O saco de água quente ainda vai demorar, a água está ao lume porque a porcaria da cafeteira eléctrica avariou-se, de modo que vim para aqui escrever enquanto espero que a água ferva.
A maior parte dos meus dias, e acho que isto acontece também com a maioria das pessoas, pelo menos as pessoas que eu conheço, são um bocado estúpidos. Há sempre tempo que se desperdiça. Há sempre lugar para algum tédio. Há sempre a sensação de não se estar a optimizar a capacidade de se ser produtivo. Há sempre a frustração de sabermos que, independentemente dos nossos esforços, não estamos a ir a grande lado. Ficamos sempre no mesmo sítio. Mesmo que nos pareça que as coisas estão a mudar, talvez até a progredir, o que acontece é que a vida tem uma capacidade assustadora de fazer com que tudo fique na mesma, de modo a reconduzir-nos sempre, inevitavelmente, ao mesmo sítio. Nunca vamos a lado nenhum. É como aqueles labirintos fascinantes do Escher, as pessoas parece que vão para sítios muito distintos, e depois vemos que o próprio labirinto não lhes dá hipótese absolutamente nenhuma de irem seja onde for.
É como eu à espera que a água ferva, ou as pessoas que ficam à porta do restaurante quando são as primeiras a chegar para uma festa de anos. Ainda há pouquíssimo tempo presenciei isso mesmo. Cheguei, com a aniversariante, ao local onde se tinha combinado o jantar, e já estava lá toda a gente, a entreolhar-se de forma suspeita, de sorriso desconfortável e polido no rosto. aguardando o momento em que finalmente se podiam começar a divertir. Eles não sabiam, mas aquela espera era digamos que uma metáfora da vida deles e da minha também. Estamos sempre à espera que a festa comece ("é agora que me vou divertir, é agora que me vou divertir?"), só que a festa nunca começa, e em vez de entrarmos no restaurante, ficamos sempre especados à porta, à espera.
Acho que o pouco consolo que esta historieta oferece é que nós não entramos no restaurante da mesma forma que ninguém entra, nem mesmo a Rainha de Inglaterra ou o Bill Gates. A nossa condição é esta, andar por aí a tentar, armados em parvos, a desejar que nos aconteça qualquer coisa e que, de preferência, seja uma coisa boa.
O Chico Buarque também canta mais ou menos sobre isto - "vou, uma vez mais, correr atrás de todo o meu tempo perdido. Quem sabe foi achado, e está arrependido o ladrão que andou vivendo com o meu quinhão..." Não é bem sobre isto, mas é mais ou menos, porque andamos todos a desperdiçar tempo enquanto esperamos, basicamente.
E termino aqui, porque por um lado até eu já começo a achar que este post está com cada vez menos pontas por onde se lhe pegue, e por outro lado a água quentinha já ferve. Pequenos prazeres da vida, enquanto espero para entrar no restaurante, ou que o labirinto me leve a algum lado, ou sei lá que mais.
A maior parte dos meus dias, e acho que isto acontece também com a maioria das pessoas, pelo menos as pessoas que eu conheço, são um bocado estúpidos. Há sempre tempo que se desperdiça. Há sempre lugar para algum tédio. Há sempre a sensação de não se estar a optimizar a capacidade de se ser produtivo. Há sempre a frustração de sabermos que, independentemente dos nossos esforços, não estamos a ir a grande lado. Ficamos sempre no mesmo sítio. Mesmo que nos pareça que as coisas estão a mudar, talvez até a progredir, o que acontece é que a vida tem uma capacidade assustadora de fazer com que tudo fique na mesma, de modo a reconduzir-nos sempre, inevitavelmente, ao mesmo sítio. Nunca vamos a lado nenhum. É como aqueles labirintos fascinantes do Escher, as pessoas parece que vão para sítios muito distintos, e depois vemos que o próprio labirinto não lhes dá hipótese absolutamente nenhuma de irem seja onde for.
É como eu à espera que a água ferva, ou as pessoas que ficam à porta do restaurante quando são as primeiras a chegar para uma festa de anos. Ainda há pouquíssimo tempo presenciei isso mesmo. Cheguei, com a aniversariante, ao local onde se tinha combinado o jantar, e já estava lá toda a gente, a entreolhar-se de forma suspeita, de sorriso desconfortável e polido no rosto. aguardando o momento em que finalmente se podiam começar a divertir. Eles não sabiam, mas aquela espera era digamos que uma metáfora da vida deles e da minha também. Estamos sempre à espera que a festa comece ("é agora que me vou divertir, é agora que me vou divertir?"), só que a festa nunca começa, e em vez de entrarmos no restaurante, ficamos sempre especados à porta, à espera.
Acho que o pouco consolo que esta historieta oferece é que nós não entramos no restaurante da mesma forma que ninguém entra, nem mesmo a Rainha de Inglaterra ou o Bill Gates. A nossa condição é esta, andar por aí a tentar, armados em parvos, a desejar que nos aconteça qualquer coisa e que, de preferência, seja uma coisa boa.
O Chico Buarque também canta mais ou menos sobre isto - "vou, uma vez mais, correr atrás de todo o meu tempo perdido. Quem sabe foi achado, e está arrependido o ladrão que andou vivendo com o meu quinhão..." Não é bem sobre isto, mas é mais ou menos, porque andamos todos a desperdiçar tempo enquanto esperamos, basicamente.
E termino aqui, porque por um lado até eu já começo a achar que este post está com cada vez menos pontas por onde se lhe pegue, e por outro lado a água quentinha já ferve. Pequenos prazeres da vida, enquanto espero para entrar no restaurante, ou que o labirinto me leve a algum lado, ou sei lá que mais.
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