segunda-feira, 16 de março de 2009

Patinhas no chão, formiga ao trabalho

As pessoas que habitam o meu mundo estão convencidas de que eu não trabalho. No fundo, têm inveja. Têm inveja de eu ter tempo para ir tomar café e ver DVDs e ir ao cinema e ir jantar fora quando posso. Têm inveja. E depois dizem-me, para se vingarem, "mas tu pensas que eu tenho a tua vida?", "mas tu deves achar que eu tenho o teu tempo", e coisas assim.
Isto é profundamente injusto, porque eu sou uma pessoa que está sempre a trabalhar. Eu trabalho imenso e só penso em trabalhar. O meu sonho é ser a formiga que guardas as migalhas e depois ralha com a cigarra, que, por acaso, até canta um bocado mal. Eu quero ser esta formiga. Todos os meus dias são ocupados por este imenso desiderato, ser a formiga. Portanto, acho injusto que as pessoas se vinguem em mim quando eu sou a primeira a reconhecer que a vida delas é que está bem: trabalhar, ter responsabilidades, assumir compromissos, trabalhar, ter responsabilidades, assumir compromissos, trabalhar, ter responsabilidades, assumir compromissos, trabalhar, ter responsabilidades, assumir compromissos...Estas sãos as linhas-mestras da minha vida, o que prova que eu sou tão boa como as pessoas que deploram e desprezam o meu tempo livre, ou por outra, o tempo que elas acham que eu tenho livre, que na verdade não tenho.
Eu sou uma pessoa ocupadíssima e quero viver sempre assim, ocupadíssima, sobrecarregada de responsabilidades e, acima de tudo, sem nunca cometer esse pecado capital que é ter tempo livre. A formiga não tem tempo livre, e eu quero ser como a formiga, e não como a cigarra, como já disse.


Adriana Calcanhotto - Formiga Bossa Nova - Adriana Calcanhotto (não consegui encontrar a versão da Amália, mas a Adriana também canta bem)

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