Em primeiro lugar, e formulando uma observação digna de um verdadeiro adolescente, acho mal que esta sociedade torne termos como "amizade" e "amor" em coisas foleiras. Quer dizer, "amizade" e "amor" não são coisas foleiras, a sociedade é que usa e abusa deles como se fossem.
Posto isto, o que queria dizer é que a amizada é parecida com o amor (pergunta que não tem nada a ver: porque é que há pessoas que dizem, por exemplo, "eu sou parecida AO meu pai", em vem de usar a preposição "com"? É estranho, não é?), observação que, aliás, ninguém a não ser eu teve alguma vez oportunidade de constatar, como se sabe. De qualquer modo, dizia eu, a amizade é parecida COM o amor. Adoramos as pessoas que são nossas amigas. Temos ciúmes, até ("pois, tu agora só queres estar com a tua outra amiga, já não me ligas nenhuuuuuma, já não me ligas para combinar nada, queres acabar comigo, chuif, chuif"). Queremos estar muitas, muitas vezes com as pessoas. Mas, ao contrário do amor, a amizade dura, dura, dura, dura, e dura, e resiste e não pára.
A resistência da amizade é algo que me deslumbra. Para mim, é inconcebível "acabar" com um amigo, deixar de lhe falar, deixar de gostar dele. Como é que se pode acabar com um amigo?Posso zangar-me com os meus amigos, mas nunca viver sem eles ou sem fazer as pazes, porque os admiro demasiadamente para isso, e porque a vida sem eles é mais do que triste, é pobre.
Na minha vida, a amizade é um telefonema dos Açores à meia noite e um minuto do dia 5 de Fevereiro.
É levarem-me a comer bife divinal com batatas fritas.
É um "esquece isso, esquece a porcaria do passado" num email.
É um "não te preocupes, vai correr tudo bem" vindo, às vezes, de muito longe.
É um "não te preocupes, vai correr tudo bem" vindo, às vezes, de muito longe.
É um "não te sintas mal por teres gastado dinheiro nessas botas verdes, porque são o máximo" (sim, tenho umas botas verdes cor de mosca varejeira, e sim, são o máximo).
É assegurarem-se de que tenho sempre coisas para ler.
3 comentários:
Sim ao bife, à partilha da emoção pessoal e estética, ao telefonema que não termina nunca...Sim à urgência do desabafo, às rabas,aos revueltos e às batatas bravas! Sim a nós e a dias felizes. Sim.
Sim, sim, sim. :*
:) Há dias vi essa edição do Bataille na tenda e lembrei-me de si. Claro, agora não valia a pena.
E esse Sinais de Fogo, que tenho ali há anos à espera que o leia, mas aqueles cinco ou seis centímetros de lombada a meterem-se comigo e a dizerem 'atreve-te'. Mais tarde ou mais cedo terá que ser. Talvez quando acabar o sto Agostinho, que já não posso ouvir o homem falar em categorias de anjos e demónios. :D
Mas li 'O Físico Prodigioso', um grande pequeno livro, fez-me lembrar o cavaleiro sem cabeça do Italo Calvino, outra maravilha.
Desculpe, o seu poste era sobre a amizade, o comentário vai um bocadinho ao lado.
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