terça-feira, 10 de março de 2009

Moda antiga


Há coisas que eu aprecio nesta vida. Uma delas prende-se com as boas maneiras. Acho delicioso, as boas maneiras. Ser agradável, simpático, deixar a senhora passar à frente (sim, eu sei muito bem que consigo abrir a porta com as minhas próprias mãos, mas não deixo de achar simpático e bem-educado quando os homens fazem isso. Aliás, acho bastante feio e mal-educado quando eles não o fazem e não quero saber), ou, no caso das senhoras, dizer obrigado se o homem deixa passar à frente (fica sempre bem reconhecer a boa-educação alheia), etc e tal. Sou uma pessoa conversadora, neste aspecto. E talvez seja conservadora em geral, embora goste de pensar que não sou. Aliás, alguém que me cole um papel nas costas a dizer "se eu for conservadora, batam-me na cabeça. Obrigada" (copiei isto de uma partida que uma amiga minha fez a outra rapariga, há muitos e muitos anos atrás, na escola - colou-lhe um papel nas costas que dizia "se eu for feia, batam-me na cabeça. Obrigada". Ainda hoje me rio imenso com isto, porque não teve consequências nocivas - a rapariga não era feia, ninguém lhe bateu na cabeça. Mas enfim, reconheço que é uma brincadeira de mau gosto).

Voltando à questão da boa-educação, uma das razões pelas quais aprecio White Stripes é que o Jack White, que escreve as músicas, parece ser um rapazinho com boas maneiras, com uma simplicidade honesta e que por isso acarreta muita delicadeza. Reparei nisto após ouvir atentamente o álbum Elephant, que sinceramente é o único que eu tenho da banda, e portanto o único que ouvi verdadeiramente com muita atenção. Por exemplo, em "Hypnotize", talvez a minha preferida (é fabulosa, esta cançãozinha), canta o Jack: I want to hypnotize you baby on the telephone, I want to hold your little hand, if I can be so bold - além de pedir permissão, descreve o seu desejo de dar a mão à menina como um "atrevimento". Há outros exemplos reveladores. Em "I want to be the boy to warm your mother's heart" (só o título já revela como Jack respeita a instituição familiar), pode ouvir-se: I'm inclined to go finish high school just to make her notice that I'm around. Faz o sacrifício de voltar à escola só para impressionar a mãe da namorada (nem sequer é a namorada em si que ele quer impressionar). Numa outra canção do disco, "There's no home for you here", o Jack quer dizer à rapariga que está farto dela, que não a pode nem ver, e que o melhor é ela pôr-se a milhas que ele até se enjoa de olhar para a cara dela. Como é que ele escolhe dizer isto? Assim a sangue-frio, sem freio? Não. O Jack conhece os limites que a boa educação impõe à comunicação humana, e opta por I'm only waiting for the proper time to tell you that it's impossible to get along with you. It's hard to look you in the face when we are talking, so it helps to have a mirror in the room. Isto é delicadíssimo, porque é uma forma muito indirecta e muito pouco agressiva de mandar o outro (a namorada, neste caso) passear.

Aprecio este cavalheirismo.

E, já agora, aproveito para dizer que os Beatles eram igualmente muitíssimo cavalheiros: "please, please me", "so pleeeeee-eee-eeeaaa-se, love me do", que banda tão bem-educada.

E afinal o Jack White foi casado com a Meg White, ou é apenas irmão dela? Não que isto interesse, mas a minha tendência para a coscuvilhice gostaria de saber.







Hypnotize - The White Strips

2 comentários:

ecila disse...

A mim disseram-me que eram irmaos quando os vi ao vivo em concerto e achei que faziam um casal fantástico. Tudo bem, podem ser irmaos, mas o wiki também diz que foram casados. Há pessoal que embora nao saiba fala com muita certeza...tanta que ainda me deixa com duvidas. Calculo que o wiki (e o meu primeiro instinto) deve ter razao...

Rita F. disse...

Ecila, obrigada pela informação. Eu nunca os vi ao vivo (chuif, chuig), mas também acho que fazem um casal todo giro.