terça-feira, 22 de junho de 2010

Streetcar


Embora saiba que Viven Leigh protagonizou Um Eléctrico Chamado Desejo (doravante designado por Streetcar, porque eu sou uma pessoa que é asim), e que tal consumou uma injustiça para a também grande Jessica Tandy, que fazia de Blanche na peça da Broadway, dizia, embora estando ciente desta injustiça, não posso deixar de me deliciar com a Vivien enquanto Blanche Dubois.
Primeiro, sou fã da Vivien Leigh desde pequena. Teria talvez uns 10 ou 11 anos da primeira vez que vi o Gone With the Wind e me apaixonei por Rhett Butler e Scarlett O'Hara. Que fogosos, que bonitos, que imperiosos, os dois. É impossível não gostar de os ver a trabalhar, ainda que o filme dure quatro horas e que eu hoje em dia esteja em condições de admitir que, enfim, talvez seja um tanto ou quanto pastelão.
Bom. Isto para dizer que tudo em Vivien Leigh como Blanche é frágil e adocicado e perigosamente instável na medida certa. O tom é irrepreensível, e a forma como Blanche balança na corda bamba, entre a sanidade mental e a loucura, é admirável. Os olhos ligeiramente desvairados, por exemplo - como é que se conseguem uns olhos apenas ligeiramente desvairados? Não sei, mas a Vivien consegue-o.
Talvez tenha sido ajudada pela força incontida de Brando, que, sendo tão impossivelmente lindo, dá ao seu Stanley uma única vantagem, que não chega para o redimir - o facto de ser bonito e uma força da natureza. Tudo o resto, nele, é bruto e primário. A mulher, Stella, tem-lhe afecto devido essencialmente a questões de ordem física, ao tal desejo que às vezes complica a vida de uma pessoa. Quanto a Blanche, o seu problema é, exactamente, não saber bem o que fazer às tais questões de ordem física e descontrolar-se com isso. Depois faz figura de desavergonhada e é escorraçada da cidade onde vive. Stanley, por seu lado, sabe exactamente o que faz quando se trata de matéria carnal - domina. E a sua única superioridade assenta nisso. De modo que a pobre Blanche, que com a força mental não pode contar, e dada como é a atracções físicas desorientadas, não tem qualquer hipótese.
É um problema grave quando o corpo pede coisas que a cabeça não quer dar. Criam-se discrepâncias de grande impacto social.
Vale a pena ver e rever o Streetcar. Só me falta ler a peça. Ainda não resolvi este problema.

2 comentários:

betânia liberato disse...

fogo, este não vi. mas é tudo lindo o que dizes, tudo lindo.

Rita F. disse...

b'passarinho, a ver, a ver, o mais rapidamente possível. E depois diz-me o que é lindo, se o post, se o Marlon Brando...eu aposto mais no Brando, mas pronto. :D