domingo, 8 de fevereiro de 2009

Gajo com pintarola: Jarvis Cocker

Quando estou com uma leve neura, e reconhecendo que nada há a fazer senão lidar com esta maleita, gosto de ouvir Pulp e, em particular, o subtilmente cáustico, pouco composto Jarvis Cocker. Gosto do seu ar enfezado, magro, de dandy descomposto que não quer saber, embora queira, e por isso simpatizo com ele. Gosto das letras dos Pulp, umas narrativas working class do norte de Inglaterra, aquele castanho opressivo de Sheffield, as personagens sempre perdedoras logo à partida, a vida leva a melhor e nós não, restam-nos apenas as canções para conseguirmos alguma alegria. Lembro-me, por exemplo, de um pormenor de "Disco 2000", canção do primeiro álbum dos Pulp, muito convenientemente chamado Different Class, em que se fala de uma rapariga apropriadamente chamada Deborah, que vivia numa casa muito pobre, "with wood chip on the wall". Chega para percebermos com exactidão quem é esta Deborah e que tipo de vida tem ela. É isto de que também gosto nos Pulp, a carga narrativa das canções. Muitas delas contam uma história do princípio ao fim, metem personagens que agem de certa maneira e a gente consegue perceber aquilo tudo. Eu gosto disso, das canções que cantam e contam uma história, como tantas do Leonard Cohen ou do Bob Dylan, por exemplo.

Acho que o Jarvis Cocker cultiva, ou cultivava, pelo menos, a imagem pop desleixada, do perdedor encantador que aprendeu a aceitar a supremacia do mundo sobre a sua pobre, irredutível desilusão. Há algum romantismo naquilo que ele canta, mas um romantismo muito pouco sonhador, muito duro. Ele sabe que a vida é assim.
Por isso, Jarvis faz bem à neura.




Nota final para efectuar um pedido. A canção que o Jarvis canta neste vídeo (que eu por acaso acho muitíssimo giro, tenho tendência para gostar muito, muito do East End londrino e o vídeo está cheio de referências a isso), dizia, a canção Don't Let Him Waste Your Time também é cantada pela Nancy Sinatra. Ouvi a versão da Nancy uma vez e nunca mais a consegui apanhar, nunca a vi em lado nenhum, volatilizou-se da minha vida. Se alguém por acaso souber como a encontrar (já tentei fazer download perfeitamente legal, mas a Mula também não tinha nada), e se me quiser informar, deixo desde já aqui, e mais uma vez, um grande bem-haja do coração.

3 comentários:

Bruno Taborda disse...

Também gosto muito do Jarvis. E o teu pedido já vai a caminho por correio expresso ;-)

Rita F. disse...

Obrigada, obrigada, obrigada, encomenda recebidíssima, obrigada!

Anónimo disse...

Eu conheço pouco dele, do Jarvis. Na verdade só conheço o Different Class. Lembro-me que quando saiu o álbum dele a solo, a Radar considerou-o um dos piores do ano. Realmente esta música que aqui colocaste nunca foi muito do meu agrado. Mas o que conheço dos Pulp, sim. A This is hardcore é uma delícia, por exemplo, ou a I Spy. Fico doido.

E Divine Comedy, não soa na Rua da Abadia? Fiquei curioso.