quinta-feira, 10 de junho de 2010

Quem tem medo do feminismo

Pode ler-se aqui, na revista on-line Slate, herdeira da New Republic, um artiguinho interessante sobre o feminismo dos dias de hoje, mais especificamente sobre um certo feminismo anti-feminista que, sendo talvez uma contradição nos termos, vê em Sarah Palin o seu representante maior.
Antes de continuar, sinto-me na obrigação de deixar bem claro que, acreditasse eu em Lúcifer e Legião, acreditaria também que Sarah Palin seria a sua personificação terrena. Mas adiante.
Custa-me ouvir imensas mulheres que conheço na sua urgência em declarar que não são feministas - porque ser feminista é não fazer depilação, não ir ao cabeleireiro, ser feia, queimar soutiens e odiar os homens. Também me custa ouvir mulheres vilipendiar outras mulheres que escolheram ficar em casa a tratar dos filhos.
Parece-me que uma importante vitória do feminismo, pelo menos no Ocidente, foi dar às mulheres um direito de escolha equiparado ao dos homens. Não penso que o feminismo sirva para odiar quem quer que seja, homens ou mulheres que escolhem ser domésticas, ou até que são domésticas porque não têm outra opção, e também não me parece que o feminismo sirva para afirmar a superioridade das mulheres face aos homens. Serve para ajudar uma certa emancipação que ainda é necessária.
Esta emancipação é tanto mais urgente quanto são certas as sevícias a que as mulheres estão sujeitas em países como o Sudão, por exemplo. E nem é preciso dizer mais nada nem dar outros exemplos inaceitáveis (que os há, infelizmente). E, mesmo que não queiramos sair do nosso próprio país, pensemos nas razões que temos para que, em Portugal, o feminismo faça sentido - que tal as constantes vítimas de violência doméstica? E não me venham dizer, como eu já ouvi, que hoje em dia só é vítima de violência doméstica quem quer, e que hoje em dia qualquer mulher pode pegar nas malinhas e sair de casa, e etc., porque isso não passa de um chorrilho de pensamentos mal direccionados.
Não vou entrar sequer em determinados preconceitos culturais que me parecem muitíssimo enraizados e que ainda postulam um acervo de valores patriarcais que não me parecem benéficos, mas antes reaccionários. Vou apenas dizer que, tanto para homens como para mulheres, aquele feminismo que se bate pela participação e igualdade equiparadas da mulher em sociedade é vantajoso e benéfico.
E termino apenas com um último pensamento sobre estas feministas anti-feministas e que se relaciona com o conforto material e a sociedade de abundância em que vivem e que, obviamente, lhes dá tempo a mais para pensar. Os filósofos gregos talvez lhes pudessem dar uma liçãozinha - também eles tinham tempo de sobra, mas sabiam o que fazer com ele. Porque não pensam, estas feministas anti-feministas, em andar 10 km para ir buscar água e mais 10 km para voltar para casa e alimentar os filhos, e fugir de milícias a meio da noite para evitar violações e abusos, ou ir para a um campo de trabalho escravo? É só uma sugestão. É que, se pensassem nisso, talvez tivessem menos tempo para escrever os livros que escrevem, dar as entrevistas que dão, fazer as campanhas que fazem, ocupando-se, desta forma, de outras coisas bem mais importantes e de mulheres que, verdadeiramente, precisam da ajuda de feministas a sério.

1 comentário:

fado alexandrino. disse...

Não vou comentar nada, embora hoje esteja a colocar em dia a leitura e comentários ao seu blog que explodiu de repente em entradas ( e isto é uma coisa tipicamente feminina).
Só para fazendo publicidade dizer que no meu coloquei uma entrevista a Maria Teresa Horta feita há vinte anos.
Está sob a tag K.