terça-feira, 22 de junho de 2010

Não quero Paris para nada


Não gosto muito do Casablanca.
Não quer dizer que não considere um grande filme. Com ou sem a minha consideração, é evidente que Casablanca é um grande filme.
E porém não gosto.
O meu desagrado prende-se com aquela tristemente famosa história do "we'll always have Paris". É tão inútil. De que é que serve a alguém estar para sempre ligado a um romance acabado, de lágrimas, que já não traz felicidade e que, por acordo de ambas as partes, foi terminado? Não compreendo.
A questão é que para mim foi sempre óbvio e terrivelmente claro que Ingrid Bergman deveria ter ficado com o Rick. O facto de ter apanhado o tal avião para Lisboa é incompreensível. Pode ter sido o mais nobre, o mais sensato, o mais fácil - mas não foi o mais acertado. Escolher a infelicidade para o resto da vida não pode ser o mais acertado. O marido da Ingrid arranjava-se sem ela, com certeza. Continuaria a liderar a Resistência e conhecia a sua "Jeanne Moulin" ou algo parecido.
Também não gosto muito da versão do As Time Goes By que aparece no filme, ao pianinho, mas isso já é outra questão. Em vez do Sam, lamento muito mas devia ser a Billie Holiday ali a cantar. Assim, sim.
Mas voltando à questão dessa problemática terrível do "we'll always have Paris" - hã? Mas isto é para servir de consolo? Não me parece consolo de qualquer espécie. Parece-me uma triste, inaceitável despedida. É isso que me transtorna em Casablanca - a separação de Rick e da Ingrid é inaceitável. A ordem natural das coisas diz que devem ficar juntos. Mas eles insistem em viver apenas de memórias - porque se enganam e insistem no erro de que a memória é algo que se tem.
O meu conselho a Rick e a Ingrid (não me lembro do nome dela no filme, não quero saber) - vejam Another Woman, do Woody Allen. Aí, vão perceber que uma memória é algo que se perde. Não é algo que se tem. E talvez aí decidam ter, e não perder.

6 comentários:

betânia liberato disse...

não sei porque raio mas sempre vi pessoas a compararem o casablanca com o gone with the wind, e eu adoro o gone with the wind, tudo ali é perfeito perfeito, desde a vivian que dá uma perfeita scarlett e o clark gable que é ... não sei o que é, mas é além de bom. até a historia é mil vezes mil!
este senhor (ai, que não me lembro do nome e tenho preguiça de pesquisar) não gosto dele, é frio, é demasiado seco, não sei explicar.

e claro, claro que a billie holiday devia estar ali em vez do outro.


e o another woman é a maravilha A MARAVILHA! amo o another woman, foi o que me fez fazer as pazes com o senhor woody.

(desculpa-me a quantidade de letras, é para compensar os comentarios que muitas vezes quero fazer, mas esqueço-me :p )

Ana disse...

Parece que é preciso acabar mal para acharem que é uma grande história de amor. Sádicos!

Zorze disse...

Aqui vai uma modinha com uma letra fantástica, que fala de arrumações. Ao fim e ao cabo acho que é disso que este post fala. De como se devem arrumar as coisas.

Rita F. disse...

b' passarinho, também sou fã do Gone with the Wind, e em geral concordo com o comentário em relação ao H. Bogart - seco e frio. No entanto, gosto muito das opções que o Bogart tomou em relação aos filmes que decidiu fazer. Escolhia muitos papéis de bom rebelde, de marginal com bom coração, de oposição ao estado de coisas. Gosto muito disso, e portanto simpatizo com o HB (e vê-lo com a Bacall é magnífico, há que o dizer). Os actores mais tradicionais, e consequentemente menos interessantes, como o Clark Gable (q eu adoro como Rhett Butler, atenção) não têm o mesmo carisma.

Ana, pois é. É uma pena acabarem separados, embora o final se enquadre na história e no cenário político e tal. Mas é uma pena.

Zorze Caetano - obrigada pela moda! Adorei. Não conhecia essa senhora, portanto olhe, obrigada. E concordo - arrumar as coisas. A vida é sempre sobre isso. Até a do Corto Maltese, impressionante.

fado alexandrino. disse...

Há imenso filmes a terminar "mal".
Antigamente no Condes e no Eden (hoje, um venerável relíquia e outro um hotel)havia muita gente a sair lavada em lágrimas.
Gosto deste género de filmes, fazem lembrar a vida.
Este (http://www.imdb.com/title/tt0112579/) também cada um vai para seu lado.
Como dizia eu noutra encarnação " se não sabes para onde vais, todos os caminhos são bons)

Destination disse...

Quando se perde o resto, ainda bem que "a memória é algo que se tem"