sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Quem nasce torto, tarde ou nunca se endireita?


Foi preciso fazer a minha "avaliação" no ginásio para ver, finalmente, a minha intuição explicada. Sempre pensei que havia algo em mim que não estava bem, uma sensação qualquer de que algo não batia certo. Os professores do ginásio (ou PiTis, como se diz agora), após olharem para mim e me verem fazer aqueles exercícios parvos que temos de fazer, braços para cima, braços para baixo, cabeça contorcida, etc. e tal, disseram-me, "ó Rita, olhe que tem aí qualquer coisa torta". Hã? Devo ter mesmo muitas, pensei eu, mas eles continuaram: "Pois, agora não consigo ver se é a coluna, se é a anca, se é a perna, mas olhe que, aí, há qualquer coisa torta. Tem de ir ao ortopedista, porque isso não é má postura, isso é mesmo dos seus ossos, de certeza que vem desde pequena"

Ou seja: descobri nesse dia que nasci torta.Percebi finalmente o que se passa comigo. A intuição que tinha vinha, afinal, disto: sou assimétrica e torta e, à medida que envelheço, pelos vistos (e segundo o que me disseram também no ginásio), cada vez menos me endireito. E, realmente, desde pequena que me parecia que a assimetria dominava a minha vida. Esta (a minha vida) sim, sempre teve algo de cubista, as coisas desencontradas, as perspectivas que não batiam certo, os ângulos agudos. Daí ter sempre percebido o querido Cesário, que odiava ângulos agudos, e bem. Daí ter deixado aqui a capa desta BD de que gostei tanto, da pobre menina inclinada, que se a tentassem endireitar caía e ainda era pior. Ou seja: não havia remédio.

Será que para mim também não há remédio? Como sou torta, a minha visão é diagonal e assimétrica, não consigo ver as coisas direitas, a minha perspectiva vê tudo ao contrário, ou com uma ligeira inclinação, à semelhança da Torre de Pizza, o que causa graves problemas quando temos uma vida para viver no mundo real. Tenho dificuldade em perceber tudo, penso que as coisas são de uma forma e afinal são de outra. É um martírio. Será assim até morrer?

Na esperança (que espero não ser vã), de que para mim ainda haja remédio, decidi que hei-de ir ao ortopedista e pedir "sôtor, endireite-me, que eu quero endireitar a minha vida".

Hei-de endireitar-me, hei-de endireitar-me, passar a ver tudo direitinho, clarinho, que beleza...

2 comentários:

Luis F. Cristóvão disse...

anjo torto ;)

Rita F. disse...

Isso é compadecimento para com a minha enfermidade? Vou pensar que sim.
Obrigada pelas suas doces palavras, senhor Cristóvão.