domingo, 7 de março de 2010

Joan Collins e os autocarros que ela apanha


Na minha infância, havia uma mulher que me fascinava e que se chamava Alexis Carrington, má como as víboras e empenhada em destruir a vida do ex-marido magnata, que a tinha deixado para casar com uma loura deslavada de sorriso beatífico e claustral, que era a Linda Evans na vida real e que, também na vida real, namorou com aquele artista grego que dá vontade de rir, o Yanni.
A Alexis Carrington movia-se num mundo que eu nem sempre podia contemplar, porque a minha mãe não me deixava, e que era uma telenovela chamada Dinastia, protagonizada pela Joan Collins. Esta mulher suscitava-me espanto e admiração: aquelas unhas vermelhas e magníficas, a ostensiva maquilhagem, o cabelo escuro, muito ondulado e muito armado, a roupa faiscante, os ombros infindos devido a enchumaços épicos, enfim, uma maravilha. A Joan era um equilíbrio precário entre a aristocrata falida e a diva de bordel, a dona de casa abastada e a mulher perdida, o refinamento de maneiras e a descompostura da mulher traída, sem casa e sem marido. Magnífico.
Também ainda em pequena, li uma entrevista, uma vez, com a Joan. Dizia ela (era, até, a manchete da entrevista) que "os homens são como os autocarros: perde-se um, espera-se um bocadinho e chega outro" (presumo que os homens possam dizer o mesmo das mulheres).
Esta clarividência tem-me acompanhado na vida. Houve alturas de grande desânimo, em que me pus a pensar que, daquela vez, tinha definitivamente perdido o autocarro, que nunca mais viria outro, e que ficaria ali, à beira da estrada, sem destino, para o resto da vida. Mas a Joan estava certa. Chegou sempre outro autocarro e, mesmo que o bilhete fosse caro, valeu sempre a pena pagar. E esta forma sensata de ver a vida, é a Joan Collins que a ensina.

4 comentários:

fado alexandrino. disse...

presumo que os homens possam dizer o mesmo das mulheres

Está brutalmente enganada.
Apanhar uma grande, valiosa, sensual, bonita, culta, inteligente e elegante mulher que seja uma grande cozinheira, passe bem a ferro e consiga preparar um cocktail diríamos um "Bloody Mary" ao mesmo tempo que nos ajuda a insultar o árbitro em todos os jogos do Benfica e nunca mas mesmo nuca tenha dores de cabeça naquele momento é mais difícil do que apanhar um lugar no próximo "shuttle" que vá direito ao espaço.

Rita F. disse...

Bom... mas o Fado está talvez a falar de uma viatura própria, ao passo que eu me cinjo aos meios de transporte público. :)

aletis disse...

metáfora interessante, sem dúvida. no meu caso podia dizer que primeiro, não tinha problemas nenhuns em apanhar autocarros nem em perdê-los. depois, tive uma viagem muito atribulada, ainda me cheguei a despistar, mas tenho a permanente sensação que saí na paragem errada e fiquei perdida no meio do nada. e desde aí, resisto em apanhar autocarros e insisto em ir a pé:)

fado alexandrino. disse...

Touché!
Na verdade estava a pensar num Cadillac Eldorado Biarritz cor vermelha e estofos em pele creme.
Se calhar só importado.