sábado, 28 de fevereiro de 2009

Afinal, o wrestling faz doer


Em primeiro lugar, este texto tem spoilers relativamente a The Wrestler.

Em segundo lugar, gostei muito deste filme. Gostei muito, embora só tenha dois grandes lugares-comuns para dizer, a saber: é um filme cru; é um filme honesto, principalmente pela interpetação de Mickey Rourke, que encarna de tal forma a vida de um homem absolutamente acabado, completamente sozinho (como é que será que ele conseguiu?!), que angustia.

Há pormenores no filme (que me disseram retirados de um documentário preexistente sobre os vencidos do wrestling e que se pode encontrar no youtube - também me disseram o nome do documentário e eu agora esqueci-me, mas hei-de investigar isso e postar aqui) que doem - a parte em Mickey Rourke, aka Randy The Ram, vai a uma decadentíssima e triste feira de antigos wrestlers, que se limita a uma desolada sala de ginásio com umas mesas e umas cadeiras solitárias, de saco às costas, com os seus VHS antiquíssimos, os seus posters, as suas T-shirts, à espera que alguém apareça para os comprar; os fregueses lá vão aparecendo, escassa, reduzidamente, e Mickey Rourke leva 8 dólares por uma fotografia. Põe o dinheiro numa "mariconera" (palavra fabulosa) à cintura, que o espectador vê bem, porque é filmada em grande plano. Depois, Rourke olha à sua volta e vê uns quantos outros wrestlers, absolutamente gatos pingados sem eira nem beira, acabados, com a pobre, a terrível merchandising velha, ali à espera de ser vendida. Uns estão de cadeiras de rodas, outros de bengala, todos absolutamente vencidos.

Esta cena, para mim, foi a melhor de todo o filme. Curta cena, mas de impacto fortíssimo. A mariconera é um pormenor inesquecível, aquela tristeza de ter de andar a vender coisas, de ter de andar a pedir 8 dólares às pessoas, de aquele dinheiro fazer falta, a desilusão, a pobreza que angustia. Nunca me vou esquecer da mariconera, que grande cena, de facto. Não me vou esquecer da mariconera nem deste comentário de Randy the Ram que me fez rir imenso, apesar do meu grande respeito por Kurt Cobain: Guns'n'Roses rules. Then that Cobain pussy had to come round and ruin it all. I fucking hated the 90s. ("Kobain pussy" está porreiro para definir Kurt Cobain, de quem volto a dizer que gosto muito, mas que de facto era assim a puxar para o drama queen).

Nota final para Mickey Rourke, feio (ele próprio diz, na cena final, uma desiludida e triste apoteose, se é que isso é possível, que sabe que não é tão bonito como dantes) e honesto e muito bom, e Marisa Tomei, batida, falhada, e linda, linda que ela está! Devia ter ganhado o Oscar em vez da Penélope, não tenho dúvidas.

Nota finalíssima para dizer que, nunca tendo gostado muito de Mickey Rourke porque só o tinha visto a fazer olhinhos e boquinhas para a câmara num qualquer Orquídea Selvagem, acho que gosto mesmo dele agora, e ainda por cima vi, no outro dia, um programa antigo de apanhados muito parvos na SicRadical, e aparecia Mickey Rourke de férias em Itália a aturar um guarda-costas igualmente italiano que lhe fazia de tudo (atirava-se para cima dele, não o deixava em paz) - fazia parte da "brincadeira". Mickey Rourke foi educado e simpático, e não gritou com o guarda-costas nem nada, nem lhe deu um murro nem nada, apesar do parvo do falso guarda-costas dos apanhados merecer, e portanto concluo que Mickey Rourke deve ser boa pessoa por não ter dado um murro neste tal falso guarda costas apesar de ele, reitero, merecer.

2 comentários:

ShugO disse...

Também adorei o filme e todos os actores. Mas "rai's partam" aquela tradução/legendagem! O "rai's partam" ainda passou, o "gramava muito" por "I would like to" ainda vá que não vá, mas o "ó tu que fumas" no lugar de "you there" foi de bradar aos céus!

Rita F. disse...

ShugO, concordo em absoluto.
Lembro-me bem desses exemplos, e
o "gramava muito", para mim, é capaz de ser o pior. Porque é que o tradutor quis dar a ideia, à força, que lá por o homem ser wrestler tem de falar à balda? Foi um juízo de valor muito errado.
O "ó tu que fumas" é estranhíssimo. Acho que há uma canção da Tonicha chamada assim. Se calhar o tradutor conhece a cançãozinha e estava entretido a cantarolá-la aquando da tradução.