quinta-feira, 5 de março de 2009

A oeste nada de novo

Às vezes fico fula com certas coisas. Há certos serviços e instituições, como bibliotecas, por exemplo, que deviam facilitar a vida aos leitores que precisam de as utilizar, e não dificultar. Por exemplo, preciso de certos livros que estão na biblioteca da minha antiga faculdade, onde estive 4 anos. Posso frequentar a biblioteca, mas não posso ter cartão de leitor nem levar nenhum livro para casa, independentemente de estar comprovadamente a fazer investigação, de me fazer muitíssimo jeito ter o cartão, e de, mais uma vez comprovadamente, ter sido aluna daquela instituição, de lá ter pagado propinas, volto a dizer, por quatro-anos-quatro.
Na universidade onde tirei o mestrado, continuo a poder utilizar a biblioteca perfeitamente à vontade, tirar fotocópias à vontade, levar livros para casa perfeitamente à vontade, por um período de dois meses. Tenho cartão de leitor vitalício, renovável de dez em dez anos, acesso a todo o acervo da biblioteca, que é precioso e que dá um grande jeito, e não pago um centavo. Resta dizer que, nesta universidade, estive muito menos de quatro anos. Já para não falar no facto de que, nesta universidade, se preciso de papelada, certificados, comprovativos e quejandos, mando um email e tenho tudo em casa, enviado por correio, numa semana, mais uma vez sem pagar um centavo. Já na minha antiga faculdade, onde passei quatro (quatro) anos, demoram meses, meses, a produzir um qualquer certificado, tem sempre de se pagar, e quem estiver com pressa paga um pequeno balúrdio para poder levantar o papel não no mesmo dia, mas no espaço de 48 horas.
Haja pachorra. Por mais apego e respeito que tenha à minha antiga faculdade, isto é uma completa falta de respeito e é uma vergonha. Deviam perceber que há pessoas que de facto precisam, por motivos profissionais e não por mero capricho, que os serviços funcionem com um mínimo de razoabilidade e eficiência. Tanta coisa com a Europa, a Europa - ponham, então, os olhos na Europa, vejam como funcionam as outras universidades e depois venham falar de Bolonha, de aumentar a competitividade dos nossos licenciados e da nossa investigação. Tudo fogo de vista, não passa disso, porque, e digo isto com sincera pena e grande irritação, tenho a plena consciência e a plena certeza de que não estaria hoje a fazer, ou a tentar fazer, qualquer tipo de investigação se não tivesse a sorte de poder contar com a instituição em que tirei o mestrado e que, mais uma vez com grande pena minha, não é em Portugal.
Para culminar, tento ir ao catálogo on-line da dita biblioteca da minha antiga faculdade e nem vê-lo, parece ter-se volatilizado no éter do ciberespaço. Só dá vontade de largar uma asneira. E não me venham dizer que as coisas estão a melhorar, porque não estão. Pelo menos, na área em que me movo, não estão. Há mais operações de cosmética, que são caras e embelezam, mas que não passam disso.
E mais uma vez escrevi um post cheio de bílis. Aqui fica a intenção de me retractar.

2 comentários:

ecila disse...

Rita tens toda a razao... tambem nao vejo melhoras. Sou eu que forneco artigos recentes a colegas minhas em Portugal porque elas coitadas ainda andam a fazer as teses baseadas em livros dos anos 70. O que na minha área é assustadoramente atrasado :-( E as bibliotecas de faculdade online que funcionem, nao conheco. Tudo muito bonitinho, mas prático que é o que se quer, nao há... o problema de viver em torno das aparências :-P

Rita F. disse...

Ecila, obrigada pelo comentário, pois foca um problema muitíssimo recorrente neste país, e que é a pessoa ter, frequentemente, de se sujeitar à boa-vontade dos outros (amigos, conhecidos) para conseguir os meios de que precisa. Ou são amigos que enviam artigos, ou é alguém que se conhece e que fala com o professor Y para se arranjar a tese X, é tudo assim. Nos meios "oficiais" não se pode confiar. Já para não falar no escasso financiamento a nível das actividades que qualquer investigador tem de fazer - ir a conferências, preparar papers, ir a bibliotecas lá fora para ter material para o paper, fazer estudo de campo se for preciso, etc. A FCT financia centros de investigação, mas mesmo assim continua a ser muitíssimo complicado fazer tarefas básicas e que lá fora são dados adquiridos. Irrita porque não deveria ser assim tão complicado. Temos os meios, não temos é a mentalidade.
Enfim. Vou-me calar para não me irritar mais. :)