro chegou hoje do bookdepository. O livro já foi escrito há quase 100 anos atrás, pelo que não será demasiado actual, mas quando leio este post, lembro-me disso.