quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Nota mental: não apaixonar por Corto Maltese


- Olha, Corto, eu agora tenho de ir para a faculdade, mas depois quando voltar podíamos ir jantar fora.

- ...

- Não queres?

- ...

- Então? Estás mal disposto? Queres ficar em casa?

- É que...

- Diz.

- É que... o mar...

- O que é que tem o mar? Queres ir ali a Santa Cruz, é isso?

- Não, é que... olha, não és tu, sou eu.

- (Pronto. Bonito)

- O mar... eu... tu quando me conheceste já sabias. Eu sou marinheiro. Eu vivo a viajar, a perder países. Uma aventura em cada porto. Não vai dar. Tenho de ir.

- Então ... e .... e o resto... e tudo...

- Então mas e tudo o quê? Também, isto só dura há um mês. Olha que um mês já é muito para mim, tu sabias perfeitamente quando me conheceste.

- Ó pá, para lá com isso, "sabias perfeitamente, sabias perfeitamente", que estupidez!

- Tu é que és estúpida.

- Não, tu é que és, aliás, sabes o que é que tu és? És mas é um grande estúpido.

-Não, tu é que és.

- Não, tu é que és.

- Não, tu é que és.

- Não, tu é que és.


Já nem sei quem é que está a falar (devo ser eu, convém que a última palavra seja minha). Adoro Corto Maltese. É aventureiro, inteligente, bonito, está sempre do lado certo da História, toma o partido dos indefesos e dos rebeldes. Adoro o traço firme, carregado, cinematográfico de Hugo Pratt.

Mas ainda bem que nunca me apaixonei por Corto Maltese.

3 comentários:

Cobertor disse...

"É precisamente por isso que gostaria de te encontrar em toda a parte." Sabendo que sabes com certeza de quem são as palavras da Balada do Mar Salgado. Aconselho vivamente Les Femmes de Corto Maltese, na edição da Casterman e apesar do meu mau francês. Bjs Teresa

L. disse...

Acordo estremunhado e pestanejo com força para me habituar à intensa luz. Estou num navio, já em alto mar. Olho em volta e ainda cego pelo Sol vejo Homens que se mexem desempenhando tarefas inatas. Tento compreender o que os marinheiros dizem entre cabos e nós, mas o linguajar anda algo entre o albanês e o persa antigo. É um navio grande com três mastros e pavilhão de cor indefinida. Com alguma dificuldade vou comunicando com o mestre do navio, e percebo que a rota é simples: o navio dirige-se sempre na direcção do Sol. Portanto, vai progredindo primeiro para Nascente, depois Sul, e finalmente Poente. Durante a noite não se move. Pelo menos, é o que me parece. Que lugar exótico estará do outro lado da viagem? Que frutos sumarentos? Curiosamente, aceito em paz tudo isto, nada estranho, e acende-se em mim uma gigante curiosidade.

Anónimo disse...

Podemos dizer que me identifico assim digamos que imenso com este post.
E assim numa nota para a posteridade, devo dizer que a palavra de verificação que me calhou para publicar este comentário é «listrar». Pormenor absolutamente dispensável, eu sei, mas como sabe tão melhor que escrever «sdgojpdfgh» ou «klkle7ydn», que é o que me calha sempre, tive mesmo que partilhar.
E já agora aproveito também para dizer que acho que a criação do Rua da abadia foi uma coisa muito bem feita. Já era muito bem merecido um blogue em nome próprio.