sexta-feira, 12 de março de 2010

Com que voz

Numa cena de Blue in the Face (vide vídeo abaixo), Jim Jarmush decide deixar de fumar e partilhar o seu derradeiro cigarro com Harvey Keitel, que trabalha numa tabacaria e que lhe vende tabaco há anos. Jim Jarmush diz que, entre outras razões, vai sentir muito a falta do cigarro porque, e passo a citar: sex and cigarettes, you've got to admit...having a cigarette after sex, that's like... a cigarette never tastes like that, you know. To share a cigarette with your lover...
Ao que Karvey Keitel responde, ah, that's bliss.
Eu não fumo, porque sou tisicazinha e não posso, embora ninguém diga olhando para mim, porque não me dá para emagrecer, mas enfim, são os padecimentos da alma e do corpo que por vezes assumem estranhas formas. Continuando. Não fumo, portanto não sei de que é que o Jim Jarmush fala, não faço ideia absolutamente nenhuma, nenhuma.
Sei, porém, o que é partilhar uma canção com um amigo. Isso sei bem o que é, e tenho sempre muitas saudades das nossas cordas vocais sintonizadas, gargantas esganiçadas mas muitíssimo empenhadas e convictas, absolutamente dedicadas àquela canção do princípio ao fim. Os poucos minutos que dura a canção são uma espécie de concretização da amizade. É verdadeiramente lindo. Chego a fazer playlists de canções que já cantei, no carro, na rua, numa festa, com este ou aquele amigo, quando tenho saudades dele ou dela. Quando volto a cantar a canção, é uma espécie de evocação da pessoa de quem sentimos a falta. E nem sempre se trata de boa música. Às vezes, são canções pirosíssimas. Mas sabe sempre tão bem cantá-las a plenos pulmões com um amigo. Partilhar uma canção com um amigo - ah, que felicidade.


2 comentários:

lenor disse...

«são os padecimentos da alma e do corpo que por vezes assumem estranhas formas»

Gosto disto!

Rita F. disse...

É que é verdade... :)