terça-feira, 16 de março de 2010

Desampara da minha janela

Há coisas que me dão um certo nó no estômago.
Por exemplo, aquela música linda do Bob Dylan chamada It Ain't Me. O poema é sobre um homem que se vai embora porque não quer ser o amor da vida de uma qualquer mulher. Eu compreendo a posição do Bob Dylan - também compreendo a posição da qualquer mulher. No entanto, indendentemente disto, o que me angustia levemente nesta canção é o tom de desilusão que estes assuntos acarretam sempre. Admite-se que, por alguns momentos breves, a ideia de felicidade foi de facto possível, mas o mundo, ou o pessimismo, ou o tédio, ou a preguiça, foram mais fortes, e resta a ruína. É tal e qual como a canção do Serge Gainsbourg sobre a qual escrevi há mais de um ano - Je Suis Venu Te Dire Que Je M'En Vais. Esta é, tal como a canção de Dylan, cruelmente bela, e trata do mesmo assunto, que não deixa de ser quase um lugar-comum: o homem que parte, a mulher (que não passa de uma personagem-sombra, em ambas as canções) que fica, chorosa e estilhaçada. É uma pena. Eu tenho, de facto, pena desta sombra, desta mulher invisível.
Tem graça que, no caso das canções masculinas que falam sobre a ruptura, a ideia é tentar sempre amenizar a coisa com palavras sensatas e bonitas, mas não necessariamente justificar, ao passo que, quando as mulheres cantam sobre deixar maridos ou namorados, justificam-se sempre com "eu dei-te tudo e tu eras um grande estúpido", ou "eu dei-te tudo e tu mesmo assim não quiseste". A verdade é que me baseio em apenas três canções para esta asserção, e que são as supra-citadas Bob Dylan e Serge, sendo que a terceira é aquela dessa grande cantora com toda uma séria carreira por trás, Leona Lewis, apropriadamente designada por "Better in Time".
Pensando bem, é capaz de não ser grande amostra.
Esqueci-me do objectivo inicial deste post. Vou ter de terminar por aqui.
Nota apenas para dizer que, quanto a mim, a perfeita canção de Bob Dylan é, com certeza, sobre muito mais do que uma ruptura amorosa. Mas enfim.



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