segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Porque é que eu ainda sou parva e vejo os Oscars?


Eu sei que os Oscars não interessam, e que olvidam sempre os filmes verdadeiramente bons, e isto e aquilo, mas eu, normalmente, costumo seguir a cerimónia dos Oscars e prestar atenção aos prémios. E costumo zangar-me quando os actores e os filmes que eu acho que merecem ganhar não ganham. De modo que me indignei muito quando Intervenção Divina, de Elia Suleiman, não apareceu na corrida a Melhor Filme Estrangeiro em 2003 porque "a Palestina não é uma nação"; achei uma injustiça sem nome que um filme anódino, de porcaria, como Crash, ganhasse ao lindo Brokeback Mountain; e este ano indignei-me com uma série de coisas, a começar logo pela carinha laroca da Penélope Cruz a ganhar o Oscar. Acho que esta actriz não esteve nada mal no Vicky Christina, mas meu Deus, este filme é indiferente, a interpretação da Penélope não é nada de especial, uma vez que o filme em si também não é - Oscar, a que propósito?

Falou-se muito do espantoso regresso desse valdevinos de cara à banda e estilhaçada que é Mickey Rourke, e bem, quanto a mim. Quero muito ir ver o Wrestler, e quem já viu diz-me que é um bom filme e que Rourke está muito bem. Falou-se pouco, ou não o suficiente, dessa underdog esquecida, provavelmente por culpa da mesma, que é Marisa Tomei, que nunca conseguiu fazer uma carreira de jeito, talvez por opções parvas em filmes sofríveis e papéis embaraçosos, mas que tem talento, e que, não tendo a cara à banda nem destruída pelo boxe, também conseguiu o seu comeback com o Wrestler. Eu, pelo menos, acho que sim. O Oscar que ganhou em O Meu Primo Vinnie foi merecido, quanto a mim; a sua interpretação em In the Bedroom foi óptima e sensível, e ainda não vi o Wrestler, mas não tenho dúvidas em acreditar que estará muito bem neste filme. Porque não valorizar este comeback de uma actriz que se anda a esforçar, pelos vistos, em vez de premiar a Penélope, que raramente faz coisas de jeito a não ser quando entra nos filmes do Almodovar? Não percebo.

Outra coisa que não me entra na cabeça é dar um Oscar a alguém que já morreu e que já não precisa deste tipo de reconhecimento para nada. Que lhe fizessem uma homenagem, pronto. Eu vi o Dark Knight e gostei muito de Heath Ledger. Mas também vi Tropic Thunder, que me fez quase chorar a rir, e adorei o Robert Downey Jr. Este sim, está vivo e se calhar um Oscarzito até lhe fazia jeito, para se esquecer dos tempos passados na prisão e tal (apesar de já ter saído da prisão há algum tempo). Fiquei um tanto ou quanto irada ao ver Downey Jr perder para Heath Ledger que, sim senhora, faz um grande Joker mas pronto, nada de épico, e além disso já morreu - vocábulo operativo, este "morreu"; Heath Ledger já não precisa do Oscar, há que reiterar. Que mania que os Oscars têm de desvalorizar a comédia, pá, e que mania que têm de se derreterem todos quando acontece alguma tragédia. Realmente, é uma infelicidade que um actor tão novo e tão talentoso como Heath Ledger tenha morrido, mas enfim, paciência, se há outro tipo melhor do que ele e que merece mais ganhar o Oscar, qual é o problema? Os Oscars têm de ser imunes a funerais. Se calhasse ter morrido o Downey Jr, tinham-lhe dado o Oscar a ele, independentemente da interpretação.

Quanto ao resto, nada a dizer, não quero saber. Gostei de Benjamin Button e gostei muito de Brad Pitt a fazer de Benjamin Button, mas pronto, o Sean Penn é muito bom actor, também. Não vi Slumdog Millionaire, não duvido que seja um bom filme, duvido apenas que seja assim tão bom que mereça um Oscar, mas também, nos dias de hoje, um Oscar já não quer dizer assim tanto. Hollywood, como o resto do mundo em geral, afunda-se na crise (ainda há poucos dias lia este artigo na Vanity Fair sobre isso - será que a crise significa o fim dos filmes indie, levando os estúdios a apostar apenas, de futuro, em produções mais comerciais sobre super heróis e blockbusters em geral, apostas de bilheteira seguras?). A modesta cerimónia de ontem, mais "toned down", por comparação com a grandiosidade exagerada dos anos anteriores, mostra isso, talvez. A crise tanto pode dar para fazer filmes com menos meios, mas muito melhores, como para que as pequenas produtoras fechem as portas, os grandes estúdios encerram as sucursais às quais dão dinheiro para produzir filmes mais interessantes, o que já está a acontecer, e para que os cinemas, consequentemente, só passem Batman e Iron Man e sei lá que mais. Eu gosto do Batman, mas tudo o que é demais é moléstia.

É o que eu tenho a dizer sobre os Oscars. Para quem diz, por ser mais estética e politicamente correcto, que os Oscars não são assim tão importantes, acho que já alonguei demasiadamente sobre este assunto.

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