domingo, 16 de novembro de 2008

Seguindo esta sugestão, e ainda bem que o fiz, tive oportunidade de assistir a uma apresentação muito interessante de Patrícia Portela acerca dos seus dois livros e da forma como os livros também podem pertencer ao campo das artes perfomativas.
A "Odília ou a história das musas confusas do cérebro" interessou-me particularmente e vai ser uma das minhas leituras em breve. Trata de uma musa confusa, a tentar perceber o que fazer à vida e como inspirar os poetas. Patrícia Portela disse que o que a levou a escrever este livro foi a questão das "ideias". Como é que temos uma ideia? Como é que elas surgem? De manhã acordamos a pensar de uma forma, e à noite as coisas já são completamente diferentes porque tivemos uma ideia, ou mais do que uma, que de repente surgiu assim, do nada, talvez. O trabalho das musas concentra-se precisamente nos ecassos momentos antes de a ideia nos surgir, naquele fugaz intervalo de tempo em que não temos ainda a ideia e em que esta finalmente nos aparece no cérebro, um pouco como nos jogos de futebol:
"Para sermos mais precisos, ainda não estamos, mas estamos quase a estar. O que está para acontecer já aconteceu, mas como chegámos antes, tudo o que podemos fazer agora é esperar que aconteça.
Isto é, estamos num tempo com dois tempos, assim como,
como no futebol,

no futebol em directo, estamos à frente da televisão, e ouvimos: goooooooooooooooooolo! [uma página inteira com a palavra "golo" - este livro é mesmo giro]

Neste tempo entre dois tempos, as horas param.

Só as palavras se mexem.

E já me podem ler mas não me podiam ler ainda,

percebem?"

Também entra aqui Penélope, amiga de Odília, que decide escrever ao demorado Ulisses:

"Querido Ulisses,
Escrevo-te esta carta mas não quero que me respondas.
Volta.
Penélope"
Parece-me uma excelente carta para enviar a alguém como Ulisses.


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