Descobri agora que Saramago morreu.
O Ano da Morte de Ricardo Reis ficará para sempre comigo.
A única consolação que tenho (e não é bem consolação) é que me faltam ainda muitos livros de Saramago para ler. Duvido que me apaixone por algum como pelo Ano da Morte, mas pode ser que aconteça. É Saramago, afinal. E a sua escrita, aquele domínio da língua que ele tinha, uma coisa impressiva, uma simplicidade que aterrava, as verdades tão simples, chãs, que ele conseguia dizer.
Dentro de nós há uma coisa que não tem nome e essa coisa é o que nós somos.
A solidão não é viver só, a solidão é não sermos capazes de fazer companhia a alguém ou alguma coisa dentro de nós.
Era uma escrita sentenciosa. Mas nunca doutrinal. Era bonita, apenas. Era bom ler pelo prazer de ver ali a língua portuguesa num expoente de criatividade, de significação, de matéria que é trabalhada e esfregada e tecida até resultar naquelas frases assombrosas.
Gostava dele. Considero-o um enorme escritor. Não me apete dizer mais nada. Apetece-me ler isto:
Gostava dele. Considero-o um enorme escritor. Não me apete dizer mais nada. Apetece-me ler isto:
Thou wast not born for death, immortal Bird
No hungry generations tread thee down;
The voice I hear this passing night was heard
In ancient days by emperor and clown:
No hungry generations tread thee down;
The voice I hear this passing night was heard
In ancient days by emperor and clown:
Perhaps the self-same song that found a path
Through the sad heart of Ruth, when, sick for home,
She stood in tears amid the alien corn;
The same that ofttimes hath
Charm'd magic casements, opening on the foam
Of perilous seas, in faery lands forlorn.
She stood in tears amid the alien corn;
The same that ofttimes hath
Charm'd magic casements, opening on the foam
Of perilous seas, in faery lands forlorn.
4 comentários:
Quando me perguntavam se gostava de Saramago, respondia (e responderei): «Não é o meu autor preferido, mas é o autor de um dos meus livros preferidos: O Ano da Morte de Ricardo Reis.
Pode ser que haja gostos... familiares.
Beijinhos
Identifico-me completamente com o que aqui está dito, incluindo o comentário anterior. Nada mais é preciso dizer.
Acho que sim, que há gostos "familiares"... beijinhos para os dois. :**
José Saramago não era menos português por não pôr a bandeira à janela na véspera de um evento desportivo. Acima de tudo, a sua essência era ibérica. Convém dizer que só saiu de Portugal devido à ostracização de Sousa Lara, comprovada agora com o episódio político revisionista da não presença de Cavaco Silva no seu funeral. "Viagem a Portugal" é reflexo de amor e do encantamento que sentia pelo país, pela sua beleza e cultura, pela classe trabalhadora, espelhada na sua identidade, mesmo que isso significasse ir contra a ideologia do seu partido, contra a maioria religiosa, contra o politicamente correcto. Para o seu espírito inconformado, a morte é pouco relevante. Como diria Saramago, "o fim duma viagem é apenas o começo de outra".
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