A morte que eu acho mais espectacular é a do Hegel. Não devido ao facto de ter morrido, mas sim devido à forma como morreu. Reza a história que, no leito da morte, alguém terá informado Hegel de que, pelos vistos, a realidade não era bem, bem como ele a tinha descrito e pensado. A isto, replica Hegel: «pior para a realidade».
Quanto a mim, não há nada que supere uma frase destas no leito da morte (e, pensando bem, fora dele muito provavelmente também não).
Uma professora minha, muito dada a sentenças pouco interessantes, informou a turma inteira da sua opinião relativamente à morte de William Blake, dizendo que não concebia melhor maneira de morrer do que estar na cama a trabalhar e de repente fechar os olhos (pelos vistos, foi assim que Blake morreu, segundo a tal professora). Provavelmente, “trabalhar” quereria dizer, no vocabulário muito pouco imaginativo e definitivamente pouco sonhador desta professora, “fazer poemas e desenhar”, que era o que Blake fazia ao produzir os seus belíssimos livros iluminados. Blake morreu a criar, diria eu, não propriamente a “trabalhar”, mas enfim, há que ser solidário para com as limitações semânticas das pessoas. Se é verdade que vislumbro algum encanto nesta morte, continuo a afirmar que não supera a morte de Hegel. A morte de Hegel consegue ser muito melhor, porque fundamentalmente este filósofo disse à realidade que não queria saber dela para nada e que o seu sistema filosófico, a sua criação intelectual sólida, circular e inexpugnável, era superior e autónoma. Há que admirar a confiança demonstrada por Hegel na sua própria criação intelectual. Eu, pelo menos, admiro, porque se é certo que a última palavra foi da realidade (afinal de contas, Hegel acabou mesmo por morrer), o Hegel, pelo menos, não se curvou sob o peso terrível das coisas que não podemos mudar.
Quando crescer, quero morrer como o Hegel.
Quanto a mim, não há nada que supere uma frase destas no leito da morte (e, pensando bem, fora dele muito provavelmente também não).
Uma professora minha, muito dada a sentenças pouco interessantes, informou a turma inteira da sua opinião relativamente à morte de William Blake, dizendo que não concebia melhor maneira de morrer do que estar na cama a trabalhar e de repente fechar os olhos (pelos vistos, foi assim que Blake morreu, segundo a tal professora). Provavelmente, “trabalhar” quereria dizer, no vocabulário muito pouco imaginativo e definitivamente pouco sonhador desta professora, “fazer poemas e desenhar”, que era o que Blake fazia ao produzir os seus belíssimos livros iluminados. Blake morreu a criar, diria eu, não propriamente a “trabalhar”, mas enfim, há que ser solidário para com as limitações semânticas das pessoas. Se é verdade que vislumbro algum encanto nesta morte, continuo a afirmar que não supera a morte de Hegel. A morte de Hegel consegue ser muito melhor, porque fundamentalmente este filósofo disse à realidade que não queria saber dela para nada e que o seu sistema filosófico, a sua criação intelectual sólida, circular e inexpugnável, era superior e autónoma. Há que admirar a confiança demonstrada por Hegel na sua própria criação intelectual. Eu, pelo menos, admiro, porque se é certo que a última palavra foi da realidade (afinal de contas, Hegel acabou mesmo por morrer), o Hegel, pelo menos, não se curvou sob o peso terrível das coisas que não podemos mudar.
Quando crescer, quero morrer como o Hegel.
1 comentário:
Não te proíbo de crescer, mas estás proibidíssima de morrer! E tens de me obedecer, porque sou tua tia! Que, quando tal acontecer, eu não esteja cá para ver!
Tenho dito!
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