domingo, 8 de fevereiro de 2009

Aula de aeróbica


Sempre me fez um bocadinho de impressão as pessoas que "vestem a camisola". Aquelas pessoas que, porque vão para a faculdade ou porque começaram a trabalhar, desenvolvem uma espécie de afasia ao nível dos pronomes pessoais e dizem, ao invés de "eu", "nós" ("nós, banco", "nós, empresa", "nós, escritório", "nós, faculdade", "nós, partido", etc.).

Percebo, ainda que com alguma dificuldade, que se vista a camisola de um partido político, ainda que eu própria eventualmente ache o mesmo partido desprezível. Quer dizer, posso achar ou não, mas percebo que haja quem tenha perfil para vestir uma cor política. Agora, reside absolutamente fora das minha capacidades cognitivas, e extrapola de modo absoluto o meu alcance intelectual e de percepção do mundo, que se "vista a camisola" ou que se assuma convicção emocional e imensa relativamente ao local de trabalho, especialmente se aquilo que nos liga ao mesmo local é um instrumento jurídico bem definido, com direitos e deveres, chamado contrato ou, ainda pior, os reles recibos verdes. Não há aqui nada que peça convicção ou arrebatamentos de coração. Prestamos os nosso serviços, recebemos o cheque. É claro que convém que façamos o trabalho com gosto e com competência, porque trabalhar no que não se gosta deve ser horrível. Mas é uma coisa que se faz para depois podermos ter uma vida lá fora. Percebo apenas que se "vista a camisola" da nossa própria vida, nunca de uma qualquer instituição alheia que dita regras heterónomas de que podemos, e até convém, gostar e respeitar, mas que nunca poderão substituir as regras ditadas pela nossa única e intransmissível identidade.

Quem veste a camisola da instituição, seja a instituição uma entidade patronal ou a faculdade onde estudamos, faz-me lembrar aquela gente parva que vai para as aulas de aeróbica aos saltos, com um sorriso imenso no rosto, a não falhar um pulinho da coreografia, a bater palmas convictamente de cada vez que a música acelera o ritmo martelado e enlouquecedor no mau sentido, que coram de alegria de cada vez que o professor lhes pisca o olho, invadidas por aquela onda de nefasto bom-alunismo, servil e apenas compensador para quem os triunfos da vida se reduzem à coreografia certinha na aula de aeróbica. Que arrepio.

O que eu defendo é trabalhar com convicção. Respeitar o local de trabalho. Gostar do local do trabalho. Gostar do emprego que se tem, que felizmente é uma sorte que eu possuo, e não sou mal-agradecida - tenho plena consciência de que tenho sorte, e procuro apreciá-la todos os dias. Mas acaba aqui. Porque vestir a camisola, visto apenas a minha. Apenas, e só, a minha.

Porém, nota final para dizer que, acaso tivesse eu uma T-shirt com o dito tão engraçado como o da foto aqui ao lado, vestia a camisola e era já.

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