quinta-feira, 18 de março de 2010

Roubo de identidade


Descobri uma pessoa no facebook que usa exactamente a mesma imagem que também aqui está no blog, a aguarela da Louise Brooks pelo Hugo Pratt, o pai do (esse sim, absolutamente meu) Corto Maltese.
Fiquei devastada. Não há explicação para aquilo que eu senti quando vi, na caixinha que diz "amigos em comum", a minha (minha!) foto. Depois, muito tristemente, lembrei-me que este rosto sorridente, de pescoço alto, de torre, não é meu. É um desenho de uma outra pessoa que não tem nada a ver comigo.
Mas habituei-me tanto a esta imagem, uso-a há tanto tempo, já, sempre gostei tanto dela, dos olhos sorridentes, da expressão afectuosa, que me habituei a pensar que, de uma certa forma, tudo isto me pertencia. Foi preciso outra mulher qualquer, que teve exactamente a mesma ideia do que eu, para que me apercebesse, duramente, que não, a imagem com a qual me identifico não é minha. É, até, estranhamente, muitíssimo alheia. E portanto, mais uma vez com grande pena minha, não posso levar ninguém a tribunal por roubo de identidade. Tenho de aceitar. E isso entristece-me profundíssimamente - a aguarela de Louise Brooks é de mim feita alheia.
Dou por mim a perguntar se essa outra mulher que também usa a mesma aguarela a sabe respeitar e salvaguardar. Se aprecia as pinceladas esbatidas, pastéis, que rodeiam o rosto, se se detém a contemplar a expressão doce do olhar da Louise, a perceber a ligeira inclinação do pescoço de torre, esguio, se sorri, como eu sorrio, em resposta ao sorriso irresistivelmente simples da Louise, a encantar-se, como eu me encanto, com a promessa de ingenuidade e genuinidade que o rosto deixa transparecer.
Acho que não, acho que a mulher não faz nada disto. Só eu é que faço porque este pormenores, a forma como eu gosto desta aguarela, isto sim, é mesmo só meu.
E portanto não consigo desfazer-me da Louise, que sempre acompanhou este blog desde o iniciozinho. Não consigo, não consigo, não consigo. Prefiro continuar na ilusão perdida de que ela é minha. Tal como Corto Maltese. Mas esse, ai de que me vier dizer que não é meu.

1 comentário:

Rachelet disse...

Podes sempre optar pela Pandora (que não é lá muito sorridente, convenhamos) ou pela Boca Dourada (bastante mais sorridente, embora de forma trocista...). Ou não.