Um amigo deixou-me um chamado "share" muito querido no mural do facebook. Era aquela cantiga do Chico Buarque chamada Agora Eu era Herói, que costumávamos ouvir em pequenos.
Além desta, ouvíamos também o Barata Moura, o Jardim Jaleco, cantigas tradicionais, um disco brasileiro giríssimo que tinha uma capa à Monty Python e uma cantiga que rezava "era uma casa muito engraçada, não tinha tecto, não tinha nada...", o Sítio do Picapau Amarelo, a Cinderela e o Pó de Arroz do Carlos Paião e o Tony Silva ("Tóniiiii.... meu nome é Tóni Silva, sou grande criador de toda a música rock" - durante anos, pensei que o verdadeiro nome do Herman José era Tony Silva), e mais tarde o Serafim Saudade. Tudo coisas com piada. Algumas delas, não sendo de elevadíssima qualidade musical, eram perfeitamente giras e aceitáveis e não feriam os ouvidos de ninguém.
Ora. Não sendo eu daquelas pessoas que enlouquece à vista de crianças, considero-me porém como pessoa que gosta de crianças (o que há para não gostar, exceptuando quando são chatas?). E é por isso que vejo com algum pesar o lixo musical a que elas estão sujeitas. Há esta mania insuportável de considerar que as crianças, por serem pequenas, são parvas, de modo que qualquer coisa que se lhes dá será, com certeza, bem vinda. E é ver os pequenitos expostos a cantiguinhas da índole do "fantasminha porcalhão, não venhas para aqui não", de um renovado e digitalizado Avô Cantigas, e as músicas da carochinha em DVD, de animação miserável e som mutilado por computadores ranhosos. E as criancinhas a ver e a dançar, porque não conhecem melhor.Atenção. Eu também ouvia muita porcaria quando era pequena. Mas porcaria daquela que, revelando eu tais embaraços em público, daria com certeza direito a enxovalhos públicos, e merecidos, ainda por cima. De modo que não vou revelar. O que acontece é que, entre essa porcaria, também ouvia muita coisa boa, além de ter tido a sorte de ter nascido num tempo em que, se se queria que os miúdos ouvissem Mozart ou Prokofiev, por exemplo, punha-se a tocar um disco de Mozart ou Prokofiev e pronto, ao invés de recorrer a mariquices inúteis como "Mozart para bebés" ou "Prokofiev para bebés". Este tipo de produtos só existem porque se assume, de facto, que as crianças são parvas e que não têm idade para ouvir música clássica a sério, que ainda as traumatiza. Então, será melhor ouvir música de qualidade inferior, uma mistela de sons de plástico, para lhes acalmar (e treinar) os ouvidinhos. Ainda gostava de encontrar, por exemplo, a versão "Pedro e o Lobo" para bebés. Ou, melhor ainda, o Carnaval dos Animais para bebés. É que estas obras, como é sabido, são perigosíssimas, destinadas somente aos ouvidos calejados de um adulto e será melhor mantê-las bem longe dos pequenotes.
Por isso é que eu gosto do facto de Jesus ter dito "deixai vir a mim as criancinhas". Ele não estava com paternalismos e coisas. A sensação que tenho é que respeitava as crianças. Se fosse hoje, Jesus dava-lhes a ouvir música a sério e pronto. Por acaso, sempre simpatizei com Jesus neste aspecto.
3 comentários:
Post muito sonoro.
Ouço de quase tudo um bocadinho, só não ouço musica pimba, rock, heavy metal, fado, quase nenhuma música portuguesa, folclore, étnica, pop pós-moderno, pop antigo, grandes orquestras de jazz, Manuela Moura Guedes e os programas de televisão sobre futebol (sim eu sei não são musica mas querem dá-la).
Posto isto e como gostei de ver aquela musiquinha vou colocar hoje ou amanhã um disco do Chico, uma compilação do melhor que ele fez.
Já agora o Tony Silva era o grande criador de toda a musica "ró" .
Podia ser igual mas não é e assim faz a diferença.
Era genial.
Pronto, Fado, já percebi que ouve de tudo um pouco, mas que não tem tempo para uns Beatles ou uns Rolling Stones. :D (a sério, nem uns Beatlezinhos?)
É verdade, esqueci-me do pormenor da sua "ró", e não rock, do Tóni Silva - Com um Brilhozinho nos Olhos também era Com uma Ligeira Centelha no Olhar, ah ah!
Era genial, sim.
(a sério, nem uns Beatlezinhos?)
É verdade não me dizem nada, peço desculpa.
Dessa zona há alguns que ouço e entre eles os Pink Floyd (um ou dois discos) que sim levam-me quase ás lágrimas.
E isto é um elogio, pois só choro quando o Benfica perde e quando o Benfica ganha.
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