A escrita é uma coisa muito estranha. É um espelho de nós próprios, e, talvez por isso, faz com que nos confrontemos com a nossa própria identidade como se esta fosse alheia, como se pertencesse a outro e não a nós. Ler algo que escrevemos há algum tempo é ler aquilo que outra pessoa escreveu, não aquilo que nós, tal como hoje somos, escrevemos.
Nunca me revejo naquilo que escrevi no passado. Leio e releio os textos e encontro sempre algo de que não gosto, ou algo que, muitas vezes, acho terrivelmente piroso, e este confronto com a falta de qualidade daquilo que escrevemos é duro. É quase alienante – releio os mesmos textos muitas vezes e é-me difícil acreditar que a pessoa que eu hoje sou escreveu aquilo há apenas três meses atrás, de modo que a minha identidade parece transfigurar-se numa espécie de alma penada que reside em palavras antigas que pus no papel e que agora voltam para me assombrar, vindas de algum lugar alheio a que eu, seguramente, não pertenço. E volto a lembrar-me do meu doce Bernardim: “de mim me sou feito alheio”.
Mas este lugar alheio é pura ilusão - ele existe, mas não é alheio. Este lugar alheio, onde escrevi textos tão maus que me envergonham, sou eu, é a minha casa. E por isso é que escrever é, por vezes, uma actividade tão dolorosa. O espelho mais revelador que podemos ter daquilo que somos. O confronto penoso com o eu como se fosse o outro, mas não é o outro, sou mesmo eu. Que confusão.
Tudo isto poderia fazer-me perguntar porque é que ainda tento escrever o que quer que seja, mas para isto o meu “eu”, ou talvez o “eu” que é o “outro” (simplifiquemos: “qualquer coisa de intermédio”) tem uma resposta: como o meu plano é endireitar a minha vida, estou à espera do dia em que vou olhar para o espelho e vou mesmo, mesmo gostar do que lá está, sem reservas de qualquer espécie.
Nunca me revejo naquilo que escrevi no passado. Leio e releio os textos e encontro sempre algo de que não gosto, ou algo que, muitas vezes, acho terrivelmente piroso, e este confronto com a falta de qualidade daquilo que escrevemos é duro. É quase alienante – releio os mesmos textos muitas vezes e é-me difícil acreditar que a pessoa que eu hoje sou escreveu aquilo há apenas três meses atrás, de modo que a minha identidade parece transfigurar-se numa espécie de alma penada que reside em palavras antigas que pus no papel e que agora voltam para me assombrar, vindas de algum lugar alheio a que eu, seguramente, não pertenço. E volto a lembrar-me do meu doce Bernardim: “de mim me sou feito alheio”.
Mas este lugar alheio é pura ilusão - ele existe, mas não é alheio. Este lugar alheio, onde escrevi textos tão maus que me envergonham, sou eu, é a minha casa. E por isso é que escrever é, por vezes, uma actividade tão dolorosa. O espelho mais revelador que podemos ter daquilo que somos. O confronto penoso com o eu como se fosse o outro, mas não é o outro, sou mesmo eu. Que confusão.
Tudo isto poderia fazer-me perguntar porque é que ainda tento escrever o que quer que seja, mas para isto o meu “eu”, ou talvez o “eu” que é o “outro” (simplifiquemos: “qualquer coisa de intermédio”) tem uma resposta: como o meu plano é endireitar a minha vida, estou à espera do dia em que vou olhar para o espelho e vou mesmo, mesmo gostar do que lá está, sem reservas de qualquer espécie.
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