sexta-feira, 5 de março de 2010

Chuva


Hoje choveu tanto, tanto, tanto, que a chuva entrou pelos meus sapatos, olhos, vestidos, e inundou-me, e quase me afogou, e às tantas eu nem conseguia respirar, e então comecei a nadar.
Nadei, nadei, nadei, e à minha volta havia muita gente também a nadar, alguns até furiosamente, sempre acompanhados pelo martelar incessante, quase cruel, da chuva, as gotas na nossa cabeça, as gotas no nosso pescoço e arrepiavam, e tudo a nadar, até que perguntei a alguém, "mas estamos a nadar para onde?", e a pessoa respondeu, "não sei, mas não podemos parar, não é?", e eu perguntei, "porquê?", e a pessoa respondeu novamente, "porque se pararmos não vamos a lado nenhum. Se continuarmos a nadar, talvez cheguemos a qualquer lado, sei lá".
Eu nadei, nadei, nadei e a chuva nunca parou.
Agora já estou em casa e, lá fora, não se ouve barulho nenhum. A chuva silenciou tudo, e ela própria já se calou.

2 comentários:

fado alexandrino. disse...

Dois post muito interessante que se interligam e me remetem para um desejo.
Preciso urgentemente de ler em inglês Alice's Adventures in Wonderland e isto por causa desta frase " I only wish I had such eyes,' the King remarked in a fretful tone. `To be able to see Nobody!" lido num blog (warning) de direita que está aqui

http://portugaldospequeninos.blogspot.com/2010/01/i-only-wish.html

Escusado será dizer porque é que os dois post e este livro estão todos interligados.

Xantipa disse...

Eu nadei contigo um bocadinho e adorei!
Muitos beijinhos molhados de tanta baba!