sexta-feira, 12 de março de 2010

Ó língua da minha terra, agora é que eu percebi...

Adoro linguagem barroca, excessiva, extravagante, adjectivos, muitos adjectivos, vírgulas, graus superlativos absolutos sintéticos e analíticos, conjunções copulativas e também causais, travessões, pontos e vírgulas, advérbios de modo, sujeitos intermináveis, predicados incisivos, complementos circunstanciais quilométricos, complementos agentes da passiva ad aeternum, apostos e complementos a perder de vista, frases que se prolongam e duram, duram, duram, e acima de tudo muitos adjectivos, tantos adjectivos, o Eça de Queiroz usava sempre adjectivação binária, por isso gosto tanto dele, por mim até podia usar trenária ou quaternária, que as valsas são sempre rápidas demais para meu gosto, e compassos mais longos oferecem mais tempo para disfrutar, que morfologia esplêndida tem o adjectivo, magnífico, magnificente, magnânimo, como se pode viver sem adjectivos, não pode, e a seguir a adjectivos gosto de vírgulas, essenciais para a frase não acabar nunca, e a seguir a vírgulas gosto do travessão, e acima de tudo gosto da língua portuguesa, que aguenta uma sintaxe de arrasar, uma sintaxe em que as frases nunca morrem, nunca sofrem o corte do ponto final, tão anglo-saxónico, e embora eu me considere uma anglófila porque gosto de inglês e de Inglaterra - gosto, sim, e muito -, continuando, apesar disto, o português contorna os pontos finais que é uma beleza, uma verdadeira arte, uma manobra de diversão linguisticamente perfeita, e portanto gosto de vírgulas, gosto de adjectivos, a quem Lobo Antunes e Cardoso Pires faziam guerra, e ainda bem para eles porque escrevem magnificamente e eu apenas me rendo a essa evidência, mas gosto de vírgulas, gosto de adjectivos, e abomino insensatamente, tal como Cesário Verde adorava ângulos agudos mas ao contrário, o ponto final.

1 comentário:

fado alexandrino. disse...

Bué loko tázaver bro.