segunda-feira, 1 de março de 2010

Cartas de chuva


Os dias de chuva trazem-me sempre as Birthday Letters, de Ted Hughes, juntamente com uma tristeza pingada e cinzenta. Quando procuro activamente por este livro, em livrarias ou dias de sol, nunca o encontro; quando o céu se torna pardacento e molhado, inesperadamente, aparecem-me sempre à frente os poemas que Hughes escreveu para a sua ex-mulher morta e suicida, Sylvia Plath.
Este sábado não foi excepção. A última vez que encontrara Birthday Letters fora numa velha feira do livro, coberto por um plástico roto, as páginas empoladas da chuva. Este sábado, num Chiado escuro e chuvoso, deparei-me com o outlet da Bertrand e, por entre os montes de livros que ali estavam, as Cartas de Aniversário, numa bonita capa azul escura (costumo gostar das capas da Relógio d'Água, e esta não foi excepção), vieram direitinhas a mim, edição bilingue e tudo.
Foi o destino. Tarde de chuva, península inteira a chorar, entro numa livraria fria, com um círio cintilante, e ali, sentado e imóvel, em frente ao altar dos meus olhos, a silhueta, o esboço, a esfinge, das Cartas de Aniversário.
Desta vez, comprei-o. Está na minha estante, junto dos livros a ler rapidamente, e vou começá-lo já hoje. Porque chove, porque ainda faz frio, porque Ted Hughes escreveu sobre a sua triste, condenada, pobre Sylvia suicida.

PS: não sou responsável pelo texto completo deste post. Sou responsável por 90%, mas o terceiro parágrafo é adaptado dos GNR, ainda hoje, grande círio da música portuguesa. Quer dizer, ainda hoje, não, porque o que fizeram a partir do InVivo não interessa, mas até ao InVivo, GNR rulam.

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